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Na próxima segunda-feira, dia 25, os amantes de MPB têm um encontro marcado com Arthur de Faria: o jornalista e compositor ministrará um curso sobre o assunto no espaço de experimentação cênica do GRUPOJOGO.

​Os encontros acontecerão nos dias 25, 26, 27 , 28 e 29  de julho (de segunda a sexta) e nos dias 01 e 02 de agosto (segunda e terça), sempre das 19 horas às 21 horas.

​O curso vai abordar os 100 anos iniciais da música popular brasileira, a partir de sua gênese, por volta de 1870 (com uma passada pela Modinha e o Lundu, que são manifestações anteriores) até os anos 1970. Serão estudados os maiores nomes de cada época, sejam compositores ou intérpretes (Chiquinha Gonzaga a Aldir Blanc, de Carmen Miranda a Elis Regina); a chegada e adaptação dos gêneros estrangeiros (polca, habanera, schottisch, bolero, jazz, rock, soul etc); o nascimento do maxixe, do samba em todas as suas variantes, a marcha, o baião, a bossa, a indefinível MPB.  

​Voltada para todos os públicos, o curso é promovido pelo GRUPOJOGO e objetiva uma compreensão histórica da formação musical brasileira. 

​As inscrições estão abertas e devem ser realizadas no Sympla (no site tu confere todas as condições de pagamento).

“O curso traz um amplo panorama da música popular brasileira, com muitas audições musicais e contextualizações históricas, para que todos consigam mapear e entender como se construiu a música brasileira.”

Arthur de Faria

Programa do curso

Aula 1 – As Origens da Música Popular Brasileira 
Aula 2 – A Época de Ouro (o samba moderno)
Aula 3 – Os Anos de Transição (baião e samba-canção)
Aula 4 – Bossa Nova
Aula 5 – MPB/Canção de Protesto/Samba-Jazz
Aula 6 – O Rock Brasileiro do Início ao Meio
Aula 7 – Tropicália / Os anos 1970

​Sobre o ministrante: clique aqui e saiba tudo o que eu já postei sobre o Arthur 🙂

Em parceria com a Arquipélago Editorial, o jornalista, músico, compositor, arranjador, escritor, instrumentista, radialista, incansável pesquisador & meu amigo Arthur de Faria, também conhecido como o autor do excelente livro Elis – uma biografia musical e já já autor da tese de doutorado Lupicínio – uma biografia musical, acaba de lançar uma campanha de financiamento coletivo no Catarse para publicar o primeiro volume de Porto Alegre – uma biografia musical.

Materialização do trabalho de uma vida de um autor que há décadas faz parte da cena cultural da cidade, o projeto é também um presente para Porto Alegre em seu aniversário de 250 anos. Nas páginas que o compõem, está o resultado de 32 anos de pesquisa do Arthur, que compartilha com a gente um amplo e aprofundado conhecimento sobre Porto Alegre, sua música e seus personagens. O livro – que é o primeiro volume de uma série que passa por todas as décadas da cidade –, já está escrito e eu tive a honra de ler algumas páginas (mais especificamente 12 arquivos, que começa contando a história da música lá em 1900). Atesto e dou fé que além da pesquisa minuciosa, Arthur escreve de uma forma leve e que te leva pra dentro do contexto da época.

Divulgação

Sobre o autor

Como comentado anteriormente, Arthur de Faria canta, dança, sapateia, toca, produz e escreve. Natural de Porto Alegre (14 de dezembro de 1968), é também mestre e quase doutor em Literatura Brasileira (UFRGS), com ênfase em canção, e já ministrou cursos sobre música popular brasileira no Brasil, Argentina e Uruguai. Trabalhou por 23 anos em rádio – e por 18 deles foi coapresentador do programa Cafezinho da Rádio Felusp, depois Pop-Rock FM e por fim Mix FM. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Radiodifusão, e atuou como jornalista na Zero Hora e na revista Veja, além de ser colaborador da revista Aplauso. Durante 20 anos liderou o Arthur de Faria & Seu Conjunto, com cinco discos lançados (um deles no Brasil e Argentina) e mais de uma centena de shows em 10 estados brasileiros, Argentina, Uruguai, Espanha, Áustria e República Tcheca. Produziu 27 discos, escreveu 35 trilhas para cinema e teatro, integra o Duo Deno, a Surdomundo Imposible Orchestra, o espetáculo Música de Cena e Música Menor – duo com o argentino Omar Giammarco. Além disso, publicou dezenas de ensaios, artigos, livros e fascículos sobre música popular.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Depois de 20 anos à frente do Arthur de Faria & Seu Conjunto (que encerrou atividades em 2015, mas está finalizando seu sexto e último disco), Arthur cercou-se de quatro jovens músicos da nova cena de rock (e outras coisas) de Porto Alegre. Quatro grandes instrumentistas, mas não só. Todos donos de estilos bastante pessoais, e com seus próprios projetos musicais.

Numa das guitarras, o prodigioso Erick Endres – que, do alto dos seus 19 anos, prepara já seu segundo disco, além de ser um dos cabeças do Endres Experience, banda-tributo a Jimi Hendrix. Erick é exatamente o perfil do guitar hero setentão, ainda que tenha nascido duas décadas depois.

Na outra, Lorenzo Flach, que também tem seu trabalho solo – além de tocar na banda de Ian Ramil e na OCLA – e é um grande buscador de texturas e sonoridades diferentes no seu instrumento.

No baixo, o suingadíssimo Bruno Vargas, da Quarto Sensorial, uma  das bandas mais interessantes da fervilhante jovem cena da música instrumental da cidade. Bruno também toca com um bocado de gente, de Carmen Corrêa a Marcelo Delacroix.

KAOS4

Foto: Victoria Venturella

Na bateria, o personal japa Lucas Kinoshita, da Trem Imperial e com vastos serviços prestados a dezenas de artistas. Além disso, na sua geração, é talvez o cara que melhor conheça – porque estuda a sério a coisa – os ritmos do cone sul, como a encrenca que é o candombe uruguaio.

Uma formação de banda de rock – voz, duas guitarras, baixo e bateria – para tocar milongas, candombes, xotes… o repertório composto por Arthur nos últimos 25 anos, escolhido entre o material de seus oito discos e infinitos projetos paralelos. Tudo num clima de Jam Band, com um pé na psicodelia.

Sim. Depois de velho, o careca deu pra isso…

O show de estreia desse kaos todo rola na próxima quinta-feira, 26, no Ocidente Acústico, que acontece no Bar Ocidente (João Telles esq. Osvaldo Aranha). O show começa às 23h, mas a casa abre às 21h.  Os ingressos custam  25 pila. Outras informações: www.barocidente.com.br

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Foi em cima da hora que eu resolvi ir: estava enfurnada na dissertação, até pensei em não ir, já que fui ao “Nico Tributo”, que rolou ano passado, e me arrependeria profundamente se tivesse ficado em casa.

Desgrazzia ma non troppo: Trupe do Teatro Esperança em “Nico, a grande atração” é bem diferente do “Nico Tributo”. Se você está pensando em não ir porque também foi ao Tributo, digo uma coisa: corre comprar o ingresso. O espetáculo rola até domingo no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

“Nico Tributo” foi isso: um tributo. Um tributo extraordinário, que eu acabei indo no primeiro dia, fiquei enlouquecida e fui também no último dia. Já “Nico, a grande atração”, é um musical: um espetáculo teatral, divertido e emocionante, encenado pela talentosa Trupe do Teatro Esperança.

Com direção cênica de Márcia do Canto e direção geral de Fernando Pezão, a Trupe do Teatro Esperança revisita os maiores sucessos da brilhante carreira de Nico Nicolaiewsky. O roteiro fica por conta de Cláudio Levitan.

A baita trupe, que é composta por Fernanda Takai (Coqlicot), Pedro Verissimo (Poeta), Nina Nicolaieswky (Jolimarrí), Márcia do Canto (Madame Mô), Cláudio Levitan (Ubaldin), Fernando Pezão (Mago Yakzura), Fernando Corona (Mastrodin), Diego Silveira (Hodin), Luciano Albo (Broncodin) e Bruno Mad (Dôdin), faz uma festa cheia de aventuras e peripécias na cidade Desengano.

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Trupe do Teatro Esperança ao lado de Hique Gomez (Kraunus Sang) e Arthur de Faria (Foto: Carol G. Nunes)

Assistindo ao espetáculo, lembrei de um trecho do livro “A garota da banda”, da Kim Gordom, onde ela fala de um período em que estava em Berlim e se deparou com uma daquelas palavras grandes e cheias de significados dentro delas: Maskenfreiheit. Significa “A liberdade concedida pelas máscaras”. A Trupe do Teatro Esperança traz isso – em meio à poesia, ótima maquiagem, figurino impecável, cenografia e luzes de feitas para a ocasião, sentimos a liberdade que emana do palco e contagia o ambiente. Todos ali, sob suas máscaras, estão livres, encenando as músicas do Nico. Arte é um troço magnífico, não?

Eu, que me preparei psicologicamente pra não chorar – afinal, já havia chorado o suficiente no “Nico Tributo” –, perdi de novo pra emoção. Preciso assumir que me tornei aquelas pessoas que choram mais em shows do que em outras ocasiões, não tem jeito. Primeiro, com “A vida é confusão” (não dá, não consigo, não sei lidar) e depois quando Kraunus Sang entrou correndo no palco, para o bis. Kraunus e Arthur de Faria apareceram para tocar “Só cai quem voa” e “Reunidos por uma noite”. Sensacional. A participação de Kraunus e Arthur no final foi pra fechar a noite com chave de ouro.

Ponto alto para o peso da guitarra de Bruno Mad; Fernanda Takai cantando “Ana Cristina” em japonês é im-per-dí-vel (além de sempre emocionar com “Onde está o amor?”, “A vida é confusão” e “Ser feliz é complicado”); “Cabeça quebra cabeça”, com Bruno Mad, Cláudio Levitan e Nina Nicolaiewsky; Fernando Pezão e Luciano Albo arrasaram em “Romance de uma caveira”; “Advertência”, com todos cantando, foi demais; e teve também “Final feliz”, Picolé no sol”, “Teatro esperança” e muito mais.

Repito: o espetáculo fica em cartaz até domingo, 24. Sério, não perca. NICO VIVE!

 PS: e semana que vem tem Desgrazzia ma non tropo “Kraunus e convidados”. Vamos sim ou com certeza?

Carol G. Nunes – @carolgnunes

Ontem eu pude prestigiar o lançamento do livro Elis – uma biografia musical, escrito pelo jornalista, músico, compositor, arranjador, pesquisador, querido, etc etc etc Arthur de Faria.

O lançamento ocorreu na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country e teve uma conversa do autor com alguns convidados antes da sessão de autógrafos. Maria Luiza Kfouri, que escreveu o prefácio do livro, foi quem iniciou a conversa, dizendo que a biografia escrita por Arthur é a biografia que melhor situa Elis no cenário da música brasileira. A jornalista disse que se não tivesse existido a Elis, certamente a história da música teria sido diferente; isso pela capacidade que Elis tinha de agregar pessoas, de fazer com que compositores escrevessem para ela, de lançar grandes compositores (Milton Nascimento, Ivan Lins, Gilberto Gil, só para citar alguns), e por trazer o Tom Jobim de volta para o Brasil. Maria Luiza, ao falar sobre o livro de Arthur, disse que ninguém melhor que um músico para falar de outro músico – ainda mais quando um músico sabe situar o outro músico de quem ele está falando – que é o caso de Arthur falando de Elis.

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Arthur de Faria debateu com convidados a história de Elis Regina (Foto: Carol Govari Nunes)

Assim como o jornalista Juarez Fonseca, ela foi interlocutora de Arthur durante todo o processo do livro. Maria Luiza ressaltou que adora a biografia escrita por Arthur, pois além de situar Elis como ela deve ser situada na história da música brasileira, é um livro saboroso, fundador e, mesmo não gostando da palavra, diz que é definitivo ao colocar a Elis no seu devido lugar.

Juarez Fonseca emendou a conversa dizendo que uma das coisas mais importantes do livro de Arthur é o fato de ele localizar Elis em Porto Alegre, algo que não foi feito em biografias anteriores. Arthur conta antes da chegada dela ao eixo Rio-São Paulo e traz informacões de como a cultura local formou a personalidade musical da cantora. Juarez ainda lembra que Arthur desfaz alguns equívocos de biografias anteriores, como, por exemplo, quem descobriu Elis Regina e outros fatos.

Quem também fez parte dessa conversa foi o músico Clovis Ibañez, comentando da sensibilidade de Arthur ao escrever o livro e como é importante valorizar o que é nosso, já que, no Brasil, há um certo hábito de valorizar muito mais a música estrangeira. Ele contou um pouco do convívio com Elis Regina, que a conheceu quando tinhas 20 anos de idade (ela, então, com 15 anos), quando ele tocava em conjuntos melódicos (OBS: procure saber sobre os conjuntos melódicos – ou espere, pois uma hora dessas o Arthur te conta. Acredite: ele vai te contar). Clovis comentou, entre outras coisas, que conheceu Elis na Rádio Farroupilha e que ficou impressionado com a capacidade vocal dela. Depois disso, falou da época em que trabalharam juntos, os convites para apresentações na TV, Elis sempre sabendo o que queria fazer, extremamente musical, inigualável intérprete, personalidade incrível.

Arthur então comenta que, mesmo após 30 anos da morte de Elis, ela ainda é a maior referência musical do país – pelo menos pra ele.

Uma coisa que foi essencial – e o foco que Arthur quis dar no livro – é algo que surge repetidamente nas minhas conversas em casa, de como, muitas vezes, alguns artistas cantam a obra de outro artista (por exemplo, Elis, Tim Maia, entre outros) sem nenhuma verdade. Reúnem multidões (financeiramente deve ser ótimo para as empresas promotoras), entretanto, cantam com a mesma emoção e sinceridade com que eu rezo pai-nosso-que-estais-no-céu antes de almoçar na casa de familiares. Onde eu quero chegar, e que vai ao encontro do que Arthur traz, é: cantor e intérprete são coisas diferentes.

Capa do livro (Imagem: divulgação)

Capa do livro (Imagem: divulgação)

Arthur disse que estas duas coisas não estão necessariamente juntas. Que alguém pode ser um ótimo cantor, interpretando aquele texto, pensando no que está dizendo – sendo senhor do que está dizendo –, transmitindo uma verdade e, dessa forma, sendo um ótimo intérprete.

Já o grande cantor pode ter uma voz com ótimos recursos, um grande conhecimento musical, técnico, e não ter essa verdade; não sendo, portanto, um grande intérprete. E Elis Regina tinha em altíssimo nível essas duas coisas; era ótima cantora e ótima interprete: ela decifrava o que cantava.

O autor também falou um pouco sobre o processo de gravação de Elis – de como ela partia dos letristas para escolher o repertório dos discos, e não dos compositores –, o que faz com que cada música gravada por ela tenha uma apropriação absurda do texto e uma verdade que foi e continua sendo rara.

A conversa seguiu com histórias de que todos – todos! – os compositores da época queriam ser gravados por Elis – não só pela densidade que ela tinha, pela qualidade dela como cantora; mas também pelo seu comportamento, sua cabeça, pela questão de ser líder, de não tirar o corpo fora (para o bem e para o mal), suas constradições, sua inteligência, sua ascensão, de não se achar uma estrela, de se manter uma pessoa comum – na medida do possível –, não viver numa redoma; enfim, de como Elis Regina nasceu para ser Elis Regina.

Bom, isso foi um pouco do bate-papo do autor com seus convidados. Agora eu vou me deliciar com o livro. Volto em outro momento para contar como foi.

* E pra quem perdeu o lançamento, hoje rola uma conversa com Arthur no Centro Municipal de Cultura (Erico Verissimo, 307).

O livro pode ser adquirido aqui.