Josefina Toniolo – @jositoniolo
Demorei alguns dias para conseguir escrever sobre o show do Ozzy, até agora tudo que passava em minha mente era ele entrando no palco com um sorriso gigante… Ainda não havia encontrado palavras para descrever esse momento, ainda me parece um sonho louco. Se não fossem os hematomas para me lembrar de que foi real, talvez nem eu acreditasse.
Sim, hematomas, pois ir em um show de metal requer muita força e resistência. Nenhum playboy “bombado” de academia aguentaria mais que três músicas nos lugares da frente na pista com uns 5 mil headbangers de 2 metros de altura tentando te empurrar pra frente. Homens, sim, pois era a grande maioria, as mulheres que estavam lá eram guerreiras, as que sobreviveram até o final na grade são minhas “ídolas” porque, olha, era difícil, eu não aguentei e pedi pra sair.
Chegamos no Gigantinho às 8 da manhã, os portões abriram às 6 da tarde, nem com toda a insistência e gritos das milhares de pessoas que estavam lá, os seguranças abriram os portões antes. Não é difícil ficar na fila, quando as pessoas têm algo em comum a conversa flui e o dia passa mais rápido. Os “únicos” problemas são a fome, a sede e a vontade de ir ao banheiro (que nesse caso ficava no outro lado daquela maldita rua super movimentada, transformando algo tão simples em uma missão impossível).
Quando os portões abrem e você percebe que conseguiu pegar ótimos lugares, todo o sofrimento vale a pena. Só mais três horas e o Ozzy, uma das maiores lendas vivas do rock, estaria ali na minha frente.
A banda de abertura, Gunport, tinha um som legal, as músicas eram próprias e bem tocadas, tudo nos conformes. Mas entraram mudos e saíram calados do palco, sem nenhum tipo de interação com o público. Alguns gritos de apoio se misturavam a gritos de “OZZY, OZZY” e vaias. Afinal, ninguém quer saber da banda de abertura, ainda mais quando o som não tem muito a ver com o do show principal, era um rock mais leve, com uma pegada meio pop.
Às 21 horas, pontualmente, Ozzy apareceu no palco honrando sua nacionalidade britânica. Ele foi ovacionado pela platéia que delirava, chorava, gritava e pulava alucinadamente. Depois de um tempo, quando a pedidos, conseguiu diminuir um pouco (um pouco mesmo) da gritaria, falou algumas palavras que se perdiam no meio dos gritos e começou a “Bark at The Moon”, o gigantinho veio abaixo. Sem muitos efeitos especiais, pirotecnias e essas coisas, que definitivamente não fizeram falta nenhuma naquele momento. Um show simples. sem cerimônia. Logo em seguida foi a vez da única música do novo disco que fez parte do show, a Let Me Hear You Scream, que foi muito bem aceita pelos fãs.

A terceira música foi a clássica “Mr. Crowley”, que fez o gigantinho tremer, literalmente. Enquanto o tecladista Adam Wakeman fazia a tão famosa introdução, Ozzy parecia reger um culto satânico com gestos e caras de assustar qualquer criancinha. Maravilhoso, incomparável. A “I Don’t Know” deu continuidade a loucura que tinha se instaurado naquele ginásio, totalmente lotado. A “Fairies Wear Boots” foi a primeira das cinco, da sua ex-banda Black Sabbath, que fizeram parte do repertório. Antes de começar a “Suicide Solution”, o Mr. Madman, muito simpático, incitou um “olê Ozzy” que em instantes virou um gigantesco coro.
Nos primeiros acordes da “Road to Nowhere”, uma das poucas baladas do show, muitas mãos, com alguns isqueiros e câmeras balançavam ritmicamente, em um dos momentos “fofos” do espetáculo. Mas nada supera os maiores clássicos, o hino do Black Sabbath, “War Pigs”, levou todos a loucura, provando que quem estava ali tinha “conhecimento de causa”. Desde os mais velhos, que acompanharam a carreira da antiga banda, até os mais novos curtiram aquele que foi um dos pontos altos da noite.
A “Shot in the Dark” e a “Rat Salad” (outra do Black Sabbath) mantiveram a euforia e a energia que corria nas veias de todos ali presentes. A faixa instrumental, da ex-banda do Príncipe das Trevas, contou com mais de 10 minutos de solos de guitarra e bateria que, incrivelmente, alucinaram a platéia.
A interação do baterista Tommy Clufetos em uma espécie de brincadeira com as baquetas transformou aquilo que poderia ser muito chato, como costumam ser os solos desse instrumento, em algo muito divertido. Esse momento serviu de descanso para o Ozzy que voltou para executar a “Iron Man”, clássico setentista do Black Sabbath, que transformou o gigantinho em um verdadeiro caldeirão humano, tamanha paixão pela música.
Dando continuidade, a “I Don’t Wanna Change the World” manteve o clima que encerrou o show com a “Crazy Train”, na minha humilde opinião, a música mais fantástica da noite. A performance dela ao vivo é coisa de louco, não tem como explicar a sensação e a vontade absurda de pular que essa música provoca. Nesse momento o show teve, aquele já conhecido, falso final. O pessoal meio confuso sobre o que gritar, chamava pelo Ozzy em meio a pedidos de mais um, uma zoada sonora se constituiu no ginásio. Foi quando Madman voltou ao palco e ensinou a todos como pedir mais música, puxando um coro de “one more song”.
Foi então que a música mais emocionante do show começou, gente chorando enquanto isqueiros, celulares e câmeras iluminavam o ambiente, criando uma imagem linda. Não era de se esperar menos para a clássica da sua carreira solo “Mama I’m Coming Home”.
Sua voz quase desaparecia no meio das 13 mil outras vozes que cantavam a plenos pulmões essa música. Foi lindo, foi surreal, era impossível não se emocionar, também porque, quem tivesse olhado a set list dos outros shows da turnê saberia que essa era a penúltima música.
Eis então que começa a “Paranoid”, que causou um misto de felicidade absurda e tristeza, pois eu sabia que seria a última, ela encerraria aquela que foi a melhor noite da minha vida. Ninguém ficou parado. Não tinha ninguém sem pular, erguer os braços ou “bater cabelo”. Foi realmente um encerramento com chave de ouro.
Os poderes (quase mágicos) do Príncipe das Trevas
O Ozzy é lindo, magnífico, um gentleman. Mesmo com seus 62 anos e problemas de saúde causados pelos excessos do passado, comandou as quase duas horas de show como ninguém. Regia o público como um maestro, batia palmas, corria, jogava espuma e água nele mesmo e na platéia e até dava alguns pulinhos. Quem vê aquele tiozinho, meio curvado e com passinhos curtos, chegando no palco não acredita que ele se consiga durar o show todo, e ele o fez, melhor que muito gurizão de 20 anos por aí.
Ele é uma simpatia, pegou o morcego de pano que atiraram e fingiu que ia comer a cabeça, satirizando o episódio tão famoso da sua história. Usou a bandeira do Grêmio como manto, para delírio dos gremistas, como eu, e tristeza dos colorados. Mas os tímidos gritos de desaprovação que surgiram, logo desapareceram novamente. O Ozzy é superior a tudo, até a essa rivalidade histórica.
Ao sair do local, ouvi alguém comentando algo que resume tudo: o Ozzy é um showman perfeito. É exatamente isso. Ele é ótimo e faz tudo com amor a camiseta, enchendo o palco com sua vontade de dar o melhor de si. Os músicos eram excelentes, mas quem mais me chamou atenção foi o baterista Tommy Clufetos, que destruía, literalmente, a bateria com muita força e habilidade. O medo dos fãs era a ausência do Zakk Wylde, substituído por Gus G. que agora ocupa seu posto de guitarrista. Mas, para a agradável surpresa de todos, o cara é realmente bom.
Saí de lá com a alma lavada, me sentindo no paraíso do Deus do Metal. Em novembro, quando comprei o ingresso fiquei com medo de que o desempenho dele ao vivo me decepcionasse. Mas não, para mim, o Ozzy agora garantiu seu posto de melhor do mundo, ele é O cara e duvido que alguém conteste a qualidade do seu show.
As pessoas saiam do Gigantinho praticamente flutuando de tanta satisfação. Foi onde um amigo meu perguntou: Josefina, agora já dá pra morrer tranqüila? Minha resposta não poderia ser outra além de “com certeza”. Se essa pergunta fosse feita para qualquer um no local, aposto que a resposta seria a mesma.
Existe vida pré e pós show do Ozzy e só quem teve a honra de conhecer esse segundo lado poderá entender o que estou dizendo.