Se em 2022 o emo se tornou pauta por causa de um revival no cenário pop mundial, em Porto Alegre, ele prova que sempre se manteve ativo e que não vive apenas de nostalgia. No auge do sucesso, a Fresno, no último dia 18, levou milhares de fãs ao Araújo Vianna. Fãs novos, fãs velhos (os emos mais velhos do mundo, segundo o vocalista Lucas Silveira), fãs eventuais, fãs dos álbuns, fãs dos clipes, fãs do show (meu caso, como confessei no texto sobre o primeiro show que vi da banda).
Reforçando o que eu havia percebido em abril, a Fresno mira no futuro e nem de longe foca em um passado idealizado. A banda convida o público para celebrar uma herança compartilhada nas últimas duas décadas, com um desejo colossal de aproveitar aquele momento em comunhão, mas sempre sinalizando que eles ainda têm muito para viver e realizar.
Intercalando clássicos da carreira como “Cada Poça”, “Diga”, “Quebre as Correntes” e “Milonga”, com sucessos do Vou Ter Que Me Virar, como “Fudeu”, “Casa Assombrada”, “Já Faz Tanto Tempo” e “Eles Odeiam Gente Como Nós”, Lucas (vocal e guitarra), Vavo (guitarra) e Guerra (bateria) – acompanhados por Lucs Romero (teclados), Tom Vicentini (baixo) e pela maravilhosa Michelle Abu (percussão), a banda, em perfeita sintonia com a plateia, confirma que nossas identidades são construídas historicamente, em ambientes sociais, através de pertencimentos coletivos. O emo não é apenas um movimento de mídia ou um estilo caracterizado através de um perfil em uma revista de adolescente. O emo, hoje, se consolida como uma das maiores subculturas do país, muito em função de artistas como Lucas Silveira terem tomado o rótulo para si, em um processo de afirmação e que, pasmem, está conquistando mais adeptos do que no começo dos anos 2000.



Apesar de manter as características fundamentais do gênero musical e de abastecer o íntimo dos fãs mais velhos que lotavam o Araújo Vianna, a Fresno caminha em direção a uma fase diferente – e complementar – da que apresentou para seu público 23 anos atrás. Se a banda já havia encontrado seu caminho de expressão e liberdade, com o VTQMV – e a turnê do VTQMV – esses pilares se incorporaram ao ideal de resistência e modernidade, formatando sua performance como uma das mais explosivas do rock nacional.
E foi com essa performance explosiva, levando o público às lágrimas e às gargalhadas (vocês sabiam que os emos gaúchos se cagam rindo quando o Lucas fala alguma merda? Pois sim), numa troca mútua com a audiência, que a Fresno encerrou o melhor ano da carreira. E encerrou, também, os trabalhos desse blog em 2022.
Que venha 2023! Até o próximo show 😉