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Carol Govari Nunes@carolgnunes

O que vocês fazem quando precisam respirar? O que vocês fazem quando o trabalho não anda?

Eu, quando não consigo escrever uma linha a mais sequer, quando não aguento mais ouvir a discografia de uma banda para entender sua(s) identidade(s), recorro a outro tipo de arte para respirar e tentar voltar ao trabalho. E escrever sobre isso acaba sendo inevitável.

Então este texto é só para isso: para respirar. Não vou pensar, não vou analisar, não vou entrevistar ninguém. Ando exausta de só pensar, pensar, pensar, pensar e muitas vezes me preocupo se vou conseguir assistir a um show, a um clipe, a um documentário – qualquer coisa – sem analisar cada detalhe. É infernal. Mas eu não quero falar sobre isso. Eu quero falar sobre reações, sobre sentimentos.

Eu quero falar sobre o clipe de “Um Leão”, da Pitty, dirigido por Ricardo Spencer. Quando eu soube que havia sido gravado, em uma conversa com o próprio diretor, o assunto passou batido. Naquela época eu já não queria muito saber. Imaginar é mais interessante do que saber. Falávamos sobre o The Charles Bukowski Tapes, seus atuais projetos, minha pesquisa, sonhos, Barcelona, assuntos que não se cruzavam (mas faziam todo sentido) e nossa conversa foi interrompida pela necessidade de fazer carinho em Yuki, seu cão de 13 ou 14 anos. Quando o clipe foi lançado, tive o impulso de enviar uma mensagem pra ele, perguntando sobre a gravação – afinal, ainda tenho alguns resquícios do jornalismo e sou terrivelmente curiosa –, mas não mandei. Escrevi, apaguei. Escrevi umas três vezes e apaguei. Decidi ficar com a arte por si só, sem esmiuçar nada. Sou obcecada por behind the scenes, entrevistas reveladoras e sempre quero saber como tudo aconteceu. Dessa vez, não.

Dessa vez, só a sensibilidade do olhar de Spencer, só a performance de Pitty, só as câmeras nervosas, só a fotografia brutal: só o clipe. Bicho solto, fora da jaula – sem domador. Ele começa calmo, meio que reconhecendo o habitat. A gente quase não vê o bicho terminar um movimento inteiro. Muitas vezes, não vemos o seu rosto, pois as imagens são desfocadas. Limpo a tela; não adianta. Há um jogo de contraluz que cega. Um contraste que instiga. Sombras. Eu tento caçar; não pego nada. O bicho não para. Ele vai, volta, gira – me tonteia com sua dança. Nada desacelera. Cerro os punhos, meu sangue ferve. Me concentro, mas ele foge. Foge o tempo todo. Não há nem como tentar adestrá-lo. Ele brinca com movimentos, provoca, não tem pudor. Penso em emboscadas, mas ele não cai – é muito ágil e sabe o que está fazendo. O delicioso sabor da perseguição, a respiração ofegante, a excitação. Em sintonia com a natureza, a arte vira um organismo vivo em movimento contínuo. Ator, acreditador. Começo predador, termino presa. Aqui, “Um Leão” não arranhou: foi golpe fatal.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

A primeira etapa do VMB tá aí: os primeiros cinco colocados serão classificados para a próxima etapa, e aí então concorrerão aos prêmios de Melhor Clipe, Melhor Disco, Melhor Música etc.

Aqui no The Backstage Blog eu vou dar a minha lista (quanta audácia, I know) de indicados em cada categoria – explicando o porquê da minha escolha – e você, leitor, decide se concorda com a minha campanha e vota em seguida em cada link.

Clipe do Ano: Vanguart  – Mi Vida Eres Tu
Ricardo Spencer é um dos meus diretores favoritos e isso já conta 50%. O clipe narra a fantasia de um guri de 7 anos que sonha em ser um adulto – um beatnik, pra ser mais exata. Kerouac e Bukowski estão presentes no clipe. A contracultura e toda uma geração americana também. Eu sou o guri do clipe, fantasiava com as mesmas coisas que ele. Não é de hoje que digo que o cérebro de Spencer tem um parentesco com o demônio, e eu acho isso lindo. A música, inclusive, é belíssima, assim como todo o disco. Enfim, não tinha como dar errado. Eu sei, o clipe da Fresno é massa. Criolo também é massa, mas eles estão em outras categorias, então em Clipe do Ano eu fico com Vanguart.

Melhor Banda: Agridoce
Preciso explicar? Pitty me ganhou (poor thing) em 2003 e desde então já fui a mais de 15 shows. O Agridoce é a multiplicação dos pães de Jesus Cristo, gente (ou do vinho? ou do peixe?). O que eu quero dizer é que é uma banda massa procriando e trazendo à tona outra banda massa. Pra não encher o saco e deixar esse post gigante, você encontra minha opinião e o motivo de eu escolher o Agridoce como Melhor Banda aquiaqui e aqui.

Artista do Ano: Agridoce
Eles se livraram de todas as amarras e estão trabalhando na turnê do disco homônimo. Enfrentam grandes e pequenos públicos, muitos curiosos, alguns preconceituosos que ainda insistem em pedir que Pitty volte a ser punk-rock-hard-core-sabe-onde-é-que-faz e coisas do gênero. Pelo disco, pelo DVD, pelos shows, pela coragem em nadar contra a corrente, Artista do Ano.

 Hit do Ano: Agridoce
“O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando com você”

Quem nunca cantarolou esse refrão que atire a primeira pedraaaa-a-a (sorry, I can’t help it).

Melhor Artista Feminino: Rita Lee
Eu não acredito que Rita Lee se importe com esse tipo de premiação, mas, pra mim, ela é o melhor artista feminino. Rita Lee solidificou uma carreia brilhante em seus 60 e poucos anos de vida, o “Reza” é um baita disco, ela continua sendo genial, inteligente e linda. Ela é a RITA LEE.

Melhor Artista Masculino: Criolo
Simpatizo com ele. Conheço apenas “Não existe amor em SP”, confesso, mas ele me parece um grande artista. Bom, essa é uma categoria que eu não tenho tanta certeza assim. Também tenho uma simpatia muito grande pelo Seu Jorge, então sei lá, sou café-com-leite aqui.

o Cascadura lançou recentemente o “Aleluia” e já concorre a Melhor Disco do Ano (Foto: Ricardo Prado)

 Melhor disco: Cascadura – Aleluia
Nessa categoria eles tentaram acabar comigo. Vivendo do Ócio, Agridoce e Cascadura. Três das minhas bandas favoritas com brilhantes discos recentemente lançados. Se fosse por nome, ficaria com “Boa Parte de Mim Vai Embora”, do Vanguart.  Ou “O Pensamento é Um Ímã”. Adoro esse tipo de nome de disco/música. Assim como “Hospício Azul do Sol Poente” e “O Pesadelo é Sempre Maior na Minha Cabeça”. Mas como não estamos falando de nomes e sim de um álbum inteiro, fico com o Cascadura, inclusive por ser a única categoria que a banda concorre.  20 anos de estrada, 4 discos na bagagem. Sou louca pelo Cascadura e o “Aleluia” é genial. Fábio Cascadura é um ótimo compositor, o disco é duplo, é experimental, é de chorar. Não entendo como a banda não é uma das mais famosas do Brasil. Escrevi um rápido texto sobre o “Aleluia” aqui, então não vou estender minha explicação. Adoro “O Pensamento É um Ímã”, mas ele estará representado na categoria abaixo.

Melhor música: Vivendo do Ócio – Nostalgia
Porque a música é de arrepiar. Dá saudade da Bahia que eu nem conheço. O arranjo é todo melancólico e nos convida ao deleite da nostalgia – aquele gosto amargo, mas impossível de evitar. (By the way, a banda acabou de lançar o clipe dessa música, também dirigido por Ricardo Spencer).

Melhor Capa: Agridoce
Pitty e Martin. Já assistiu o DVD “20 passos”? Tem o embrião da capa do disco lá. O filme do DVD está todo youtube, mas compre pelos extras que são geniais (Arte da capa: Rogério Fires/Otávio Sousa).

Artista Internacional: Katy Perry
Não que a categoria me importe, mas eu acho a cantora divertida e curti muito ela no início da carreira. E gosto do “Teenage Dream”. E paro na frente da TV pra ver seus shows cheios de algodão doce e pirulitos gigantes. Vai entender.

Revelação e Aposta: abstenho-me, não conheço nada.

Se você teve paciência para ler tudo isso, por que não votar? Voltamos a conversar na segunda etapa.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Lançado no final do ano passado, o videoclipe de “Só Agora”, da cantora Pitty, circula pelas primeiras posições da MTV, além de ter passado de trezentas mil visualizações no youtube.

Dirigido por Ricardo Spencer, que tinha em punho uma Super 8mm, o clipe de “Só Agora” foi filmado em uma chácara em São Paulo, onde foram capturados momentos da banda, filhos e amigos próximos.

Cantora e diretor durante as gravações do clipe (Foto: Otavio Sousa)

Passados quase dois meses do lançamento, sonhei com cenas do vídeo. Curioso, pois o assisti poucas vezes, revendo só hoje. Na noite em que foi lançado, mandei um email para o diretor contando as sensações que as cenas tinham me causado – “uma montanha-russa de emoções”, disse a ele.

Ricardo Spencer também dirigiu os clipes de “Memórias” (junto com Alexandre Guena), “Deja Vu” e “Me Adora”, além do “Sessões Anacrônicas”, documentário sobre as gravações do disco Anacrônico (também com Alexandre Guena), o making of do “(Des) Concerto ao vivo” e “Chiaroscope”, uma espécie de home movie do disco Chiaroscuro.

Tendo isso para analisar, sentir e simplesmente ver, todas essas produções causam em mim, como espectadora, uma montanha-russa de emoções. Na verdade, um parque de diversão de emoções. Para que serve a arte, senão para divertir, sentir, se jogar? Pois esse é o tipo de arte que te acelera, excita, aperta o peito, surpreende e arrepia os pelos do corpo inteiro.

Spencer também dirigiu o clipe da música “Me Adora”, com mais de um milhão de views no youtube (Foto: Otavio Sousa)

Talvez o trabalho de Spencer vista tão bem as músicas da Pitty porque a música dela causa justamente esse sentimento meio (meio?) montanha-russa, não se encaixando no conceito de indústria musical que a mídia nos mostra. Ninguém esperava todo o experimentalismo do Chiaroscope, nem a música “Só Agora” como single e o estilo do clipe que assistimos. Acho isso curioso e lindo, porque o que mais vemos são bandas idênticas e com músicas idênticas, tudo produzido para ser absorvido da maneira mais fácil pelo público.

Acredito que vender com originalidade, não fazer o que todo mundo faz e, mesmo assim, crescer, conquistar espaço, é uma grande vitória para qualquer artista, independente do ramo.

Sobreviver em um meio que deseja e consome um acervo de coisas palatáveis demanda lutar bravamente contra essa previsibilidade artística, tão presente em nossos aparelhos de rádio e televisão.

É bom perceber que ainda há artistas lutando contra isso.