Archive for the ‘Hip Hop’ Category

Meu primeiro show pós-licença-maternidade aconteceu em meio ao caos de uma Porto Alegre que sofria com as chuvas – e com o descaso das autoridades. Bairros destruídos, árvores caídas no meio do asfalto, sinaleiras desligadas, mais de um milhão de pessoas sem luz, e com o prefeito pedindo motosserra emprestada à população e tentando falar com a empresa – que privatizou – via Twitter (X). Parece piada, mas não é. Ainda hoje, cinco dias após o show, milhares de pessoas seguem sem água, sem energia elétrica e sem assistência do governo local. E a noite de 18 de janeiro serviu como uma mola propulsora, onde o Planet Hemp endossou e avivou ainda mais o sangue no olho do público que lotava o auditório Araújo Vianna.

 A banda veio à capital gaúcha com a turnê do excelente Jardineiros, álbum que levou duas categorias no Grammy 2023 (“Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa” e “Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa”), lançado 22 anos após o último disco de inéditas da banda.

Eu nunca gostei muito de fumar maconha, mas sempre adorei os maconheiros mais famosos do Brasil. Na adolescência, fui completamente capturada pela sonoridade e pelas letras do Planet Hemp, que me faziam refletir sobre questões políticas, sociais, econômicas, culturais e raciais. Pra mim, até hoje, segue sendo uma das melhores e mais relevantes bandas do país. No público, embora eu parecesse a única com os olhos vermelhos por outro motivo (quando entraram no palco, uma energia absurda tomou conta do auditório e eu instantaneamente comecei a chorar), pessoas de diferentes faixas etárias se amontoavam, da maneira mais gentil possível, para chegar mais perto da banda. Aliás, foi a primeira vez que eu vi um show no Araújo Vianna sem grades e com a galera grudada no palco desde o primeiro segundo do show. Pode parecer folia, mas não foi: BNegão fez o convite e, quem quis, chegou perto, e quem não quis, ficou em seus respectivos lugares marcados.

Todas as fotos por Leandro Monks

Com um show extremamente político – e não poderia ser diferente –, o Planet tocou nada menos do que 35 músicas do seu repertório. Focado, óbvio, no álbum mais recente – mas óbvio, também, sem deixar os clássicos de lado –, a banda esteve no palco por duas horas. BNegão (vocal), Marcelo D2 (vocal), Formigão (baixo), Pedrinho (bateria), Nobru (guitarra), DJ Venom e Daniel Ganjaman – produtor do disco, que do alto do seu praticável se revezou entre guitarras e teclados – falaram muito sobre os problemas do Rio de Janeiro, mas vinculando o tempo todo com os problemas de Porto Alegre e de todo o país. Os músicos fizeram reverência à cena musical local – em especial a dos anos 80 e às bandas Defalla, Garotos da Rua, TNT e Os Cascavelletes, e não deixaram de citar também seus contemporâneos: Comunidade Nin-Jitsu, Da Guedes e Ultramen (com um pedacinho de “Dívida” no meio de “Contexto”). Ainda, Mateus Aleluia e Os Tincoãs, Chico Science & Nação Zumbi, Mr. Catra e Ratos de Porão foram homenageados. Marcelo Yuka, um dos principais parceiros do grupo, foi lembrado durante todo o show, especialmente porque o músico faleceu em 18 de janeiro de 2019 e estava fazendo cinco anos de sua morte naquela noite. Rolou também a participação especial do guitarrista Jacksom, ex-integrante da banda, e que esteve na fatídica prisão do Planet em 1997.

BNegão e D2 reforçaram a importância das parcerias e do coletivo, citando a Opinião Produtora como decisiva na carreira do Planet, visto que Porto Alegre foi uma das primeiras cidades onde a banda aconteceu, de fato, depois do Rio de Janeiro. Da plateia, um coro emocionado mostrava que os oito anos que POA esperou para rever o Planet Hemp valeram a pena; todo mundo entregue, com pouquíssimos celulares ligados, conectados através do que realmente importa: a música.  

No fim, saímos todos do Parque da Redenção com a certeza de que o Planet Hemp precisava mesmo voltar. Eles estavam fazendo muita falta no atual cenário mainstream (embora eles sigam com a postura underground) para bagunçar, apontar, colocar o dedo na ferida, provocar. Precisávamos de uma banda com a sonoridade inconfundível do raprockandrollpsicodeliahardcoreragga e com essa atitude contestadora, sem papas na língua, falando sobre desigualdade, violência, política, legalização da maconha; criticando o sistema, confrontando a censura (2024 e estamos falando de censura!), desafiando as normas sociais e com uma postura de absoluta resistência. O tempo fez muito bem para o Planet Hemp. E eu espero que eles taquem muito, muito, muito, MUITO fogo nessa porra agora.

Depois de anos sem pisar em Porto Alegre, Emicida apresentou seu mais novo show, AmarElo, em duas noites de ingressos esgotados no auditório Araújo Vianna.

Em um mundo em decomposição, Emicida, durante as 3 horas do show de domingo, deixou explícito por que optou por escrever como quem manda cartas de amor.

Com contornos de comunhão, AmarElo celebra o lado bonito da vida. Isso não significa esquecer que a vida tem um lado pesado, feio, angustiante; significa que a grandeza da humanidade merece ser celebrada. E, vamos combinar, Emicida sempre foi um teimoso: desde Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que Eu Cheguei Longe, o artista paulistano encucou que, através da música, ia fazer o povo sorrir. Ele sabe que o sorriso, em tempos sombrios, é um ato revolucionário e político. E é na música, através dela, que Deus, independente da religião, se faz presente. Isso me lembra daquele show de 2015, que ele fez no Opinião, onde cantávamos beeeem alto que a música é a nossa religião. Emicida também não esqueceu seus tempos de Opinião: agradeceu à equipe da produtora, dizendo que o bar não é apenas um dos mais importantes do cenário de Porto Alegre, mas do cenário brasileiro.

Foto: Vic Martins

Assim como lembrou dos tempos de Opinião, Emicida lembrou de quem veio antes dele: Wilson das Neves, Lupicínio Rodrigues, entre tantos outros. Fez uma reverência aos artistas do passado, lamentando que a indústria reserve o esquecimento para nomes tão importantes da música brasileira. Ele faz isso porque sabe que a ancestralidade é a vida enquanto possibilidade; é a reivindicação da presença como algo crível, e que combater o esquecimento é uma das principais armas contra o desencante do mundo, como nos coloca Luiz Rufino. O não esquecimento é indispensável para a invenção de novos seres, livres e combatentes de qualquer estrangulamento do poder colonial. É no não esquecimento que Emicida faz a ponte entre Wilson das Neves e Cristal (que subiu ao palco para cantar durante o bis), alarga o presente, garante a continuidade, cultiva a troca, a soma, e o passar de mãos em mãos. Afinal, o que é a música, senão a capacidade de executar o coletivo?

Essa invocação do coletivo e da ancestralidade é algo que vemos desde sempre em sua obra. Mas, agora, em AmarElo, isso vem de uma forma diferente – menos combativa, talvez, e mais em defesa da reconstrução da vida enquanto possibilidade produzida nas fissuras, nas periferias, em meio à escassez do mundo. Não à toa, foi um álbum que serviu de boia para que muita gente não se afogasse durante a pandemia. E agora, nesse retorno, Emicida faz questão de frisar que quando ele e público se encontram novamente, o coração sente, o cérebro entende, e a magia se faz. Sem o público – que canta, dança, grita, chora e tem liberdade e acolhimento para fazer até pedido de casamento no palco –, aquele show não passaria de uma passagem de som.

Com um cenário espetacular e uma banda que não tem um mísero defeito – inclusive pronta para os imprevistos, improvisos e uma hora adicional de show –, temos em AmarElo a comunhão das sonoridades das ruas nas batidas de DJ Nyack, no pop das guitarras de Michele Cordeiro, no groove do baixo de Rodrigo Santos, na bateria de Jhow Produz e na melodia dos vocais de Thiago Jamelão. Tudo isso amarrado pela percussão de Sivuca – afinal, é através dos tambores que ocorre a sacralização do corpo. Os tambores contam histórias para que os corpos respondam: essa é a importância do tambor na nossa cultura de povo, e isso Emicida vem nos contando desde Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, quando fez a travessia para o continente africano e voltou cheio de referências para, cada vez mais, amplificar que a presença negro-africana nas bandas de cá do Atlântico é um emblema do devir-negro no mundo. E que não é por que não passamos por uma situação que deixamos de senti-la: é justamente essa capacidade que nos humaniza (e isso eu aprendi com ele lá em “Cê lá faz ideia”). 

Em uma era onde estamos destinados a absorver conteúdos instantâneos, de músicas prontas, com 15 segundos, onde poucos preparam e ninguém espera, AmarElo é um show que burla o algoritmo. Que golpeia a lógica dominante, que recria mundos e nos encanta das mais variadas formas. Por isso e por tantos outros sentimentos que extrapolam este texto que AmarElo extravasou as paredes do disco voador que é o Araújo Vianna e, somente às 22h46min, quando evocou “Trem das Onze”, que nos despedimos da memorável noite de 2 de abril.

E eu mal posso esperar pelo próximo encontro com Emicida.

Outras fotos do show (todas por Vic Martins):

Emicida volta a Porto Alegre na semana que vem, nos dias 1 e 2 de abril, para apresentar o espetáculo “AmarElo” no Araújo Vianna. O show conta com canções do álbum, como a faixa-título e “Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo)”, intercaladas com sucessos que marcaram a carreira do cantor. Os ingressos para o dia 2 estão disponíveis na Sympla.

SOBRE O PROJETO

Para um mundo em decomposição, Emicida optou por escrever como quem manda cartas de amor. O resultado desse exercício é o novo projeto de estúdio do rapper paulista, AmarElo, em que ele propõe um olhar sobre a grandeza da humanidade. Agora, o artista leva este trabalho para os palcos. O show tem se revelado uma grande experiência, uma celebração com contornos de comunhão. No repertório as novas canções, como a faixa-título e “Eminência Parda”, além de músicas que marcaram a sua carreira.

O encontro do repertório de AmarElo com o público foi abreviado por conta da pandemia. Durante o período em que Emicida esteve longe dos palcos, as músicas do trabalho ganharam uma outra dimensão, se tornando ferramenta de cura, companhia e esperança para muitas pessoas. Com a retomada dos shows, uma nova camada do experimento social e da relação dos fãs com o artista e com aquelas canções foram criadas. Depois de ter passado por várias capitais do Brasil e do mundo com ingressos esgotados e pelo palco de importantes festivais, o rapper paulistano chega, finalmente, a Porto Alegre com a experiência completa do show de AmarElo. 

“Durante a pandemia, AmarElo fez parte da vida de muita gente e fico imensamente feliz por eu poder ser um instrumento da música por onde algo bom pode fluir”, comenta Emicida. “O abraço que a gente não pode se dar por tanto tempo, finalmente tem data para acontecer”, ele complementa.

O espetáculo de AmarElo traz — por meio do seu setlist e de sua cenografia e telões — memórias do que foi o show histórico de lançamento do mesmo no Theatro Municipal de São Paulo. Canções do álbum, como a faixa-título, “Ismália” e “Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo)”, conduzem uma experiência de celebração coletiva, que ganha momentos ainda mais potentes quando intercaladas com faixas que marcaram a carreira de Emicida. 

“Desde que iniciamos essa turnê, o espetáculo evoluiu bastante e vai ser especial chegar com ele em Porto Alegre”, entrega Emicida.

SOBRE O ARTISTA

Emicida nasceu em 1985, em São Paulo, onde vive e exerce a sua arte. Desde que lançou a sua primeira mixtape, “Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que Eu Cheguei Longe…”  (2009), o rapper construiu uma trajetória que foi conduzida como um experimento social. Assim, não limitou a sua criação à música. Por meio da Laboratório Fantasma, empresa que surgiu para gerenciar a sua carreira, mas que hoje atua como plataforma de entretenimento e de conteúdo transformador, ele deixa a sua marca na música, na moda, na literatura, na sociedade e em todo projeto a qual se dedica. Rapper, escritor, empresário, apresentador e pensador contemporâneo, Emicida tem dois livros infantis lançados “Amoras” (2018) e “E Foi Assim Que Eu e a Escuridão Ficamos Amigas” (2020), além de uma antologia que celebra os 10 anos da sua primeira mixtape. Fez história nos três desfiles que realizou na SPFW, principal semana de moda do Brasil, levando representatividade para passarela. Nos seus trabalhos musicais, ele acumula parcerias com Caetano Veloso, Wilson das Neves, Zeca Pagodinho, Vanessa da Mata, Pabllo Vittar, entre outros nomes. A discografia de Emicida lista ainda a mixtape “Emicídio” (2010), os EPs “Sua Mina Ouve Meu Rep Tamem” (2010), “Doozicabraba e a Revolução Silenciosa” (2011) e os discos “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” (2013), “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa” (2015) e “AmarElo” (2019). Este último, inclusive, ganhou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa e o elevou ao panteão da música brasileira. AmarElo também marcou história pelo seu show de lançamento ter acontecido no Theatro Municipal de São Paulo. A apresentação serviu de fio condutor para o celebrado documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem, disponível na Netflix, além de ter chegado nos aplicativos de áudio.

SERVIÇO

Onde:
Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685)

Quando:
01 de abril de 2023, sábado, às 21h (esgotado)

02 de abril de 2023, domingo, às 20h

Abertura da casa:
19h30

Classificação:
16 anos

Realização: Opinião Produtora

Pontos de venda:

Bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – somente em dinheiro):

Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2611 – Loja 249 – Jardim Lindóia – Porto Alegre)
Horário funcionamento: das 10h às 22h.

Bilheteria Araújo Vianna (sem taxa de conveniência – em dinheiro e cartão à vista):
Aberta somente no dia do evento 2 horas antes do início dos shows.
Av. Osvaldo Aranha, 685 – Bairro Bom Fim

Demais pontos de venda (sujeito à cobrança de taxa de conveniência):
Online: www.sympla.com.br/araujovianna

Informações:

www.araujoviannaoficial.com.br
www.facebook.com/araujoviannaoficial
www.twitter.com/araujovianna_

(51) 3211-2838

Fonte: Daniela Sangalli
Assessora de Imprensa – Opinião Produtora
imprensa@opiniao.com.br

Na quarta faixa de Sobre Viver, seu álbum mais recente, Criolo avisa: “Se o mundo é terra de ninguém/ E o mal quer te subtrair / A fé do povo brasileiro / Não vai te deixar cair”. Força, garra, luta, fé. E foi em busca dessa fé que me dirigi ao Araújo Vianna, sábado passado, dia 23, para a apresentação do rapper paulistano.

O fato de o show ter começado com “Ogum Ogum” que, no álbum, tem a participação de Mayra Andrade, me remeteu imediatamente à festa de sabores e saberes que se encontram para inventar o Brasil generoso do qual fala Simas Rufino em Corpo Encantado das Ruas. O Brasil (e o povo brasileiro) de que/quem Criolo fala, é o Brasil que desafia o Brasil tacanho, boçal, mesquinho, fundamentalista, que vende a Amazônia no eBay.

Criolo, em Sobre Viver, mistura o rap, o ragga, o samba e outros gêneros musicais gerados e transformados em territórios afro e afrodiaspóricos. Para amplificar essas sonoridades, é muito bem acompanhado por DJ DanDan e os instrumentistas Ed Trombone, Bruno Buarque e Maurício Badé. Inclusive, é através dos tambores de Bruno, Maurício e Ed que ocorre a sacralização do corpo pela dança; um diálogo – ritualístico, até – dos corpos de todos os presentes com os tambores, especialmente em “Moleques São Meninos, Crianças São Também”.

Criolo / show Sobre Viver (Foto: Carol Govari)

Enquanto personagem subalterno do sistema que odeia ver pretos ganhando dinheiro, Criolo inventa sobrevivência e sociabilidade. Divide a indignação, mas também divide o amor. Em um momento em que o Brasil se desmantela num oceano de ódio, Criolo usa o ódio para fazer poesia. Bate palma, sorri, encanta. Fala de dor, de violência, de solidão, de revolta, mas, como um bom brasileiro, sabe que o que espanta a desgraça é a festa. E Criolo deixa muito explícito, em suas letras, que não se faz festa porque a vida é boa: é justamente o contrário. O povo faz festa porque a vida é dura. Sem o descanso na alegria, ninguém aguentaria. Por isso, Criolo celebra. E celebra, inclusive – e por mais dilacerante que a dor seja – a vida de quem não está mais aqui, como em “Pequenina”, que não apareceu no show, mas que dialoga com a potente “Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais”.

De “Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer” até “Aprendendo a Sobreviver” – e sem deixar de passar por “Não Existe Amor em SP”, “Menino Mimado” e “Grajauex” – Criolo lembra que a ocupação das ruas atormenta o poder. Especialmente quando a ocupação é feita pelos corpos que transgridem a lógica colonial e o sistema que diz que tu não é nada.

A música do Criolo restaura uma humanidade que insiste em desaparecer no meio da violenta desumanização que nos acomete enquanto sociedade.  

Eu precisava de fé para enfrentar o desmonte da educação que estamos vivendo, e por isso fui no show do Criolo. Mais do que fé, encontrei a pulsão necessária para continuar lutando contra todo esse sistema que odeia gente como a gente. A luta por outras educações, experiências, linguagens e gramáticas, como apontou Rufino, dessa vez em Pedagogia das Encruzilhadas, é uma luta pela vida.

E, como disse Criolo, a real revolução um dia virá com arte e educação. Por isso, seguimos.

A 14ª edição do festival Coquetel Molotov aconteceu no dia 21 de outubro, no Caxangá Golf & Country Club, na cidade de Recife/PE. Forram mais de 12 horas de programação – incluindo shows, palestras, aulas de yoga – em 5 espaços diferentes, entre eles o Espaço Uplanet, onde aconteceram as aulas de yoga, palestras com diferentes temas e o Som Na Rural, de Roger de Renor (“cadê Roger? cadê Roger? cadê Roger? ô!”), um dos mais importantes agitadores culturais de Pernambuco, onde discotecaram DJs conhecidos na cidade, além de Lia de Itamaracá (conhecida como a maior cirandeira do país) e os rappers da Batalha da Escadaria (tradicional encontro de MCs do centro do Recife).

Os palcos Aeso, Velvet e Sonic receberam artistas locais, nacionais e internacionais. O palco Aeso ficou responsável por apresentar os novos talentos da cena musical brasileira, investindo muito na cena pernambucana. Os artistas que se apresentaram no Palco Aeso foram Pupila Nervosa (PE), Cellestino (PE), Lady Laay (PE), Gorduratrans (RJ), Soledad (CE) e Romero Ferro (PE), que recebeu Priscila Senna, vocalista da banda Musa, para cantar “Novo Namorado”, resultando em um dos momentos mais animados do palco Aeso (mesmo com a chuva que insistia em cair no Recife).

 

Ao mesmo tempo, no Palco Sonic, aconteciam os shows de Giovani Cidreira (BA), Kalouv (PE), banda instrumental que apresentou o disco Elã, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante (SP), tocando pela primeira vez no Recife, Kiko Dinucci (SP), com o disco Cortes Curtos, Hinds (Espanha), banda composta só por mulheres, uma das mais aguardadas da noite, Curumin (SP), que apresentou o disco Boca, lançado pelo Natural Musical, Alessandra Leão (PE), em turnê com o disco Língua, Afrobapho (BA), nome do show do grupo The Black’s, que tem se destacado no cenário de dança baiano, NoPorn (SP), projeto da artista plástica Liana Padilha, e Mamba Negra (SP).

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Arnaldo Baptista e seu “Sarau o Benedito?” (Foto: Carol Govari Nunes)

Os shows no Palco Velvet começaram às 18h com ninguém menos que Arnaldo Baptista, acompanhado apenas de um piano de cauda, onde apresentou o show Sarau o Benedito?. Músicas marcantes de toda a carreira do mutante, como “Balada do Louco”, “Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?” e “Não Estou Nem Aí”, não podiam faltar no longo repertório, o qual ele cantou sem nenhuma pausa e quase sem interações com o público. No telão, projeções de desenhos e pinturas de Arnaldo colaboravam com o clima totalmente intimista e subjetivo da apresentação.

Na sequência, O Terno, acompanhado de um trio de metais, fez um show pesado ao apresentar o novo disco Melhor Do Que Parece (também lançado pelo Natura Musical). Vindo dos EUA, o grupo DIIV, liderado pelo vocalista e guitarrista Zachary Cole Smith, apresentou suas influências de shoegaze, krautrock e dream pop.

Luiza Lian trouxe um espetáculo multimídia para o Palco Velvet. A cantora paulistana apresentou o show “Oyá Tempo, que se destaca por suas composições que evocam divindades divinas de religiões afrobrasileiras. Um show esteticamente muito bonito, diga-se de passagem.

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Linn da Quebrada apresentou o disco Pajubá (Foto: Carol Govari Nunes)

Uma das atrações mais aguardadas dessa edição do Coquetel Molotov era Linn da Quebrada, MC que sacudiu o cenário brasileiro com o hit “Enviadecer”. Seu novo disco Pajubá, produzido com financiamento coletivo na internet, foi entoado por uma multidão de fãs que se aglomeravam desde cedo no Palco Velvet à espera da apresentação da artista. Foi, de longe, o público que mais me chamou a atenção – mais emocionado, mais animado, mais ativo, mais vivo. A artista conversou com sua audiência durante toda a apresentação, falando da importância da diversidade, da resistência, da união, da luta e, claro, muita diversão. Certamente uma das performances mais marcantes da noite, Linn da Quebrada é a prova de que representatividade importa. Para fechar com chave de ouro, Nega do Babado, cantora muito importante na cena do brega recifense, fez uma participação no show de Linn com o que foi apresentado como sendo o “hino de Recife”, a canção Milk Shake.

Depois de Linn foi a vez de Rincon Sapiência, artista da cena de hip hop paulistana e que dialoga com ritmos que vão desde a capoeira até o blues, passando pelo coco e afrobeat. O rapper também convidou uma artista local para participar de seu show: Lia de Itamaracá, ciranceira que já tinha se apresentado no Som Na Rural. Rincon apresentou o disco Galanga Livre, lançado neste ano, que foi inspirado, entre outras coisas, na literatura de cordel e na MPB.

 

Fechando o Palco Velvet, os baianos do Attooxxa misturaram ritmos baianos com diferentes remixes e batidas eletrônicas, uma verdadeira convergência de sons para não deixar ninguém parado. Muito do “pagodão”, ritmo periférico soteropolitano, aparece nas composições do grupo.

Assim terminou a edição de 2017 do Coquetel Molotov, a primeira que presenciei e fiquei muito bem impressionada com a organização, line up e ótima estrutura oferecida ao público.

Uma dica pra quem perdeu o festival no dia 21 é ficar ligado nos shows que acontecerão  no dia 28:

O Instituto Conceição Moura apresenta No Ar Coquetel Molotov 2017 – etapa Belo Jardim.
Local: Parque do Bambu – R. Antônino Gonzaga, 363 – São Pedro
Data: 28.10
Horário: Shows a partir das 16h.
EVENTO GRATUITO

Outras informações: http://coquetelmolotov.com.br/novo/anunciados-os-grupos-selecionados-da-convocatoria-2017-do-no-ar-etapa-belo-jardim/