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Carol Govari Nunes@carolgnunes

O último final de semana foi agitado por dois shows de rock em Frederico Westphalen. Aconteceu na Ecco Eventos o Green Festival, que trouxe duas conhecidas bandas gaúchas: Tequila Baby e Bidê ou Balde.

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Divulgando seu último disco, a Bidê ou Balde passou por Frederico Westphalen no último sábado, 15 (Foto: Carol Govari Nunes)

Freguês da cidade, esse é o terceiro ano consecutivo que a Bidê ou Balde vem se apresentar em Frederico. Por volta das 2h20min do último sábado, 15 (madrugada de domingo), a banda chegou à Ecco Eventos e logo depois iniciou o show que durou mais ou menos uma hora e meia. Antes do show, Carlinhos Carneiro conversou com o The Backstage e contou que a divulgação do novo disco está melhor do que se esperava. Por enquanto, a banda está divulgando o CD intitulado “Eles são assim. E assim por diante” apenas no Rio Grande do Sul, mas em janeiro de 2013 eles já partem para São Paulo fazendo shows com o repertório mais voltado para o novo disco – até o momento, eles ainda intercalam sucessos como “Bromélias”, “Microondas” e “Mesmo que mude” (que ganhou um bônus track lindo no novo disco #ficaadica), além de músicas do EP lançado em 2010.

A parte audiovisual da banda também está a todo vapor: eles estão com o clipe de “Lucinha” quase pronto e no início do próximo ano eles já começam a gravar o clipe de “+Q1 Amigo”. A ideia é emendar outros vários clipes na sequência, mostrando que o quarto disco da banda veio com tudo.

Carlinhos contou que a gravação do “Eles são assim. E assim por diante”, a qual durou mais ou menos um ano e meio, foi bem bizarra: eles gravavam estrofes soltas, refrão por refrão, tudo separado. Desde 2010, a banda gravou umas 24 músicas inéditas e ainda será lançado mais um EP. É a Trilogia BidêouBaldilística: um EP, um CD e outro EP.

De volta à rotina independente, o disco foi produzido pela banda e por Gilberto Ribeiro Junior.

– Trabalhamos muito nesse disco, então valia mais a pena divulgarmos sozinhos. Ficamos um tempo com o Lelê, mas não estava sendo proveitoso nem pra gente, nem pra ele, afirmou o charmoso vocalista.

Outra novidade é que ano que vem um tecladista acompanhará a Bidê ou Balde na turnê do novo disco: Leonardo Bofe entra para a trupe e embeleza ainda mais a presença de palco que observamos no último sábado.

Pra quem ainda não comprou, “Eles são Assim. E assim por diante” está à venda no site da banda. De quebra, sua compra ainda vem com foto autografada, adesivos e você concorre a otras cositas más, ou seja, é uma edição super especial.

Se o mundo não acabar dia 21, esperamos que ano que vem a Bidê ou Balde volte com o show completo do seu novo disco, porque o mundo seguirá assim, e assim por diante.

Outro vídeo do show (+Q1 Amigo) você assiste clicando aqui.
Mais fotos você encontra na fanpage do The Backstage Blog.

Natalia Nissen@_natiiiii

Chico Buarque dispensa apresentações, até quem não gosta sabe que o cara é bom no que faz. Pelo menos eu acho… porque ninguém lança dezenas de discos de brincadeira. E daí que eu achei uns vídeos dele que fazem a gente pensar em um monte de coisas. De cara achei que aquilo era muito fora da casinha e depois tentei entender a mensagem. Se não quiser pensar, vale só pra dar umas risadas da falta de jeito e espontaneidade dele falando de internet.

Esse vídeo aí me fez pensar no The Backstage, a ideia é manter o leitor interessado, mas nem sempre dá pra vir aqui e fazer um post por dia. Somos duas pessoas produzindo conteúdo, não queremos ficar só copiando e colando as notícias que saem em todos os sites. Então, acontece de ficarmos algum tempo sem atualizar o blog, mas fazemos o possível para que cada atualização seja interessante e faça o leitor ficar com vontade de acessar o The Backstage outra vez. E essa “política” tem funcionado bem.

O outro vídeo é interessante porque fala um pouco (bem pouco) sobre os artistas e os comentários na internet. Só aqui no blog a gente já viu muita coisa, nem sempre é legal ver o pessoal esculachando seu artista preferido, mas acontece. O tempo faz as pessoas se acostumarem, né? O jeito é ter bom-humor para lidar com toda essa história.

Carol Govari Nunes – @carolgnunes

Foto: Carol Govari Nunes

Quando eu fui selecionada para o intercambio a primeira coisa que veio na minha cabeca foi a possibilidade de ver um show da Imelda May. Logo comecei a cuidar a agenda dela e procurar passagens. O primeiro show que pensei em ir foi em Paris, mas ainda nao tinha o meu cartao de residencia. Ok, passa. Depois resolvi esperar para fevereiro ou marco, que eh quando meu namorado vem pra ca, mas a agenda da cantora pulou de dezembro para maio. Entao minha unica oportunidade seria quando ela estivesse tocando em Dublin, dia 16 ou 17 de dezembro. Ingresso caro, lugar muito grande e uma semana a mais de hostel, entao como eu ia estar em Dublin quando ela estaria fazendo shows na Irlanda, resolvi ir pra outra cidade. Atravessei a Irlanda e fui parar em Killarney no dia 22 de dezembro: Bingo. Acertei em cheio.

Show em hotel, publico perto do palco, cidade pequena. Fiz reserva em um hostel onde eu era a unica hospedada. Na verdade, parecia que eu era uma das unicas estrangeiras naquela cidade de 14 mil habitantes. Sotaque do interior, eu brigando com o dito sotaque e morrendo de curiosidade pro show. O pessoal daqui eh bem diferente. O inverno na Irlanda eh complicado. Amanhece as 9 da manha e anoitece as 16h (pelo menos nos dias em que estive no pais). Nao me aguentei e fui as 17h pro hotel, ou seja, 2 horas antes de o teatro abrir. Lógico que me perdi no caminho e cheguei la umas 18h15min. O show estava marcado pras 20h30min. Cheguei la, conheci o hotel e fiquei passeando, ate que vejo a Imelda May vindo na direcao do teatro. Pensei sem pensar e a chamei. Me apresentei, disse que eu era do Brasil e que gostava muito dela. Tiramos uma foto e ela entrou. Foi tudo muito rápido.

Pouco tempo depois o teatro abriu e o púbico comecou a entrar. Fiquei perto do palco e de repente um homem (o que tirou nossa foto) veio falar comigo, perguntando se eu era mesmo do Brasil. Eu falei que sim e ele disse algo que não entendi muito bem, mas terminou com um “15 minutes after the show”. Ok.

Foto: Carol Govari Nunes

O show comecou e foi a coisa mais linda que eu ja vi na minha vida. A Imelda tem um dominio absurdo de palco e envolve o publico completamente. Durante todo o show ela conversou com a plateia, agradeceu quem montou o palco, brincou, contou historias, explicou musicas novas e fazia todos ficarem em total silencio para ouvi-la. Darrel Higham, guitarrista e marido de Imelda, eh um show a parte (ja ouviu Darrel Higham and the Enforcers? Ouça tudo dele o que cair em suas maos, por favor). Com sua gretch laranja, ele tocou e cantou junto com a esposa “Temptation”, dos Everly Brothers. Sem firula, guitarra cheiona, crua, rockabilly pra dancar. Dave Priseman, Steve Rushton e Al Gare tambem sao extremamente talentosos e carismaticos, arrasando em seus respectivos instrumentos.

Intercalando cancoes do Love Tattoo, Mayhem e More Mayhem, a banda tocou nada menos que 28 musicas. O bis foi todo natalino, incluindo “Christmas (Baby Please Come Home)”, pra morrer um pouquinho mais. A primeira musica foi apenas com Imelda e Al Gare sentados no rabeco, ele tocando ukulele e ela cantando. Depois a banda entrou, eles tocaram mais duas musicas e o show chegou ao final.

Entao o show acabou e eu fiquei por la, ja que aquele cara tinha dito algo sobre “after the show”. Eu ja estava quase indo embora quando um outro cara veio e fez praticamente a mesma pergunta: “are you the girl from Brazil?” – “yes” – “so come here with me”. Vou, desco uma escada e chego no corredor dos camarins. Neste instante a Imelda estava conversando com um pessoal da California que tambem tinha viajado para ver o show. Passou por mim, olhou no fundo nos meus olhos, segurou nas minhas maos e disse: “YOU! I’LL BE BACK FOR YOU” (isso deve ter durado 2 segundos, mas, por favor, entre no clima romantico da minha narracao/imaginacao). Quando a galera da California foi embora ela veio neste corredor me buscar e fomos para o camarim.

Foto: Carol Govari Nunes

A essas alturas ela ja sabia meu nome, pois o produtor dela, com quem eu havia conversado, ja havia dito. Sentamos, ela perguntou como eu tinha ido parar na Irlanda e como conhecia ela no Brasil. Contei que meu namorado comprou o Love Tattoo em 2009 e foi amor a primeira audicao. Continuamos falando sobre qualquer coisa semelhante a isso e que meu ingles permitisse. A Imelda eh aquele tipo de pessoa que fala te tocando (bem friendly, como aquelas pessoas que tu encontra nos pubs em Dublin querendo brindar com uma guinness). Receptiva, espontanea e muito curiosa (ainda querendo entender como ela tinha fas no Brasil), disse que a unica palavra que sabia em portugues era “obligado”. Sim, com L. Foi tudo muito divertido. Muitas das frases que eu comecava ela terminava, tentando me dar uma mao no ingles. Acabou que eu nao fiquei nervosa em nenhum momento, pois ela foi tao carinhosa que nao tinha como nao ficar a vontade. No camarim ela continuou sorridente e charmosa, tanto como no palco, mas parece que quando ela tirou o salto alto e o vestido, colocou uma babylook e uma calça jeans ficou mais humana, if you know what I mean. No palco era assustador. Logico que isso pode ser coisa da minha cabeca e ela eh soh mais uma cantora de rockabilly, mas era desconcertante encarar aquele mulherao cantando. E ela olha muito nos olhos das pessoas. Eu não conseguia, confesso, sempre que os olhos dela voltavam para mim eu derretia e desviava. E no camarim era mais acolhedor, longe da persona cantora-fodona-no-palco.

Chegou a hora de ir embora, tiramos outra foto e agradeci muito ao produtor dela e ja nem sabia mais o que falar. Ela extremamente querida e eu mais encantada. Fui completamente rendida no Love Tattoo. Conto nos dedos de uma mao os artistas que fazem isso comigo, e a Imelda eh daqueles que eu ainda nao encontrei uma explicacao plausivel pra tamanha gana que ela me causa. Eu sou muito chata, ou morro de amores por uma banda ou to me lixando pra ela. Nunca soube gostar um bocadinho, como dizem os portugueses. Sem falso nacionalismo, dizer que eu era do Brasil nunca foi tao bem dito. Nao acredito em sonho e fico um bocadinho irritada quando falam em realizacao de um sonho. Eu nunca “sonhei” nada disso. Acredito em oportunidade (poder viajar), persistencia (nem a pau eu nao ia pra Irlanda) e sorte. E, porra, eu tenho sido sortuda pra caralho.

Desculpem a falta de acentuacao, mas estou sem notebook e na Belgica, ou seja, sofrendo com um teclado frances. Ia esperar ate voltar pra Faro pra escrever, mas nao me aguentei. Quando eu voltar posto todas as fotos e videos no nosso Youtube e Flickr.

Bruna Molena@moleeena

Como vocês já devem ter visto por aqui, sexta-feira, 08/04, foi comemorado o quarto aniversário do Vinil Rock Café, com um tributo aos clássicos do rock no Clube Harmonia, e a equipe do The Backstage esteve lá para conferir tudo o que rolou. A princípio o clube estava meio vazio, até pensamos até que não ia dar em nada… ledo engano! Aos poucos o pessoal foi chegando, se aglomerando em frente ao palco, pronto pra curtir o melhor do rock. A casa não estava cheia, mas quem compareceu fez valer o ingresso: cantavam, pulavam e batiam cabelo como qualquer fã de rock que se preze faria.

A banda frederiquense The Elizabeth's abre a noite de shows, com cover de bandas punk como The Clash, Ramones e Sex Pistols (Foto: Josefina Toniolo)

A noite começou com a apresentação da única banda local do evento: The Elizabeth’s (já leu sobre o ensaio deles?). E, por ser sua primeira vez, mandou muito bem. Dava pra sentir a energia dos integrantes saindo dos instrumentos e atingindo o público na cara: ninguém ficava parado! O punk rock contagiou a todos, até que alguém grita “roda punk!” e salve-se quem puder. Eles se apresentaram por cerca de meia hora, com um repertório já definido, porém não resistiram ao coro de “mais um” e nos presentearam com a ótima “Should I Stay Or Should I Go”, da britânica The Clash.

Entre uma apresentação e outra, fomos no camarim ver o que estava acontecendo por lá. Os guris da The Elizabeth’s tinham acabado de chegar, extasiados após sua primeira performance ao vivo. Os integrantes da Back Doors Band, última banda a se apresentar, também estavam por lá, relaxando e se concentrando para quando fosse sua vez de subir no palco. Conversamos com alguns deles, todos pela primeira vez em Frederico Westphalen, e afirmaram estar ansiosos para tocar e muito satisfeitos com a energia que viram o público transmitir.

O baixista Fernando Ferreira e o guitarrista Marcos Buschmann (Foto: Bruna Molena)

Logo após foi a vez da banda catarinense, de Joinville, Sexy Pearl e, para quem tinha recém enfrentado 12h de estrada, eles estavam muito bem, obrigado. Com um repertório forte e recheado de clássicos, eles praticamente botaram a casa abaixo. Também tocaram composições próprias, como “Ela Está em Chamas” e “Meu Ouro, Seu Medo” que, mesmo desconhecidas para o público local, fizeram todos sair do chão. A iluminação do palco contribuiu bastante para o efeito dramático de algumas músicas, era tudo muito envolvente. A performance do vocalista Dinho é contagiante e sua voz casa perfeitamente com músicas legendárias, como “Man in The Box”, “Paradise City” e “Hound Dog”. O show estava tão quente que o baterista, Juliano, e o guitarrista, Marcos, não se aguentaram e tiraram as camisetas, incendiando a mulherada! Mas não era para menos, quando o Marcos e o Fernando, no baixo, vinham solar na frente do palco, não havia nem homem que se controlava, o hard rock da Sexy Pearl envolvia todo mundo. A melhor apresentação da noite, na opinião dessa humilde repórter que vos fala, pois o set list abrangia diversas facetas diferentes do rock que eles conseguiram harmonizar tudo em um conjunto só, encaixando-se no estilo deles e assim tornando única cada versão.

Depois do show, acompanhamos a Sexy Pearl até o camarim a fim de conversamos sobre a história da banda e a relação deles com a música. O vocalista Dinho passou a palavra para Marcos que, sendo o fundador da banda, saberia explicar melhor o começo de tudo. Ele nos conta que a Sexy Pearl nasceu em 2005 e que sua ideia era de alcançar um lugar de destaque tocando rock’n’roll, mas com composições próprias. A proposta não convenceu os integrantes que acabaram deixando a banda, dando espaço para os músicos que a compõe atualmente: o vocalista Dinho, o baterista Juliano Stumm e o baixista Fernando Ferreira, além do próprio Marcos. A partir de então eles começaram a investir em composições e em 2008 gravaram seu primeiro EP em um estúdio em Joinville. Após participar do 9° Festival Coletânea de Bandas, do qual saiu vencedora da etapa Sul, a banda se apresentou no Hard Rock Café Rio, onde foi gravado o DVD do Festival.

Sexy Pearl durante a conversa no camarim (Foto: Bruna Molena)

Dinho admite que, para ele, tudo começou com o sonho de ser rockstar. Ele já tocava antes, porém na Sexy Pearl todos evoluíram muito como músicos. O cover foi só uma maneira de conseguir um espaço no cenário musical, porque o interesse deles realmente é tocar suas próprias músicas, tanto que já estão gravando um disco.

Quando tocamos no assunto do lado negro do rock’n’roll – o lucro, Dinho desabafa: “O pessoal acaba abandonando o rock’n’roll por não ter retorno financeiro imediato, é como uma faculdade, tu gasta muito, mas depois tem a recompensa, é um investimento”. Mas garante que não há dinheiro que pague tocar uma música e ver a galera pulando.

Sobre o show daquela noite, disseram que vai ficar marcado, porque era um lugar pequeno, não tão cheio, mas quem estava ali era porque curtia. Segundo eles, os shows no interior sempre surpreendem de um modo positivo, já que nas capitais o público costuma ser mais frio. Respondendo à clássica pergunta “o que vocês acharam de tocar aqui?”, Dinho é enfático: “animal, a gente quer voltar quando vezes puder”.

Saindo do backstage e voltando à frente do palco, era a vez da porto-alegrense Back Doors Band se apresentar. A incrível semelhança do vocalista, Piá de Lucce, com Jim Morrison só contribuiu para fazer o publico se sentir realmente em um show do The Doors. Ricardo Farfisa mandava muito bem no teclado, que substituía o baixo também, enquanto Geovane Benedet comandava a bateria e Ellias Pedra ficava na guitarra. Mesmo nunca tendo visto um show do The Doors ao vivo, garantimos que o show vale muito à pena, eles incorporam as músicas e as executam com maestria. Um cover excelente que recomendamos, nem que seja só para conferir performance perfeita do vocalista.  O estudante Diesmen Luís, 22 anos, diz que não esperava que a noite fosse tão boa: “fui preparado pra sair fazendo críticas negativas sobre o show dos caras. Raramente saio aqui em Frederico, os shows quase nunca me despertam vontade, mas eu sabia que ia encontrar amigos lá e resolvi ir. Mordi a língua! Os caras são uma banda cover decente, cumprem direitinho o papel de banda cover. A calça de couro estava lá, a psicodelia estava lá”.

Giovane, Piá e Ricardo, da Back Doors Band, no camarim enquanto aguardam sua vez de tocar (Foto: Bruna Molena)

Sobre a festa como um todo, ele acrescenta que curtiu tudo: “não teve briga, não teve poser bêbado enchendo os caras pra tocar Raul. Gosto quando o show começa tarde e acaba tarde, é assim que um show de rock deve ser, pelo menos pra mim”. Ele ainda finaliza com um pedido: “que venham mais shows assim para essas bandas”.

No final da noite, latas vazias e corpos cansados compunham o cenário do clube quase vazio, porém a satisfação era visível. As luzes foram acessas, o lixo estava sendo recolhido e, mesmo assim, as pessoas insistiam em ficar, em beber mais uma cerveja, conversar mais um pouco, talvez para que aquele momento não acabasse. O que prometia ser uma noite de clássicos foi além do combinado e acabou se tornando clássica, uma festa memorável que vai deixar saudades.

Veja todos as fotos da cobertura do The Backstage em nossa página no Flickr.

Bruna Molena – @moleeena

Se essa semana alguém me procurar / E eu não estiver e eu não voltar / Eu fui viajar, fui pra Guarulhos / Em uma turnê com ônibus leito / E duas tv, carro importado / Hotel cinco estrelas, fiz por merecer / Cem toalhas brancas e dez pau de cachêTurnê para Guarulhos – Vera Loca (Mumu/Hernán González)

Elenco do filme Quase Famosos (Foto: divulgação)

Como vocês já devem saber, a proposta deste blog é falar sobre o universo da música, desde quem a faz até quem a escuta. Porém, entre estas duas pontas, existe o processo de produção, no qual há muita gente envolvida que acaba não sendo conhecida, fica só no backstage, entre eles: produtores, roadies e jornalistas, que muitas vezes são também fãs realizando o sonho de conhecer seus ídolos.  São esses profissionais que fazem o que podem para realizar, da melhor maneira possível, o momento único entre banda e fãs: o show.  Só quem faz, vê ou está por trás de um show sabe qual é a emoção que ele transmite e, para conhecermos um pouco mais sobre a vida nos bastidores, ao longo desta matéria conversamos com músico e empresário Eigon Pirolo, que nos conta sobre sua experiência atrás dos palcos, na organização e direção de shows.

Pois quem nunca teve vontade de largar tudo e todos e se agregar a uma banda, saindo mundo afora em uma turnê? Esquecer do mundo real, só viver a base de rock’n’roll e tudo que ele lhe permite? Pode ser a trabalho ou só tietando mesmo… são infinitas as oportunidades de realizar o sonho de conhecer de perto e acompanhar os ídolos. O longa-metragem “Quase Famosos” (Almost Famous), situado na década de 70 e inspirado na vida do diretor Cameron Crowe, conta a história de um garoto de 15 anos, aspirante a jornalista e apaixonado por rock, que é convidado pela Rolling Stone para acompanhar a turnê de uma de suas bandas favoritas. O trabalho, que mais parecia diversão, acaba se complicando quando ele se envolve emocionalmente com a banda (e especialmente com uma de suas “groupies”) e ameaça deixar de lado sua esperada imparcialidade jornalística.

Falando nelas, quem melhor do que as groupies para representar o sonho de viver ao lado de sua banda favorita? Traduzindo a grosso modo, as Marias-guitarra (ou baqueta, microfone e demais instrumentos) são fãs incondicionais que acompanham sua banda favorita onde quer que seja. Em Quase Famosos, Penny Lane, uma das personagens principais, não se define como groupie, pois estas só se interessam pelos homens, não pela música. Ela é uma “band-aid”, em suas palavras:  “nós estamos aqui pela música. Nós inspiramos a música”.

Não importa qual for a definição, muitas garotas e garotos, de diversas gerações, já desejaram viver somente em função da música e de seus ídolos. Mas e quando o desejo de fã se transforma em profissão? O curitibano Eigon Pirolo é um dos que trabalham e vivem em função da música. Desde pequeno já preferia Raul Seixas à Xuxa e acredita que o rock foi simplesmente o caminho natural que sua vida tinha que seguir. Começou em uma banda punk local chamada ORCS, com a qual tocou em alguns festivais no Rio e em São Paulo, mas a coisa ficou séria quando entrou para a We Are Just, em 2003.

O músico e empresário Eigon Pirolo, nos bastidores de um show produzido por sua empresa (Foto: arquivo pessoal)

“Fizemos duas tours de médio porte e a vontade de viver do rock enraizou totalmente. Acredite, se você tem a oportunidade de fazer um tour com banda nunca mais nenhum trabalho vai ser interessante na sua vida, cada dia uma cidade diferente, conhecendo pessoas novas e vivenciando experiências intensas, não tem igual”.

Porém, como nem só de rock vive o homem, o guitarrista, que já não ganhava muito como tal, resolveu fazer um curso básico de áudio profissional e a partir desse momento decidiu trabalhar na área técnica. Em 2009 ele fundou a Eigon Rock Backline Rentals, uma empresa especializada em locação de backline (amplificadores de guitarra, baixo e bateria). O cara continua fazendo música, só que por detrás dos palcos agora, e já trabalhou com grandes nomes do rock, como Bad Religion, Nazareth, Goldfinger e Millecolin. O The Backstage conversou com ele sobre como é trabalhar com e viver o rock’n’roll, o espaço que o gênero tem em Curitiba e algumas peculiaridades de sua profissão:

The Backstage: Da onde surgiu a idéia de entrar no ramo dos “serviços prestados à música”? Não é qualquer um que de um dia para o outro acorda com vontade de ter empresa de locação de backline para shows e serviços de roadie…

Eigon Pirolo: Em 2004, trabalhando somente como guitarrista não estava dando conta de suprir as necessidades básicas então resolvi iniciar meus estudos em áudio profissional fazendo um curso básico de 40 horas. A partir desse momento eu decidi trabalhar na área técnica, foi um processo longo e muito exaustivo, lembro de ficar uns três anos

Logomarca - Eigon Rock Backline Rentals

ganhando R$ 50,00 por show mas sabia que era um período necessário. Eu exerço a função de guitartech (técnico de guitarra) e basstech (técnico de baixo). Vivenciando essa rotina de shows e tendo que trabalhar muitas vezes com equipamentos sucateados surgiu a idéia de montar uma empresa especializada em locação de backline (amplificadores de guitarra, baixo e bateria) com a preocupação e zelo que só um músico teria. Com essa “missão” em mente, em 2009 fundei a Eigon Rock Backline Rentals, desde então já atendi as seguintes bandas: A Wilhelm Scream (USA), Anti-Flag (USA), Bad Religion (USA), Death Angel (USA), Eluveitie (CH), Nazareth (UK), Epica (NL), Fish Bone (USA), Goldfinger (USA), Millencolin (SE), No Fun At All (SE), Pennywise (USA), Petra (USA), Real Big Fish (USA), This Is A Standoff (CAN), Marcelo D2, Raimundos e Seu Jorge.

TB: E trabalhar ali, do lado de grandes bandas como Nazareth, Bad Religion, Goldfinger, acompanhar os shows praticamente em cima do palco, como é? O profissionalismo comanda ou o lado fã pode ter um espaçozinho?

EP: A emoção é grande, eu particularmente disfarço muito bem (risos), mas realmente é emocionante ver as bandas que eu cresci escutando ali na minha frente e ainda contando comigo desempenhando uma função técnica.  O lado fã nessa hora é o combustível para me esforçar em fazer o melhor trabalho possível com a banda, respeitando a sua história e ciente que ela um dia foi importante para minha formação musical e pessoal.

TB: Morando em uma capital dita tão alternativa como Curitiba, o espaço do rock é bem garantido, vendo a situação como músico?

EP: Garantido financeiramente não é! Existem muitos lugares para tocar rock’n’roll, a cidade é inspiradora e as pessoas são antenadas em som alternativo, se você procura uma cidade que respira rock alternativo é aqui em Curitiba. Em respeito ao mercado, acredito que o Brasil esteja vivendo um período negro, tem pouco rock de qualidade na mídia, tem muita banda sendo lançada com prazo de validade vencido que são literalmente enfiadas goela abaixo no consumidor. A única válvula de escape continua sendo a internet, se você se dispuser a ficar uma hora por dia na frente do PC procurando bandas novas vai acabar encontrando muita coisa legal. Ah, vale como terapia também!

Eigon faz os ajustes finais antes do show da Leeloo (Foto: Vitor Augusto)

TB: As groupies são comentadas na matéria também como pessoas que vivem em função da música, pois estão sempre atrás de seus ídolos. Mas aí tu, trabalhando como profissional junto com a banda, o que pensa sobre elas? Elas chegam a atrapalhar na organização do show, causar muito fuzuê e irritar a direção de palco?

EP: ELAS SEMPRE ATRAPALHAM E MUITO!!  Já aconteceram “n” situações de groupies fazendo de tudo para ter acesso aos músicos. Em SP uma vez na saída do show todos já estavam dentro da van para seguir viagem quando três meninas abriram a porta, pularam literalmente dentro da van, escolheram os músicos preferidos e trocaram beijos calorosos por uns cinco minutos sem desgrudar, após o beijo deram tchau e na mesma velocidade que chegaram foram embora, todo mundo ficou pasmo, inclusive os músicos, foi o tema da conversa a viagem toda é claro. Em Curitiba no show de um rapper famoso eu estava na saída do palco orientando o carregamento do backline no caminhão quando duas meninas perguntaram se eu podia liberar elas para entrar no camarim do músico, eu disse que não tinha como fazer isso, estava trabalhando e também não tinha esse tipo de poder (roadie sempre tem esse poder, mas a gente diz que não para não ficarem atormentando). Quando comuniquei que não podia fazer isso ela ficou revoltada dizendo que há pouco tinha deixado um segurança ficar passando a mão nela por 20 minutos e em troca ele a levaria no camarim, mas ele tinha sumido sem dar explicação. Eu tive um mega ataque de riso quando ela me contou isso! Coisas do rock…

E a empreitada tem dado certo! No próximo mês a empresa do Eigon vai trabalhar nos shows de duas lendas do rock: Slash e Motörhead, ambos em Curitiba. Quando o questionei sobre como ele lidará com a emoção na hora, ele não poderia ter sido mais profissional:

“Acho que é a mesma coisa que fotografar mulheres nuas, é uma delícia, mas você não esta ali para desfrutar, tem que se concentrar no trabalho e procurar a excelência, mesmo sendo difícil”.

No site dele você tem acesso a todas informações referentes a seus serviços, vê fotos de shows e alguns vídeos sobre seu trabalho, como esse aqui, que mostra a ralação dos bastidores do show do Pennywise em Curitiba: