Viver parece mesmo coisa de insistente: Pitty e suas SETEVIDAS

Posted: 09/05/2014 in Entrevista, Lançamentos, Rock, Videoclipes
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Carol Govari Nunes@carolgnunes

Se o título desse post fosse “Pitty surge com hematomas e sem blusa em novo clipe” tenho certeza que eu teria mais visualizações. Às vezes fico curiosa/furiosa pra saber de onde alguns jornalistas tiram esse tipo de chamada, porque, na boa, deve ter curso pra isso. Mas deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? (ah, Jair Rodrigues, que triste), e vamos ao que realmente interessa.

Capa do disco. Pitty e sua relação com a maçã, o fruto proibido, que vem desde o Admirável Chip Novo. (Imagem: divulgação)

Capa do disco (divulgação)

Viver parece mesmo coisa de insistente. No rock, então, nem se fala. Pitty voltou. Na verdade, pra mim, ela nunca foi a lugar algum. A diferença é que na última quarta-feira, 7 de maio, ela deu uma paulada na cabeça dos fãs adormecidos. Aqueles, os que ficaram lá por 2005, acordaram ensandecidos. Eu mesma, que me julgo das mais tranquilas, parecia uma testemunha de Jeová compartilhando o clipe e pregando insistentemente de timeline em timeline. “Posso te mostrar esse clipe? Posso te mostrar esse clipe?”. Chaaaaaaata. Logo eu, a maior defensora da discrição humana – a que prefere emails, DM’s e inbox – a que faz pose de má e é somente observadora na maioria das ocasiões, estava visivelmente alterada. A real é que eu não me sentia assim há anos, mas a arte faz essas coisas com a gente, né? Ainda bem. (Pra completar, no mesmo dia, Imelda May lança o clipe de Wild Woman. Tudojuntoaomeusmotempo foi sacanagem. Mas outra hora eu comento esse assunto).

E isso que foi só um clipe. Claro, o clipe.  Raul Machado, o qual tem um portfólio gigantesco (mais de 130 clipes incluindo Nação Zumbi, Planet Hemp, Raimundos, Sepultura, Camisa de Vênus e outros vários), dirigiu “SETEVIDAS”, contabilizando mais de 150 mil visualizações até o momento desse post.

Em uma conversa com o diretor, falei que a primeira coisa que me chamou a atenção foi que o clipe se diferencia um pouco de sua própria estética fílmica. Dá pra identificar que o clipe é dele porque Raul tem uma assinatura visual muito forte. Ele tem aquele lance dos músicos enfrentando a câmera, alguns enquadramentos contra-plongée, câmera recuando (veja tudo isso e muito mais aqui) e outros detalhes que não vou me deter. Comentei de seus cortes agressivos, secos, e disse que em “SETEVIDAS” os cortes e os movimentos de câmera estavam “sensuais”. Raul me disse que queria fazer takes longos, cortar menos e queria que tivesse o espírito de show, daí os movimentos felinos e  câmera flutuando como bola de sabão. Lógico, movimentos felinos. Não só os movimentos de câmera, mas todo o videoclipe. Pitty parece um gato escaldado, de beco, que cai, se machuca, fica detonado, mas volta. Com algumas vidas a menos, mas volta. E, vá lá, Pitty nunca fez o tipo gato domesticado.

Casa do Povo, uma associação judia comunista dos anos 50, que fica no Bom Retiro, em São Paulo (SP), serviu de locação para o videoclipe. Segundo o diretor, o local tem um “puta charme decadente” e está meio detonado. Raul, que nem sempre usa roteiros (nesse dia, inclusive, o roteiro ficou em casa), disse que a tomada em que Pitty segue a câmera, por exemplo, foi feita porque ele gostou da sala. “Como a locação era legal demais, eu quis aproveitar todos os ambientes, desde salas ao teatro meio abandonado que fica no subsolo”.

O clipe de “SETEVIDAS” foi gravado no dia do Levante de Varsóvia (google it), o que diminuiu um pouco o tempo de gravação, já que alguns sobreviventes de Auschwitz iam se encontrar no local. As filmagens duraram das 9h às 19h, e o primeiro corte aconteceu poucos dias depois, em uma edição psicografada de cinco horas. Depois disso, só lapidações. Há outros vários detalhes nonsense, mas conversas da madrugada a gente edita na hora de publicar.

Sobre o retorno da cantora, pensemos na cena nacional de 2003 pra cá: Pitty é uma das artistas mais importantes do país. Não é segredo pra ninguém a admiração que eu tenho por ela. Sei que é chover no molhado, mas Pitty é ótima compositora, tem uma presença de palco absurda, suscita indagações e alimenta somente o necessário – principalmente no próprio público. Acreditem, eu sei o que eu estou falando. Sim, meu texto está todo contaminado do olhar de alguém que se identifica com tudo o que ela produziu até hoje, mas justamente por causa disso eu vejo coisas que muitas vezes a grande mídia deixa passar batido, replicando somente o que a assessoria de imprensa envia.

Sem falar no lance do mistério que envolveu todo o lançamento do single e do clipe, me identifico horrores com isso e inclusive já escrevi algumas linhas sobre o assunto (não necessariamente sobre Pitty, mas sobre artistas e mistério em geral). A curiosidade agora é pelo resto das músicas. Dia 3 de junho o disco físico chega às lojas. Em breve, no site, vai rolar a pré-venda.  Eu que não sou boba de perder.

E dia 21 de agosto tem show no Opinião, vou comemorar meu aniversário lá. Aí, sim, o bicho vai pegar.

Comentários
  1. Brazucoise diz:

    Não discuto o clipe, tampouco Pitty. Pra mim, perfeitos! Aliás, admiro esta mulher como cantora, compositora e escrevedora há tempos.
    Mas…
    Estou tentando ouvir a guitarra e o saxofone até agora. Sim! Rolou uma pontinha de decepção.
    Achei o som comprimido… sei lá… embolado (ou meu ouvido é um fiasco). E, claro, bateu uma curiosidade absurda para ver o que Martin vai fazer nessa música ao vivo.
    Ademais, parabéns pelo texto! Saboreei horrores…
    Bises
    Nilian

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  2. Rafael Stackhouse diz:

    Matéria realmente perfeita, alguém tem que ter o algo a mais né, e esse alguém é vc. Parabéns a Pitty pelo novo trabalho e a vc pela matéria.

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  3. Curti demais o seu texto, é bem essa visão que também tive do clipe e da “volta” da Leone e sua trupe.
    Aguardo ansiosamente pelo o seu release do CD completo e também por um show aqui em BH (ou região)!
    PS: Fiquei com uma pontinha de inveja de você quando disse que vai ao show e mais uma pontinha quando refere que será no Opinião (shows históricos e intensos nessa casa, sempre)!!!

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