Posts Tagged ‘Dia Mundial do Rock’

Eles não vestem apenas roupas pretas e usam cabelos compridos, não fazem o estereótipo do quarentão grisalho com jaqueta de couro sobre uma motocicleta, mas são unânimes quando o assunto é música: o rock também é um estilo de vida. Hoje, os amantes da música homenageiam os artistas e comemoram o Dia Mundial do Rock.

Para o músico Max Lima, responsável pelo violão e vocais da Bico Fino Brother’s Band, é uma data para reunir os amigos e celebrar o estilo que influencia diretamente a vida de muita gente. E para os integrantes da Hello! Ms. Take – Walter Silva; Ismael Schossler; Eduardo Machry; Estevan Junges e Bernardo Siqueira – é dia de comemorar a unificação da atitude de pensar, amar, se revoltar, abrir a mente e protestar, de uma maneira sem rótulos nem diferenças.

Com o passar dos anos, o rock mudou, mas a essência se mantém. É um gênero que transmite a identidade de várias gerações. E Lima acredita que o público envelheceu um pouco. Ainda que muitos adolescentes saibam quem foram os Beatles ou quem sejam os integrantes da banda Foo Fighters. Até os anos 2000 poderia se dizer que o rock era o estilo do momento, já que o mercado musical não era tão capitalista e o rock gaúcho, por exemplo, era mais forte e respeitado nas terras riograndenses. “Hoje, a mídia e a indústria estão diferentes, e os estilos mais comerciais são outros. A maioria das pessoas segue o que a moda dita e temos menos jovens ouvindo rock. E eles são o público dominante nas baladas”, diz.

O músico complementa que aqueles que ainda gostam de rock têm um estilo de vida mais caseiro. Os espaços para ouvir esta música diminuíram, e fazer rock nos anos 1970, 1980 ou 1990 era mais fácil do que atualmente. “É preciso buscar novos espaços e construir pouco a pouco o público. Aí está o desafio”, defende. E este desafio das bandas de rock, assim como dos fãs, é encontrar espaços que abram suas portas a um gênero que já foi mais popular.

Segundo Lima, outros estilos que têm menos apelo comercial, como o reggae, o jazz e o blues, também têm dificuldade para tomar conta dos palcos de casas noturnas. “Acho que o formato do mercado musical atual, que cada vez mais trabalha e massifica o modismo, contribuiu muito para isto. Ao mesmo tempo, vejo um determinado público mais de meia idade reclamando por falta de espaços para o rock. Então algo estaria errado. Vejo aí uma dificuldade em conciliar esse público com as casas noturnas”, reflete.

Para os guris da Hello! Ms. Take, o rock é universal e tem recuperado seu espaço. A massificação de outros estilos também cria a possibilidade de agradar a ouvidos cansados daquilo que é imposto diariamente. “Quem vive no mundo rock, seja ele clássico, alternativo ou pesado, sabe que pode tocar em qualquer lugar do planeta que haverá alguém feliz por estar ouvindo o que está sendo apresentado. Mesmo com os regionalismos musicais, os folclores e os estilos midiáticos da música atual, o rock está e sempre estará presente, fazendo história e consagrando ídolos”, afirmam.

Imagem: reprodução

Imagem: reprodução

De pai…

Um solo de guitarra do multi-instrumentista mexicano Carlos Santana fez Arnulfo Bender (64) se apaixonar pelo rock and roll. “Comprei uma coleção com meu primeiro ordenado, aos 17 anos. Depois, fui para os clássicos como The Beatles.” A vida do lajeadense sempre esteve ligada ao mundo da música. Foi baterista, operador de som e, por muitos anos, vendedor de discos de vinil na cidade.

Na loja da família, na esquina da Rua Carlos Von Kozeritz com a Julio de Castilhos, entre as dé- cadas de 1980 e 1990, ele era quem sabia quais os discos iriam se tornar hits nas rádios. “Os clientes perguntavam se eu poderia fazer seleções com os álbuns do momento. Ficava horas escutando as faixas, garimpando as melhores e passando tudo para os rolos de fita K7.” Depois, datilografava a seleção para indicar os lados A e B.  “A experiência me fez gostar de vários estilos”, explica.

O gosto de Bender passeia por diferentes ritmos. Vai do blues ao folk. “Sou crítico. Presto muito mais atenção na melodia do que na letra.” Mas o rock está na sua essência. “Por que não lembrei de trazer minha camiseta do Black Sabbath?” interroga o filho, enquanto faz pose para a foto. “O rock rejuvenesce. O som entra em você. Quando escutamos, incorporamos o ritmo. Queremos estar no palco, ser o próprio músico. Tocar a guitarra dele.”

Mesmo tendo suas preferências, lembra que um bom ouvinte precisa ter repertório. “Temos que escutar de tudo para saber o que é bom e o que não é. Nem é preciso ser rock para ser bom. Gosto da música que entra em mim. Por isso, escutar é um ato individual. Costumo apreciar deitado e sozinho em casa. Ou no meu carro, enquanto estou indo à praia. Nem vejo o tempo passar.”

….Para filho

Na sala de Eduardo Bender (32), uma vitrola da década de 1960 toca a banda de rock inglesa Jethro Tull até cansar os ouvidos dos vizinhos. Ele é colecionador dos rádios valvulados e amante do bom e velho rock and roll. Herdou do pai, Arnulfo, o gosto musical. “O rock é prazer. Um estilo de vida.”

A coletânea de vinis ultrapassa os dois mil volumes. Rush, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC e Creedence estão entre os bolachões que coleciona. O acervo é preservado com enorme cuidado. Todos os discos estão embalados e guardados em caixas. Para não arranhar, Eduardo segue um ritual limpeza antes de colocá-los para tocar. Depois, lustra um por um. “ Som na vitrola é melhor do que nos aparelhos modernos”, observa, com nostalgia.

A série conta com peças raras, como um rádio valvulado da ex-Iugoslávia. O mais antigo é da década de 1930, da marca Philco. “Todos foram restaurados e funcionam. Prezo por isso.” Para escutar as ondas do AM e, em alguns casos até a FM, é preciso aguardar a válvula esquentar. “Isso se tornou mais do que um hobby: hoje é um negócio, que faz parte da minha história de interesse pela música.”

Por Natalia Nissen  e Taciana Colombo

A matéria completa foi publicada hoje (13), no Tema do Dia do jornal O Informativo do Vale.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Foto: Haroldo Paraguassú/Diogenes Moraes

No dia 13 de julho de 1985, Bob Geldof organizou o Live Aid, um show simultâneo em Londres (Inglaterra) e na Filadélfia (Estados Unidos). O objetivo principal era o fim da fome na Etiópia e contou com a presença de artistas como The Who, Status Quo, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, Joan Baez, David Bowie, BB King, Mick Jagger, Sting, Scorpions, U2, Paul McCartney, Phil Collins (que tocou nos dois lugares), Eric Clapton e Black Sabbath.

O Live Aid foi transmitido ao vivo pela BBC para diversos países e abriu os olhos do mundo para a miséria no continente africano. 20 anos depois, em 2005, Bob Geldof organizou o Live 8 como uma nova edição, com estrutura maior e shows em mais países com o objetivo de pressionar os líderes do G8 para perdoar a dívida externa dos países mais pobres e erradicar a miséria do mundo.

Desde então, o dia 13 de julho passou a ser conhecido como Dia Mundial do Rock.

Aqui no blog todo dia é dia de rock’n’roll, mas não poderíamos deixar o dia de hoje passar batido. Então continuando as comemorações do Dia Mundial do Rock e aniversário do The Backstage, temos mais uma presente para os leitores: é o “Grande Presença”, dos Acústicos e Valvulados. A banda que recentemente lançou o “mendigo style” conta que fará quatro shows hoje: três deles em Porto Alegre, no Trio Elétrico do Rock promovido pela Ipanema FM (Mercado Público, Parcão e Cidade Baixa) e à noite em Nova Hartz. Durante toda essa função a banda já vai aproveitar pra gravar o clipe da música “Vulnerável/Inflamável”.

De acordo com P.James, baterista e compositor dos Acústicos, “a pilha da mendigagem vai estar forte, já que a chalaça começa às 13h e deve se estender afú”. Ontem a banda tocou no Festival Marquise 51, com transmissão pela Putzgrila, e amanhã os caras tocam em Urussanga/SC, ou seja,  muitos shows pra celebrar uma data tão importante.

O último clipe da banda foi lançado há menos de dois meses e foi um grande sucesso: todos começaram a aderir à moda do rock mendigo e divulgar esse estilo tão peculiar.

“Já ouvimos falar que saiu materia sobre o “mendigo-style” até em revista de moda, por mais estranho que isso pareça, já que é justamente o contrário! Segundo Rafael Malenotti, nosso canário-porta-voz, a moral é “seguir levantando a bandeira do Rock, nem que pra isso a gente precise mendigar!” Outra tese acadêmica-de-boteco diz que o Rock Gaúcho é tipo um mendigão na porta duma festinha de 15 anos. Quando o segurança se distrai, ele entra e afana umas coxas de frango e uma champagne. Em seguida, já é mandado de volta pro lugar dele, rolando na sarjeta. Chalaças à parte, não é nenhuma invenção, é só uma conclusão de quem vive o dia-a-dia do roquenrou brazuca” (P.James)

Então para concorrer ao “Grande Presença” é só twittar o seguinte:

Eu sigo o @The_Backstage_ e os @AeValvulados e quero ganhar um CD na promoção do blog! http://kingo.to/18MS

Não esqueça de twittar o link final do sorteio e seguir os dois perfis. Perfis criados exclusivamente para participação em promoções serão desclassificados. O sorteio será dia  20/07. Boa sorte!

Quem ganhou o CD foi: @kelinjp! Parabéns!

Natalia Nissen@_natiiiii

Há quem diga que Restart é rock e Metallica não, mas a questão vai muito além de gostar ou não de cada um desses exemplos. Aqui no The Backstage mesmo, muitos comentários de leitores falam se a banda tratada no post é ou não um exemplo plausível de rock. Alguns ficam ofendidos, outros soltam o verbo e mostram todos seus argumentos para poder defender um artista. Como a nossa ideia é dar espaço para quem gosta de música, os comentários são aprovados e discussões são criadas, participa quem quer.

O assunto da semana é o Dia Mundial do Rock e a gente bem sabe que controvérsias rondam a comemoração. Aqui no blog vamos fazer alguns sorteios e até eles podem levantar um debate do que seria ou não rock, já que eles fazem parte das comemorações ao Dia Mundial do Rock e aniversário de dois anos do blog. Sem mais rodeios, esse post é pra falar de um livro que comprei essa semana: “O Que é Rock” da série “Para ler ouvindo música”.

O livro não é uma enciclopédia, pelo contrário, tem pouco mais de 80 páginas e mostra mais que resumidamente a história do rock and roll desde a fusão de outros ritmos. Ninguém vai ficar expert no assunto depois de ler, porém, dá uma luz para quem não tem noção e é interessante pra quem gosta, conhece e sabe que sempre tem coisa boa para aprender. Além do mais, é barato, custou R$11,90 e acho que vale a pena. Os mais conservadores podem reclamar de algumas colocações, por exemplo, de que surf music e emocore são subgêneros do rock. No livro são apresentados alguns paradoxos bem interessantes.

Muitas pessoas tornam-se tão intolerantes que defendem a ferro e fogo um único estilo e não conseguem perceber que os outros têm o seu valor (eu mesma já fiz isso). Assim como podem vir aqui e comentar que eu estou viajando completamente ao defender que existe a possibilidade de aceitar determinados nomes na classificação como bandas de rock and roll. Não gosto de Restart e nem acho que tocam rock, mas que cada um pode ficar no seu canto feliz da vida.

Na verdade nos acostumamos demais com a generalização das coisas, estereótipos da música e tudo mais. Eu gosto de Michael Jackson, nem por isso digo que gosto de pop, mas eu também adoro Beirut e Rolling Stones. Meu namorado toca numa banda de heavy metal e sabe que eu não sou vidrada nesse tipo de som, no entanto, eu reconheço o talento que alguns têm e a importância das bandas de metal para a história do rock.

“O Que é Rock” traz um pouco de cada época e vertente do rock, os ícones, altos e baixos da música que tomou conta dos jovens sedentos de liberdade. É uma leitura fácil e vale para quem acha que rock é só Elvis Presley, Led Zeppelin ou AC/DC.

Como já havíamos prometido preparamos surpresas para comemorar o Dia Mundial do Rock e os dois anos do The Backstage Blog. Até o dia 16 de agosto – quando o blog comemora, oficialmente, dois anos – vamos fazer sorteios para nossos leitores e para participar deles é só ficar ligado aqui no blog, no TwitterFacebook e seguir as regras.

O primeiro sorteio é com a nova parceira do The Backstage, a Store Laser, uma loja que atua desde 1998 em Teutônia/RS e oferece atendimento personalizado, instrumentos musicais e acessórios, CDs e DVDs, artigos de música e muito mais. A loja trabalha com as marcas Giannini, Tagima, Vogga, D’addario, Rouxinol, Ernie Ball, Basso, Ibox, Hayonik, entre outras.

Store Laser: música para ter, ouvir e fazer

A Store Laser ainda não possui comércio virtual, mas basta enviar um e-mail para contato@storelaser.com.br para tirar dúvidas sobre os produtos, como receber sua compra em casa e fazer encomendas. Para quem mora em Teutônia e ainda não conhece, a loja fica na rua Tiradentes nº 870, em frente à escola Reynaldo Affonso Augustin.

Vamos sortear o CD “Cabeça Dinossauro”, uma edição comemorativa aos 30 anos dos Titãs. A nova versão do disco traz dois CDs com 13 faixas cada um. Para participar é só curtir a fanpage do blog e preencher o formulário abaixo, é necessário ter um endereço de entrega no Brasil. O sorteio acontece no dia 25 de julho, o vencedor será avisado por e-mail e tem 48 horas para retornar o contato, caso este não se manifeste faremos um novo sorteio entre os inscritos.

Boa sorte!

RESULTADO:

Parabéns Fernanda!

 

Essa é uma narrativa especial, feita especialmente em comemoração ao Dia Mundial do Rock, 13 de julho. Nela, contamos a história de Roque Enrow, um senhor de 70 anos de idade desiludido com os rumos que sua vida tomou.

13 de julho, 2011

Acho que já passa das 4h da manhã… acabei de chegar em casa depois de uns tragos no boteco da esquina com os camaradas de sempre. Não sei como ainda agüento, não tenho mais idade pra fazer isso. No começo é sempre igual: “só um gole, pra esquentar, e depois vou embora”, o problema é que esse gole sempre se estende, ainda mais em uma noite fria como essa. Anos atrás eu teria motivos para comemorar esse dia 13 de julho, hoje, porém, só queria beber até o frio e as lembranças do passado irem embora. Quando será que vou aprender que as lembranças nunca irão embora?? É, mais um ano de vida, meu velho… mais um ano perdido, sem esperança ou perspectiva. Eu olho para o meu passado e me pergunto: onde foi parar aquele eu revolucionário, aquela sede por mudança? Hoje é tudo uma grandessíssima merda, essa juventude alienada com cérebros atrofiados… no meu tempo, os cérebros eram sequelados pelo tanto de porcaria que a gente usava, mas no final a idéia era só abrir a mente pra conseguir mudar esse mundo! Mas que culpa tem os guris, se está tudo virado num caos mesmo? Depois que tudo desandou desse jeito, não tem mais volta, não, é daqui pra baixo. Não sei, ultimamente eu me olho no espelho e só vejo um velho barbudo perdido, sem rumo. Não sou eu, não me reconheço mais.

Só consigo pensar em como antigamente as coisas eram diferentes… no meu tempo de guri, os anos 50, eu lá com meus 14 anos descobrindo muita coisa boa nessa vida. Foi mais ou menos nessa idade que a música entrou na minha vida, foi uma parada de paixão mesmo, carnal e visceral. Depois que eu segurei minha primeira guitarra, nunca mais quis saber de outra coisa. Lembro que meu velho só sabia falar de guerra, que eu tinha que agradecer por aquilo tudo ter acabado, que minha vida era uma moleza. Eu tava cagando praquilo! Só queria saber de juntar uma grana, comprar uma caranga e poder sair de casa, curtir a vida, ter independência! Eu via aquele cara no cinema, o transviado do topete e da jaqueta de couro, e queria ser como ele, queria ter uma Marylin na carona do carro, pra que mais do que isso? Minha guitarra, um carrão e uma mina. Mas eu não passava de um guri sonhador mesmo, me achava grande coisa com aquele cabelo besuntado de brilhantina e um par de sapatos lustrados…

Lá pelos meados da década de 60 eu consegui juntar uma grana, comprar um Volks meio capenga e sair da casa dos velhos. Liberdade, finalmente! Fui morar num pardieiro com uns cabeças que conheci na faculdade (na época eu cursava Filosofia, um dos tantos cursos que comecei e nunca terminei), era um quarto-sala minúsculo que dividíamos em quatro. Conheci a Lady Babel nessa época, figuraça! Uma guria louca que aparecia de vez em quando lá na kit pra pegar uns ácidos. A gente se entendia, se conectava. É uma das poucas pessoas que fiz questão de manter na minha vida.

Até então eu nunca tinha dado muita bola pra política e essas coisas, só comecei Filosofia porque achei que era o mais fácil, até que conheci o pessoal do curso, trocava umas idéias maneiras com os caras que dividiam a kit comigo. Mas aí eu comecei a me dar conta do tanto de barbaridade que estava acontecendo a minha volta e me decidi: eu tinha que fazer alguma coisa pra mudar aquilo! Arrumei um emprego numa lanchonete perto da onde morava e ganhava uma miséria, mas todos meus trocos iam pra cartolinas e panfletos que fazíamos. “STOP THE WAR!” Eu não tinha tempo nem de tomar banho, vivia desgrenhado e cabeludo, era da faculdade para o trampo, depois para as passeatas, manifestações, arrumava um tempo pra tirar um som com um pessoal que tava na mesma vibe que eu. A gente compunha, batucava, protestava, fazia um som que passava uma mensagem. Engraçado que não consigo me lembrar de nenhuma namorada dessa época… a gente era muito free, se amava muito, sem caretice, sabe. Acho que foi por esses anos que fui numa festa bacana, tal de Woodstock… bem paz e amor, fiquei tão chapado que não lembro de quase nada.

Aí o que aconteceu foi o seguinte: absolutamente nada mudou! A guerra, a fome, a miséria, tudo continua lá como sempre esteve. Meu, isso me deixou puto! De que adiantou a gente protestar, se manifestar, se amar, querer mudar o mundo?! Eu fiquei nessa de ser cabeça, paz e amor e tudo mais até lá por 70 e poucos, mas depois não quis saber mais disso não! Na verdade, eu não queria saber de mais nada. Eu tinha lutado por tanta coisa, almejava tanto e depois vi que tudo aquilo não adiantou bosta nenhuma, eu queria mais era explodir tudo. Larguei a faculdade e fui trabalhar num boteco meio underground que deixava umas bandas tocarem à noite. De dia eu ficava carregando caixas feito um burro de carga e recebia uma miséria, mas pelo menos o dono me deixava ensaiar à noite com uns caras que tinha conhecido por lá e estavam na mesma merda que eu. A gente tocava com raiva mesmo, sem entender direito que som era aquele que tava saindo. Passávamos a maior parte do tempo bêbados e drogados, arranhando qualquer coisa nos instrumentos detonados que tínhamos. Parecia que tudo que a gente queria era demonstrar toda aquela frustração e sensação de vazio que sentíamos pela música, então era uma coisa caótica mesmo, totalmente sem sentido. Uns estudantes metidos a besta que andavam por lá chamavam isso de “niilismo”, pra mim isso era só um nome bonito pra um sentimento escroto. No final das contas foi uma década perdida mesmo, principalmente por causa daquela maldita rebeldezinha que cruzou meu caminho, toda dona de si com sua calça jeans rasgada e seu cabelo colorido. Era um groupie, uma poser, só queria saber de andar comigo por causa da banda, mas eu achava que era de verdade. Ela foi morar na kitnet comigo e, quando não estávamos juntando os trocos pra comprar alguma droga vagabunda e nos chaparmos juntos, a gente brigava, quase se matava. Foi um inferno, mas eu amava aquela vadia. Ficamos por alguns anos nessa vida de cão, até quase o final dos anos 80, nos destruindo… até que o dia em que a peguei na cama com o baixista e até então meu melhor amigo, aí dei um passa-fora na bandida e fiquei sem rumo. Aquela cretina conseguiu me tirar o chão!

Pra não dizer que os anos 80 foram uma grande merda, uma coisa salvou: meu aniversário de 85 foi do caralho! Mas, além disso, só consigo lembrar de viver uma vida de cão pelos becos sujos da cidade, completamente perdido…

Foi só aí que eu percebi que não era mais nenhum guri brincando de rock star, eu tinha uma vida pra viver e bem, se possível! Homem nenhum gosta de admitir isso, mas meu coração ainda estava destruído por causa daquela uma e eu tentava de todas as maneiras superar isso, mas foi difícil. Pelo menos consegui me estabilizar na vida, consegui achar uns caras responsa pra montar uma banda e a gente fez um sucesso relativo. Éramos todos mais experientes e isso se refletia muito na nossa musica, era uma parada mais calma, bem sofrida e amargurada, mas serena. A gente tinha um baita futuro, nosso trabalho era bem reconhecido, mas aí o boca-aberta do vocalista resolveu se suicidar e tudo voltou à estaca zero. Os anos seguintes passaram como um borrão por mim, eu praticamente não os vi. A idade chegou de vez e eu simplesmente desanimei. Cansei da música, cansei de viver disso, cansei de tentar ser alguém.

E agora cá estou eu, no meu septuagésimo aniversário. Um velhote sem história, sem família, sem legado, sem nada. Eu tentei ser alguém na vida, e como tentei. Mas agora nada mais faz sentido, não vejo mais razão em continuar em um mundo no qual eu sempre botei esperanças, tinha fé que fosse se tornar um lugar melhor e, hoje, percebo que eram esperanças ingênuas e vazias… isso aqui só vai de mal a pior!

Uma última dúvida me inquieta: as dezenas de remédios que, supostamente, serviriam para amenizar minhas dores (eles esquecem que dores da alma não tem cura) misturados com o whisky barato, presente de aniversário, ou ela… minha guria, que me acompanhou durante esses anos todos, a única que nunca me abandou, sempre esteve ao meu lado, minha guitarra… acho que, em homenagem aos velhos tempos, vou secar essa garrafa e depois me entender com as cordas afiadas da minha velha amiga.

Roque Enrow

Notícia de última hora sobre o estado de saúde de Roque Enrow:

Enquanto aguardamos e torcemos pela recuperação de Roque, que tal ouvir grandes clássicos que fizeram parte de sua vida? Roque, essa é só uma fase ruim, vai passar. O Roque sobreviverá!