Posts Tagged ‘Opinião’

Carol Govari Nunes – @carolgnunes

Ela voltou com o pé na porta: chegou chegando com SETEVIDAS (a música) na abertura do show, não deu tempo para adaptações e nem tempo para a galera respirar entre uma música e outra. Sem pisar no palco do Opinião com sua banda principal há quase três anos, Pitty retornou sedenta ao bar na última quinta-feira, 21, para o show de lançamento do seu novo álbum. Iniciando pontualmente às 23h, o show de mais ou menos 1 hora e 45 minutos apresentou quase todas as músicas novas, além de hits dos outros discos, excitando o público a cada acorde tocado.

A mudança da disposição dos instrumentos no palco, que trouxe Duda e sua bateria para frente, fez com que a performance da cantora fosse enriquecida pela maior mobilidade, a deixando solta pelo palco. Pitty dança, pula, se mexe livremente, circula entre os músicos e se apresenta muito melhor do que antes. Um telão, que agora faz parte do show, é muito, muito interessante. E quando eu digo que “faz parte” é porque eu acredito que ele realmente integra o show, não está ali somente como suporte visual. Se é para ser assim, eu não sei, mas eu me perdi várias vezes naquelas imagens. Ponto alto para a nova iluminação de palco, que também está demais.

21

A banda numa linha de frente, o que deixou o show muito mais interessante (Foto: Carol Govari Nunes)

Se dor exposta é pra doer, Pitty mostra, no SETEVIDAS, que a dor faz parte da nossa existência e que é tão natural quanto os momentos de alegria. Ela foge da obrigação de ser necessariamente feliz e não minimiza seus sofrimentos – muito pelo contrário –, deixa que eles transbordem em suas composições, transformando-os em um show brilhante e cheio de vida, porque a vida é composta de tudo isso.

SETEVIDAS (música, clipe, disco, turnê) é um renascimento, e só renasce quem morre. Se Pitty não tivesse morrido algumas vezes, ela não teria voltado mais experiente, mais sensual, mais autêntica, mais provocativa, mais livre, mais viva. Pitty nunca foi do time dos artistas que fazem músicas fofas (doces, sim) para relaxar, e sim músicas para provocar, para impulsionar, para questionar, para exorcizar e refletir. Não sei se todo mundo entende o que eu quero dizer, mas tenho certeza de que quem acompanha a sua carreira desde sua primeira respiração afobada em “Máscara” sabe do que eu estou falando.

Não digo que fiquei surpresa com o show, pois sei que a banda nunca fica estagnada e sempre aparece com novidades, mas fiquei muito bem impressionada e rendida. Por mais que eu já tivesse assistido a alguns vídeos na internet, nada no youtube consegue transparecer a essência de uma música executada ao vivo. No palco, que, para mim, é onde tudo faz sentido, Pitty liberta seu instinto mais primitivo e não, não tem domador. Por isso aconselho: se você puder, vá ao show e presencie esse retorno cheio de vida, de garra e de ousadia.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Entre os dias 09 de janeiro e 17 de fevereiro acontece, em Porto Alegre, o 14º Porto Verão Alegre, evento apresentado pela Ultragaz, Zaffari e Banrisul. Nele, são oferecidas diversas opções culturais a preços populares ou gratuitos. Dentro da programação, há o “Discografia Rock Gaúcho” que acontece nos dias 4, 5, 6 e 7 de fevereiro no Opinião, com realização da Olelê Music.

Por e-mail, Leandro Bortholacci, proprietário da Olelê Music, conversou com o The Backstage e contou como está sendo a produção para o evento.

DSC03512

A Bidê ou Balde toca seu último disco “Eles são assim. E assim por diante” na segunda noite do Discografia Rock Gaúcho (Foto: Carol Govari Nunes)

The Backstage: O Discografia Rock Gaúcho faz parte da programação do Porto Verão Alegre 2013. Como a Olelê Music vai produzir esses 4 dias de show?

Lelê Bortholacci: Será uma verdadeira “correria”. Produzir shows em dias seguidos gera muito trabalho. São poucas horas de sono e muita vontade. Mas, graças a DEUS, tenho uma equipe absolutamente competente e sei que irão tirar de letra. Ainda teremos o apoio do pessoal da Mezanino e da Mais Além (produtoras do Porto Verão Alegre) e da Opinião Produtora. Faremos o melhor possível para que o público lote os 4 dias de shows e saiam de lá satisfeitos. O sucesso dessa edição pode transformar o DRG num evento fixo dentro do calendário do PVA. Estamos trabalhando nesse projeto há mais de 150 dias. Os shows serão a conclusão de todo esse trabalho!

TB: Essa é a 14ª edição do Porto Verão Alegre. Vocês já haviam participado dessa programação antes?

L: Nunca. O DRG surgiu em 2010 no Beco, com shows únicos. Depois mudei pro Opinião e passei a fazer dois shows por noite. Mas a falta de patrocínios e apoio me fez deixar o projeto em “stand by”. Numa conversa com o Zé Victor Castiel surgiu a oportunidade de voltar e num formato ainda melhor: de graça para o público!

TB: O Discografia Rock Gaúcho do ano passado também foi realizado por vocês. Como vem sendo o trabalho da empresa nesses eventos significativos pra cultura do rock local?

 L: Na realidade o projeto está parado desde Outubro de 2011, como eu falei acima, pela falta de apoio e patrocínios. É muito difícil fazer eventos sem esses apoios. Com esta oportunidade de fazermos a parte musical do PVA e com o apoio ESSENCIAL da Petrobrás, voltamos a ter ânimo para apostar em projetos novos. O DRG é uma ideia inovadora, pois os artistas podem tocar ao vivo canções que nunca fizeram parte do repertório de seus shows, apenas foram gravadas em discos. Esse é o grande “ineditismo” do projeto. Para o músico é extremamente gratificante poder tocar pela primeira vez ao vivo uma canção sua que está apenas registrada em seu disco. E o mesmo vale para o fã que estará lá pra ouvir.

Tenho um carinho especial por esse projeto e quero muito que ele dê certo!
O rock gaúcho tem material para esse projeto durar muitos anos. Existem dezenas de discos que eu quero fazer!

TB: Com mais de 15 anos de atividade a Olelê já viu e participou de muitos períodos do rock’n’roll. O que mudou na cena de Porto Alegre desde o final dos anos 90, e como você enxerga o atual momento da música local?

 L: Creio que a mudança mais significativa é a forma como se consome música atualmente. O acesso está mais fácil e isso acaba “espalhando” o público. Antes eram menos bandas e menos shows, onde mais público comparecia. Hoje, com o aumento do número de artistas é normal que o público seja menor; e temos uma quantidade maior de shows. Infelizmente quem consome música não tem grana pra ir a todos. Até nesse sentido, batalhamos para que as entradas pro DRG fossem gratuitas.

DSC04596

A Cachorro Grande toca o disco homônimo dia 7 de fevereiro, no Opinião (Foto: Carol Govari Nunes)

 TB: É crescente o número de bandas que saem do RS e tentam a vida no sudeste do país como, por exemplo, a Cachorro Grande, que é uma banda do casting da Olelê. Por que é mais produtivo sair de Porto Alegre e se fixar em São Paulo, sendo que o RS tem uma cena roqueira muito forte?

 L: Na realidade, o rock gaúcho é uma referência em todo o Brasil. Com as mudanças ocorridas no mercado (as mesmas que eu citei na resposta anterior) acabou sendo uma necessidade para o artista ter “mais destaque”, sair daqui. A centralização dos grandes meios de comunicação é em São Paulo e Rio, não há como negar. Se o artista/banda quer atingir um mercado “nacional”, tem que sair daqui. Para conquistar mais espaços em mídia, tem eu estar perto desses grandes veículos. Se o Jô Soares, por exemplo, quer uma entrevista e um musical com a Cachorro Grande, basta um telefonema pra nossa produção que nós passamos a eles o endereço do “QG” da banda em São Paulo e eles mandam a van buscar na data e horário combinados. Se a banda morasse em Porto Alegre, teria que ser providenciadas passagens aéreas, hospedagem, alimentação, etc e isso aumentaria muito o custo. Ou seja, inviabiliza. O mesmo vale pra quem faz eventos/shows nas regiões acima de São Paulo. Se uma empresa quer levar uma banda de rock gaúcha para um show no Nordeste, por exemplo, e tiver que pagar passagens de Porto Alegre, isso já vai inviabilizar o show. É uma questão matemática. O centro do país não é “centro” à toa.

Programação do Discografia Rock Gaúcho

4 de fevereiro, segunda-feira
22 horas – Frank Jorge
23h30 – Wander Wildner

5 de fevereiro, terça-feira
22 horas – Tópaz
23h30 – Bidê ou Balde

6 de fevereiro, quarta-feira
22 horas – Acústicos e Valvulados
23h30 – Tequila Baby

7 de fevereiro, quinta-feira
22 horas – Cachorro Grande
23h30 – DeFalla

Outras informações e agenda completa do Porto Verão Alegre em http://portoveraoalegre.com.br

Carol Govari Nunes@carolgnunes

O Bar Opinião recebeu na última segunda-feira, dia 5, uma atração vinda direto de Nova York: a banda The Slackers. Pela segunda vez em Porto Alegre (a primeira foi em 2010), os Slackers tocaram na 2ª Maluca Especial Ska, logo após a abertura da Pata de Elefante – que também fez versões Ska de suas músicas.

Com um quarto CD previsto para ser lançado no início de 2013, a Pata de Elefante subiu ao palco por volta das 22h30min, dando início à Segunda Maluca. Prego, baterista da Pata de Elefante, comentou que eles ficaram durante um mês em ensaios para esse show, e que as versões deram bastante trabalho. Depois, em conversa com o The Backstage, comentou que já gostava do trabalho dos Slackers e ficou muito feliz com o convite, e que mesmo tendo sido bem trabalhoso transformar o ritmo das canções da Pata, aquilo foi muito gratificante e divertido.

A Pata de Elefante tem 10 anos de estrada e começou com um trio (os quais estão até hoje na banda) e com o tempo foi se tornando um quarteto, quinteto e agora septeto.

Com divertidas versões, a Pata de Elefante animou o público que ali chegava aos poucos – a maioria para ver a atração principal da festa.

Glen Pine e Vic Ruggiero dividiram os vocais e animaram o público durante todo o show (Foto: Carol Govari Nunes)

Sem firula, os Slackers entraram no palco e deram continuidade ao clima festivo da noite. Intercalando músicas dos mais de 8 álbuns, os Slackers mostraram por que são uma das bandas mais conhecidas da nova cena Ska de Nova Iorque. Os caras já abriram shows pra ninguém menos que Toots & the Maytals, The Specials, Rancid e Floggin Molly, just to name a few. Formada no Brooklyn em 1991, a banda que se intitula “Jamaican Rock’N’Roll” tocou mais de 15 dos seus sucessos que misturam Ska, Reggae, Rocksteady, 60’ Soul, Swing, Garage Rock, Jazz, Bogaloo entre outros ritmos. Tocaram, inclusive, em versão reggae-balada, “Like a Virgin” (assista a gravação desse momento aqui), da Madonna, além de “Bitch” (Stones) e “Attitude” (Misfits). Aliás, essas músicas estão em um álbum só de versões reggae/ska de vários hits, intitulado The Radio.

Formado por Glen Pine (trombone e voz), Agent Jay (guitarra), Vic Ruggiero (voz e orgão), Dave Hillyard (saxofone), Marcus Geard (baixo) e Ara Babajian (bateria) o grupo novaiorquino faz parte do Selo Punk “HellCat Records” e já havia feito outras turnês no Brasil. Falando várias frases em português, Glen Pine comentou da felicidade em estar de novo em Porto Alegre. A banda conversou com o público durante todo o show e fez todo mundo dançar enlouquecidamente no ritmo Ska.

Na Fanpage do The Backstage Blog você confere outras fotos do show. Em breve, mais vídeos no nosso canal no Youtube.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Não sei por onde começar esse texto que já nasce finalizado em minha mente, onde as ideias são pouco amistosas e as palavras se confundem com o receio de que o conteúdo fique repetitivo, pois volto a falar sobre os mesmos artistas.

O duo Agridoce apresentou seu primeiro disco em duas noites no Opinião (Foto: Carol Govari Nunes)

Porém, meus motivos são claros: no último final de semana o Agridoce esteve em Porto Alegre para apresentar seu álbum homônimo no Bar Opinião. Nos dias 20 e 21, Pitty e Martin subiram ao palco por volta das 21h acompanhados dos músicos Luciano Malásia e Loco Sosa e tocaram 14, 15 músicas durante mais ou menos uma hora de apresentação (precisão de dados: não trabalhamos).

Antes mesmo do início do show o público (este reduzido se compararmos à lotação da casa quando Pitty vem com sua banda principal) já ovacionava a espera do show daquela noite. Quando os músicos apareceram, foram cumprimentados com gritos e aplausos por todos que ali estavam curiosos para ver a primeira apresentação do Agridoce em terras gaúchas. Tanto sexta-feira quanto sábado, por mais que o público parecesse em grande parte composto pelas mesmas pessoas, as músicas foram entoadas durante todo o set list.

Para a minha surpresa, “Rainy”, que até então não circulava no meu Top Five do disco, fez todo o sentido quando escutei ao vivo. Talvez o toque intimista causado pela letra sendo escrita à mão no telão, não sei. Tenho um palpite de que cada música aparece na hora certa, não adianta forçar e, além disso, depende muito do teu estado de espírito quando ouve tais canções.

Pitty permaneceu no piano durante a maioria das músicas, saindo apenas em “130 anos” e “Embrace the Devil” (Foto: Carol Govari Nunes)

E assim foi com todas as músicas: quem teve a oportunidade de ir ao Opinião nos dois dias pode apreciar dobrado o disco do Agridoce e  também “Alvorada”, que não entrou no disco, mas aparece no bis, e a bonita versão de “La Javanaise”, de Serge Gainsbourg.

“Dançando”, hit do disco e a mais conhecida pelo público, fez uma galera levantar uma faixa com a frase “O mundo acaba hoje e nós estaremos dançando com vocês”, e me incomodou mais do que o normal com seus versos. Explico: eu, que não saio da parte “Qualquer coisa pra domar / o peito em fogo”, e muito mais para o lado de “O Porto”, “Embrace the Devil” e “130 anos” fiquei com um pouco de inveja desse sentimento que todos pareciam cantar como se fosse realmente verdade.

O fato é que o Agridoce desperta sensações, não interessa se boas ou ruins. Incomodar é sadio, machucar é estimulante, o importante é sentir. E cada música deixa a pista que lhe cabe.

Se quiser reler a entrevista que eles deram para a Revista do Opinião, é só clicar aqui.

Aqui você também encontra alguns devaneios sobre as músicas do Agridoce.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

Eles foram surgindo devagar: com um Myspace, algumas demos, um Twitter  e só em novembro lançaram o primeiro disco. “Música doce para pessoas amargas”, dizem os músicos sobre o conceito do disco. Estamos falando do Agridoce, projeto de Pitty Leone e Martin Mendezz, o qual foi criando vida na sala da casa da cantora em idos de 2009.

Influenciados por Nick Drake, Iron&Wine, Elliott Smith e tantos outros artistas, Pitty e Martin, acompanhados do produtor Rafael Ramos, do  engenheiro de som Jorge Guerreiro e do fotógrafo/cinegrafista Otavio Sousa, se isolaram na Serra da Cantareira, onde lá permaneceram durante 22 dias do mês de agosto do ano passado para produzir o disco no qual Martin abusa dos violões e Pitty se relaciona carinhosamente com o piano.

Foto: Caroline Bittencourt

Cantando quase todas as faixas do disco, Pitty entona sua voz com uma incrível doçura, mas não se engane: a aparência doce das músicas reveste letras e contextos azedos.

Para dar vida ao disco no palco eles chamaram outros dois músicos: Luciano Malásia (na percussão) e Loco Sosa (que vai soltar os samples “de tudo que não é violão, nem piano, nem percussão”, explica Martin). “O resultado é intimista, mas o sentimento é rock’n’roll. No fundo sinto a mesma coisa que quando estou tocando uma bateria, só que com um pouco mais de inteligência”, diz Loco Sosa, o cara dos samples. Malásia também comenta que “é muito legal tocar e conviver com eles, as músicas são ótimas e é sempre um desafio, estamos começando a fazer shows. Por mais que a gente ensaie nunca sabemos muito bem o que vai rolar e isso é muito estimulante”.

Um pouco do que aconteceu desde o surgimento das  músicas até o lançamento do disco você confere nessa entrevista feita por e-mail para a Revista do Opinião, agora também no The Backstage – sem edições. Enjoy the trip, porque aqui você lê a original (um pouco maior).

Carol – O Agridoce surgiu na sala de Pitty, tomou uma grande proporção e agora está aí, chamando tanta atenção quanto a banda principal. Podem nos contar um pouco sobre como foi desde o nascimento do projeto até a ideia de gravar o disco?

Martin – Quando o repertório cresceu e começamos a nos sentir mais a vontade com esse novo formato a idéia de gravar um disco e fazer shows foi se tornando cada vez mais um desafio atraente e se mostrando um desdobramento natural do projeto. Rafael acabou sendo o grande catalisador desse disco, ele acompanhou o Agridoce a distância desde o começo e sempre manifestou a intenção de se juntar a nós nessa empreitada e de fazer um registro mais cuidadoso das canções.

Pitty – Demorou bastante desde as jam sessions caseiras até o disco. Já estamos há uns dois anos nessa de compor, maturar as ideias, resolver finalmente transformar o projeto num álbum. No começo, nem sabíamos que seria um projeto e muito menos que viraria disco. A coisa foi indo, foi indo…

C – O Agridoce é fruto de encontros descompromissados entre os dois. Demorou até vocês resolverem disponibilizar “Dançando” na internet, já que inicialmente era algo muito particular, ou foi uma consequência natural?

M – Disponibilizamos “Dançando” na internet no exato momento em que ela ficou pronta. Apesar do caráter particular e pessoal não resistimos ao desejo de compartilhar aquilo que tínhamos acabado de realizar e que tinha nos empolgado tanto.

P – Não lembro exatamente quanto tempo demorou entre só tocar em casa e termos uma música de verdade, pronta. Mas lembro que se passou um certo tempo antes disso.

Foto: Otavio Sousa

C – Se isolar em uma casa no meio do mato deve ter sido uma experiência muito interessante, artisticamente e pessoalmente falando. Dá pra perceber que as músicas saíram de uma casa e foram para outra, sem horário marcado em um estúdio. Isso foi pensado para não perder o caráter intimista?

M – Totalmente. Além disso estávamos atrás da aventura de gravar num ambiente que não foi previamente preparado pra isso, o que acaba gerando ótimos desafios e resultados surpreendentes. A maneira peculiar como os instrumentos soavam lá e os ruídos naturais da casa estão presentes em todo o disco e conferem a ele muita personalidade, essas interferências eram elementos que estávamos buscando quando fomos gravar lá.

P – E a imersão total e completa na coisa, sem interferência externa, sem telefone, internet ou televisão. Só a música e criação, 24h por dia.

C – 22 músicas em 22 dias. Existia alguma rotina na casa ou vocês gravavam, dormiam e jantavam na hora em que sentissem vontade?

M – Respeitamos acima de tudo o ritmo natural do disco, tínhamos um prazo e um trabalho a concluir mas tentamos fazer tudo no seu melhor tempo. Essa prolificidade acabou sendo fruto do clima agradável criado por essa rotina.

P – E acabamos criando um fuso horário completamente particular. Café da manhã às duas da tarde, almoço às sete da noite e dormir só quando o último pedia arrego, rsrs. E gravar e tocar o tempo todo que desse vontade.

C – É perceptível que até mesmo as músicas que vocês tinham disponibilizado no Myspace acabaram tomando novos rumos, ficando mais sofisticadas. Ficar apenas entre 5 pessoas ajudou nessa composição, já que vocês não sofriam influências exteriores?

M – Sim. Realizar esse disco em parceria com Rafael Ramos foi um fator crucial pro trabalho tomar esses novos rumos. Temos uma relação muito boa com ele, tanto profissional quanto pessoal, e sabíamos que permitir essa interferência seria muito proveitoso e enriquecedor.

P – É a questão da confiança e da sincronicidade de ideias que permite essa interferência. Desde o começo sabíamos que queríamos o mínimo de gente possível, porque cada um que chega vem com uma energia a mais. E sabíamos que as energias tinham que combinar, então cada um ali foi escolhido a dedo.

Foto: Caroline Bittencourt

C – Alguma ideia sobre o que fazer com as músicas que não entraram no disco, ou ainda é cedo para pensar nisso?

M – Ao seu tempo algumas delas vão tomando seu rumo, por exemplo “La Javanaise”, versão de Serge Gainsbourg que gravamos, entrou como bônus track na venda do disco pelo iTunes.

P – “BDay” apesar de não ter entrado no disco está no repertório do show, e por aí vai. Conteúdo nunca se perde.

C – Martin é guitarrista e no seu projeto com Duda (Martin e Eduardo) apareceu como letrista e vocalista. Como é dividir as composições? Vocês dividiram também as letras, ou um chegava com a letra e o outro com a melodia?

M – Essa divisão é uma característica do projeto, já tínhamos colaborado em composições anteriormente, mas o Agridoce é baseado nessa parceria. Não temos um método para compor, geralmente alguém chega com uma idéia e vamos desenvolvendo, mas temos casos de canções que já chegaram quase prontas e outras em que fizemos tudo juntos partindo do zero.

P – Eu tenho mais costume de fazer as letras/melodias e ele as harmonias por ser mais o terreno de cada um, mesmo. No Agridoce rolaram outros processos além desse, mas ainda prevaleceu a coisa de “cada um canta sua letra”. A tendência é misturar cada vez mais, acho eu, até o ponto de ninguém mais saber quem fez o quê.

C – “Upside down”, só para exemplificar, ratifica a cumplicidade entre a dupla. A letra é natural, bonita e simples, além de uma amargura no refrão. Aquele “I don’t belong here” não vem de hoje, acredito eu. Pensando nisso e na música brasileira, parece que estamos todos em uma geração que foi perdendo a sua personalidade… Infelizmente existe a necessidade de se encaixar para ter espaço. Como vocês enxergam essa adaptação das bandas à modinha atual?

M – Acho que isso se deve a uma “preguiça” que foi inoculada no grande público pelos meios de comunicação em massa, as pessoas esperam que a mensagem venha facilmente digerível e numa embalagem familiar. Apesar dessa estética predominar ainda existem bons exemplos de artistas na contramão dessa tendência, e como tudo é tão volátil quando se fala de mercado acredito que essa mesa, mais cedo ou mais tarde, vai virar.

P – A gente não pensa nem em se encaixar nem em desencaixar. A gente gosta de fazer as coisas que a gente gosta, e depois fica torcendo para que haja um nicho pra ela em algum lugar do mundo. Eu não acredito nessas bandas ou artistas que buscam “se encaixar”. É o que você falou, não tem personalidade e fica evidente a farsa. Só engana quem não tem um pouco de senso crítico- o que, infelizmente, pode ser a maioria.

Foto: Otavio Sousa

C – Você assinam todas as músicas do disco, exceto “Say” e “Please, please, please, let me get what I want”, uma versão do The Smiths. Quem também assina “Say” é Ricardo Spencer, diretor/roteirista que já fez vários trabalhos com vocês. Como foi a composição dessa música? 

M – A música nasceu na varanda da casa de Pitty entre algumas cervejas enquanto nos preparávamos pra ir a um show. Spencer tinha a idéia de uma melodia, peguei o violão e fomos encaixando as coisas. Gravamos toscamente no celular e depois num ensaio eu e ela finalizamos o arranjo enquanto Spencer terminava a letra, foi tudo muito rápido e divertido, essa música foi um presente pra nós.

C – O videoclipe de “Dançando” já tem mais de 320 mil visualizações no Youtube, e sabemos que o Otavio Sousa registrou todo o período em que vocês ficaram na casa. Há previsão de um novo clipe por aí ou um possível DVD?

M – Ainda não sabemos o que vai se tornar o material, mas já assistimos alguns trechos e temos muita vontade de mostrar isso pras pessoas.

P – Eu acho que pode virar alguma coisa; não sei se documentário, filme ou tudo misturado. Mas tem todo o processo de gravação documentado, e acho que pode ser interessante dividir isso em algum momento.

* Nos dias 20 e 21 de abril o Agridoce tocará no Opinião. Como citado no início do texto, essa entrevista está na Revista do Opinião e você pode encontrá-la na própria casa de shows e também no Pepsi On Stage, UFRGS, PUC, ESPM, Lojas Vivo, Lancheria do Parque, Zeppelin CD’s, A Place e Casa da Traça, em Porto Alegre.