Vou Ter Que Me Virar: Fresno faz show histórico em Porto Alegre

Posted: 25/04/2022 in Lançamentos, Porto Alegre, Rock, Shows
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Não vejo outra forma de começar esse texto, senão com uma exposição: eu nunca fui ouvinte da Fresno. Até pensei em omitir esse dado, mas achei que seria desonesto da minha parte. Na infância/adolescência, fui cooptada pela vertente bagaceira & chinelona do rock produzido em Porto Alegre, então toda e qualquer manifestação musical diferente disso foi deliberadamente ignorada por mim. Mas isso não significa que eu não tenha acompanhado, como observadora, a história da banda: vi a Fresno surgir, sair de Porto Alegre, assinar com uma grande gravadora e liderar uma subcultura que “voltou” (embora, para os fãs, nunca tenha ido a lugar algum) à tona: o emo.

Mesmo sem ser ouvinte, sempre achei a Fresno muito foda. Uma banda madura, com uma coerência identitária que não é abalada pela troca de sonoridade. Muito pelo contrário: a coerência é reforçada a cada lançamento, onde a banda se mostra cada vez mais livre de amarras sonoras e escreve sua própria narrativa na história da música nacional. E essa liberdade aparece não só na parte sonora, mas também na composição das letras – e no salto que a banda deu nos últimos discos, em especial no sua alegria foi cancelada e no excelente Vou Ter Que Me Virar (sim, esse eu ouvi várias vezes) –, que passou pelo palco do Araújo Vianna, em Porto Alegre, no dia 23 de abril.

Foto: Carol Govari

A banda estreou sua nova turnê na cidade onde tudo começou, se apresentando para um auditório repleto de fãs, que fazem parte dessa comunidade há mais de duas décadas, e também para novos espectadores (o/) que, desconfio, saíram do Araújo muito bem impressionados. A Fresno fez um show pesado, político, profundo e poético. Chorou a morte de um amigo (o show foi dedicado a Rafael Kent), saudou a vida de todos que ali estavam após dois anos de pandemia. Intercalou os maiores hits com canções do novo disco, mesclando baladas românticas com punk rock e música eletrônica. Falou que eles odeiam gente como nós e que em cada gota dessa chuva (que, inclusive, cai agora sobre Porto Alegre) você vai sentir minhas lágrimas. Retratou uma geração que tem que se virar, que é a maré viva, e que só com muita terapia consegue (ou ao menos tenta) espantar os fantasmas dessas malditas casas assombradas. Acho que todo show tem uma certa dimensão terapêutica, mas, honestamente, eu nunca tinha visto um público tão expressivo e entregue. O show da Fresno não tem uma dimensão terapêutica, ele é a própria terapia: o choro de soluçar, a lágrima que escorre no canto do olho, o grito, o sorriso, a mão batendo no peito; tudo rumo à uma libertação, mas não sem antes passar pelos tortuosos caminhos que se chocam dentro de nós.

Arrisco dizer – mesmo sem muita propriedade – que a Fresno está em um dos melhores momentos da carreira. Quiçá no melhor momento da carreira NO MUNDO – como tudo que nasceu em Porto Alegre. Veja o show e me diga se eu estou errada, por favor. Uma banda conectada, sólida, com uma transparência e experimentação musical que agrada não só aos antigos fãs, mas também atrai novos admiradores; seja por causa do posicionamento político, seja pela particularidade que os diferencia da maioria das bandas do atual cenário (mainstream) do rock nacional, seja pelas cada-vez-melhores composições do Lucas, que faz um duo mano-a-mano com o maior hitmaker da música pop brasileira na maravilhosa “Já Faz Tanto Tempo”, um dos pontos mais altos do show.

Sei que os ingressos estão esgotados na maioria dos lugares, mas, se tu puder, arrume um ingresso e presencie esse momento da banda. Garanto que tu não vai te arrepender.

Bom, acho que esse texto é bem claro: em 2022, eu virei fã da Fresno.

Comentários
  1. […] fãs eventuais, fãs dos álbuns, fãs dos clipes, fãs do show (meu caso, como confessei no texto sobre o primeiro show que vi da […]

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