Caindo na estrada: a vida nos bastidores de shows

Posted: 29/03/2011 in Backstage, Entrevista, Profissão
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Bruna Molena – @moleeena

Se essa semana alguém me procurar / E eu não estiver e eu não voltar / Eu fui viajar, fui pra Guarulhos / Em uma turnê com ônibus leito / E duas tv, carro importado / Hotel cinco estrelas, fiz por merecer / Cem toalhas brancas e dez pau de cachêTurnê para Guarulhos – Vera Loca (Mumu/Hernán González)

Elenco do filme Quase Famosos (Foto: divulgação)

Como vocês já devem saber, a proposta deste blog é falar sobre o universo da música, desde quem a faz até quem a escuta. Porém, entre estas duas pontas, existe o processo de produção, no qual há muita gente envolvida que acaba não sendo conhecida, fica só no backstage, entre eles: produtores, roadies e jornalistas, que muitas vezes são também fãs realizando o sonho de conhecer seus ídolos.  São esses profissionais que fazem o que podem para realizar, da melhor maneira possível, o momento único entre banda e fãs: o show.  Só quem faz, vê ou está por trás de um show sabe qual é a emoção que ele transmite e, para conhecermos um pouco mais sobre a vida nos bastidores, ao longo desta matéria conversamos com músico e empresário Eigon Pirolo, que nos conta sobre sua experiência atrás dos palcos, na organização e direção de shows.

Pois quem nunca teve vontade de largar tudo e todos e se agregar a uma banda, saindo mundo afora em uma turnê? Esquecer do mundo real, só viver a base de rock’n’roll e tudo que ele lhe permite? Pode ser a trabalho ou só tietando mesmo… são infinitas as oportunidades de realizar o sonho de conhecer de perto e acompanhar os ídolos. O longa-metragem “Quase Famosos” (Almost Famous), situado na década de 70 e inspirado na vida do diretor Cameron Crowe, conta a história de um garoto de 15 anos, aspirante a jornalista e apaixonado por rock, que é convidado pela Rolling Stone para acompanhar a turnê de uma de suas bandas favoritas. O trabalho, que mais parecia diversão, acaba se complicando quando ele se envolve emocionalmente com a banda (e especialmente com uma de suas “groupies”) e ameaça deixar de lado sua esperada imparcialidade jornalística.

Falando nelas, quem melhor do que as groupies para representar o sonho de viver ao lado de sua banda favorita? Traduzindo a grosso modo, as Marias-guitarra (ou baqueta, microfone e demais instrumentos) são fãs incondicionais que acompanham sua banda favorita onde quer que seja. Em Quase Famosos, Penny Lane, uma das personagens principais, não se define como groupie, pois estas só se interessam pelos homens, não pela música. Ela é uma “band-aid”, em suas palavras:  “nós estamos aqui pela música. Nós inspiramos a música”.

Não importa qual for a definição, muitas garotas e garotos, de diversas gerações, já desejaram viver somente em função da música e de seus ídolos. Mas e quando o desejo de fã se transforma em profissão? O curitibano Eigon Pirolo é um dos que trabalham e vivem em função da música. Desde pequeno já preferia Raul Seixas à Xuxa e acredita que o rock foi simplesmente o caminho natural que sua vida tinha que seguir. Começou em uma banda punk local chamada ORCS, com a qual tocou em alguns festivais no Rio e em São Paulo, mas a coisa ficou séria quando entrou para a We Are Just, em 2003.

O músico e empresário Eigon Pirolo, nos bastidores de um show produzido por sua empresa (Foto: arquivo pessoal)

“Fizemos duas tours de médio porte e a vontade de viver do rock enraizou totalmente. Acredite, se você tem a oportunidade de fazer um tour com banda nunca mais nenhum trabalho vai ser interessante na sua vida, cada dia uma cidade diferente, conhecendo pessoas novas e vivenciando experiências intensas, não tem igual”.

Porém, como nem só de rock vive o homem, o guitarrista, que já não ganhava muito como tal, resolveu fazer um curso básico de áudio profissional e a partir desse momento decidiu trabalhar na área técnica. Em 2009 ele fundou a Eigon Rock Backline Rentals, uma empresa especializada em locação de backline (amplificadores de guitarra, baixo e bateria). O cara continua fazendo música, só que por detrás dos palcos agora, e já trabalhou com grandes nomes do rock, como Bad Religion, Nazareth, Goldfinger e Millecolin. O The Backstage conversou com ele sobre como é trabalhar com e viver o rock’n’roll, o espaço que o gênero tem em Curitiba e algumas peculiaridades de sua profissão:

The Backstage: Da onde surgiu a idéia de entrar no ramo dos “serviços prestados à música”? Não é qualquer um que de um dia para o outro acorda com vontade de ter empresa de locação de backline para shows e serviços de roadie…

Eigon Pirolo: Em 2004, trabalhando somente como guitarrista não estava dando conta de suprir as necessidades básicas então resolvi iniciar meus estudos em áudio profissional fazendo um curso básico de 40 horas. A partir desse momento eu decidi trabalhar na área técnica, foi um processo longo e muito exaustivo, lembro de ficar uns três anos

Logomarca - Eigon Rock Backline Rentals

ganhando R$ 50,00 por show mas sabia que era um período necessário. Eu exerço a função de guitartech (técnico de guitarra) e basstech (técnico de baixo). Vivenciando essa rotina de shows e tendo que trabalhar muitas vezes com equipamentos sucateados surgiu a idéia de montar uma empresa especializada em locação de backline (amplificadores de guitarra, baixo e bateria) com a preocupação e zelo que só um músico teria. Com essa “missão” em mente, em 2009 fundei a Eigon Rock Backline Rentals, desde então já atendi as seguintes bandas: A Wilhelm Scream (USA), Anti-Flag (USA), Bad Religion (USA), Death Angel (USA), Eluveitie (CH), Nazareth (UK), Epica (NL), Fish Bone (USA), Goldfinger (USA), Millencolin (SE), No Fun At All (SE), Pennywise (USA), Petra (USA), Real Big Fish (USA), This Is A Standoff (CAN), Marcelo D2, Raimundos e Seu Jorge.

TB: E trabalhar ali, do lado de grandes bandas como Nazareth, Bad Religion, Goldfinger, acompanhar os shows praticamente em cima do palco, como é? O profissionalismo comanda ou o lado fã pode ter um espaçozinho?

EP: A emoção é grande, eu particularmente disfarço muito bem (risos), mas realmente é emocionante ver as bandas que eu cresci escutando ali na minha frente e ainda contando comigo desempenhando uma função técnica.  O lado fã nessa hora é o combustível para me esforçar em fazer o melhor trabalho possível com a banda, respeitando a sua história e ciente que ela um dia foi importante para minha formação musical e pessoal.

TB: Morando em uma capital dita tão alternativa como Curitiba, o espaço do rock é bem garantido, vendo a situação como músico?

EP: Garantido financeiramente não é! Existem muitos lugares para tocar rock’n’roll, a cidade é inspiradora e as pessoas são antenadas em som alternativo, se você procura uma cidade que respira rock alternativo é aqui em Curitiba. Em respeito ao mercado, acredito que o Brasil esteja vivendo um período negro, tem pouco rock de qualidade na mídia, tem muita banda sendo lançada com prazo de validade vencido que são literalmente enfiadas goela abaixo no consumidor. A única válvula de escape continua sendo a internet, se você se dispuser a ficar uma hora por dia na frente do PC procurando bandas novas vai acabar encontrando muita coisa legal. Ah, vale como terapia também!

Eigon faz os ajustes finais antes do show da Leeloo (Foto: Vitor Augusto)

TB: As groupies são comentadas na matéria também como pessoas que vivem em função da música, pois estão sempre atrás de seus ídolos. Mas aí tu, trabalhando como profissional junto com a banda, o que pensa sobre elas? Elas chegam a atrapalhar na organização do show, causar muito fuzuê e irritar a direção de palco?

EP: ELAS SEMPRE ATRAPALHAM E MUITO!!  Já aconteceram “n” situações de groupies fazendo de tudo para ter acesso aos músicos. Em SP uma vez na saída do show todos já estavam dentro da van para seguir viagem quando três meninas abriram a porta, pularam literalmente dentro da van, escolheram os músicos preferidos e trocaram beijos calorosos por uns cinco minutos sem desgrudar, após o beijo deram tchau e na mesma velocidade que chegaram foram embora, todo mundo ficou pasmo, inclusive os músicos, foi o tema da conversa a viagem toda é claro. Em Curitiba no show de um rapper famoso eu estava na saída do palco orientando o carregamento do backline no caminhão quando duas meninas perguntaram se eu podia liberar elas para entrar no camarim do músico, eu disse que não tinha como fazer isso, estava trabalhando e também não tinha esse tipo de poder (roadie sempre tem esse poder, mas a gente diz que não para não ficarem atormentando). Quando comuniquei que não podia fazer isso ela ficou revoltada dizendo que há pouco tinha deixado um segurança ficar passando a mão nela por 20 minutos e em troca ele a levaria no camarim, mas ele tinha sumido sem dar explicação. Eu tive um mega ataque de riso quando ela me contou isso! Coisas do rock…

E a empreitada tem dado certo! No próximo mês a empresa do Eigon vai trabalhar nos shows de duas lendas do rock: Slash e Motörhead, ambos em Curitiba. Quando o questionei sobre como ele lidará com a emoção na hora, ele não poderia ter sido mais profissional:

“Acho que é a mesma coisa que fotografar mulheres nuas, é uma delícia, mas você não esta ali para desfrutar, tem que se concentrar no trabalho e procurar a excelência, mesmo sendo difícil”.

No site dele você tem acesso a todas informações referentes a seus serviços, vê fotos de shows e alguns vídeos sobre seu trabalho, como esse aqui, que mostra a ralação dos bastidores do show do Pennywise em Curitiba:

Comentários
  1. thaysa diz:

    Essa entrevista com o Eigon, guitarrista e Tecnico, muito booaa..o cara humilhaaa…

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  2. Edie diz:

    Fala Sr. Rockeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
    Parabéns pela matéria, parabéns para o blog também.
    Tchauuuuuuuuuu

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