Carol Govari Nunes – @carolgnunes
Quase três meses se passaram desde que Pitty lançou o DVD Turnê SETEVIDAS Ao Vivo, inaugurando uma plataforma onde é possível fazer o download (em full HD!) do show e do documentário “Dê Um Rolê”. Tem também a versão física, claro, onde o público confere, além do show + doc, uma galeria de ótimas fotos que mostram momentos de shows, camarins, viagens de ônibus e tudo o que envolve uma turnê.
Dirigido e editado por Otavio Sousa – que vem fazendo um ótimo trabalho como diretor desde o videoclipe de “Dançando”, do Agridoce –, “Dê Um Rolê” inicia com uma edição in-crí-vel de “Boca Aberta”, e daí pra frente é correr pro abraço e ficar por dentro de tudo o que acontece quando a banda ta na estrada, seja dentro ou fora do palco. Inclusive, Otavio Sousa conseguiu fazer uma montagem muito bem equilibrada de imagens de palco/backstage, com uma visão que faz com que o espectador se sinta inserido naquele ambiente, seja no cantinho do palco ou em qualquer outra ocasião que assistimos no DVD.
Além de dar voz para os fãs – que contam suas experiências e falam da importância de Pitty em suas vidas e no cenário musical como um todo –, “Dê um Rolê” traz vários pontos interessantes que ultrapassam a ideia de um simples registro de turnê: ele mostra a ligação da artista com o Nordeste – sobretudo com Salvador, sua cidade natal; o cuidado em não se distanciar do pessoal que conheceu na época do underground, tocando sempre que possível em festivais deste circuito; a preocupação em entregar o melhor show para o público, seja na parte da estrutura técnica (a gente pode conferir o trabalho da equipe responsável pela montagem de palco etc) ou colocando mais um músico na (melhor formação da) banda, que é o caso do talentoso Paulo Kishimoto, que toca tudo e mais um pouco, além de cantar muito bem, obrigada.
Em relação ao show, que foi gravado na Audio Club, em São Paulo, e reeditado por Daniel Ferro, destaco o excelente som, a iluminação e as projeções sensacionais (leiam a ficha técnica!) que foram trabalhadas ao longo dos shows.
A turnê SETEVIDAS apresenta claramente a performer que Pitty se tornou – reformatando suas músicas e dando novos significados a elas. Pitty, que até então se destacava, pelo menos pra mim, por ser melhor compositora do que cantora, foi, ao longos dos anos, se reconhecendo no palco, se permitindo, se colocando à prova, testando suas capacidades vocais e performáticas. No show do DVD Turnê SETEVIDAS Ao Vivo é possível perceber o entrelace de diferentes potências (vocais / performáticas / sonoras / visuais) – daí a característica tão marcante desse show.
E “Dê Um Rolê”, o single, consolida a Pitty intérprete: ela toma pra si a letra da música e dá vida a ela. Afinal, uma coisa é cantar, outra coisa é interpretar. De nada adianta ter uma extensão vocal estrondosa e não passar o sentimento da música – o que, claramente, não é o caso visto aqui. Pitty é o amor da cabeça aos pés. Me convence: a vida é boa. Se antes eu comentei que suas composições se ressignificavam em sua voz, agora aponto que “Dê Um Rolê” é, no momento, o melhor exemplo de como músicas de outros compositores ganham novos sentidos em sua interpretação. Na canção dos Novos Baianos, Pitty usou uma pitada (ou um punhado?) da versão genial da Gal Costa: rasgada, enérgica, convidativa – uma lindeza só.
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O que será que vem depois do SETEVIDAS? Eu não sei. Só sei que, ao que tudo indica – e pelo andar dessa carruagem que só melhora com o tempo -, a gente não perde por esperar.