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Carol Govari Nunes@carolgnunes

O bar Opinião abriu a temporada de shows 2016 com duas noites de ingressos esgotados: Criolo, nos dias 3 e 4 de março, celebrou os 10 anos do disco Ainda Há Tempo com um formato totalmente hip hop, somente com DJ e MC no palco.

Criolo contou a história do Ainda Há Tempo: disse que, na época em que foi lançado, eles não tinham dinheiro nem para fazer uma festa para os amigos, por isso a importância dessa turnê. O rapper conversou com o público o tempo todo – ele e o DJ Dan Dan conduziram a celebração/culto/missa/show/entenda-como-quiser de forma afirmativa (e com muito amor, agradecendo a presença de cada um que estava ali), emocionando os fãs durante os 90 minutos em que estiveram no palco. Quem acompanha Criolo, além do DJ Dan Dan (que, na ocasião, fez papel de MC), é DJ Marco, responsável pelas pick-ups. Quem estava controlando o P.A era Daniel Ganjaman (que assina a direção musical do show), chamando tanta atenção ali da cabine como se estivesse no palco. A turnê conta com um cenário produzido pelo artista plástico Alexandre Órion, que criou todas as imagens projetadas num baita telão de LED, enriquecendo visualmente show.

Além das músicas do Ainda Há Tempo, Criolo também tocou músicas dos discos Nó na Orelha e Convoque seu Buda.  Um dos pontos altos (altos no sentido sonoro, mesmo, praticamente ensurdecedor) foi quando o DJ Dan Dan levantou uma placa com os dizeres “3,75 NÃO!”. Criolo, neste momento (e em vários momentos do show), falou da importância da união, da importância de lutar. Era ovacionado constantemente. Eu vou a vários shows, mas nunca – nunca – tinha visto n a d a p a r e c i d o. O show vale pela experiência de observar o poder de condução de um artista e a devoção de seu público. É praticamente impossível não sair convertido dali. Talvez algumas pessoas perdidas (que não são más, como ele mesmo afirma na letra de “Ainda Há Tempo”), desconfiadas e relutantes em enxergar tanto amor e tanta esperança, mas a impressão que tive é de que 95% seguia fielmente – pelo menos no fervor do show – o que Criolo falava. Foi realmente impressionante.

Abaixo, um dos momentos do show, durante a música Grajauex, no dia 4:

Carol G. Nunes@carolgnunes

FDC_San Francisco

FDC no Sofar Sonds, em San Francisco (Foto: divulgação)

Foram 8 shows em 20 dias em algumas das mais importantes cidades dos Estados Unidos (Nova York, Los Angeles e San Francisco). Os gaúchos do Fire Department Club retornam de sua primeira turnê internacional com muita história pra contar e objetivos ainda maiores para o futuro próximo.

O quarteto de indie rock foi convocado para tocar no CMJ Music Marathon em Nova York, em outubro. FDC, único representante brasileiro, fez apresentações vibrantes e encantou um dos consultores do CMJ, Robert Singerman, que já convidou a banda para retornar no ano que vem.

Após o festival, a banda atravessou o país rumo à California para um roteiro recheado de shows intensos, gravações e o lançamento da versão especial do disco “Best Intuition”. O EP de 6 faixas estreou em 17º lugar nas paradas das rádios universitárias americanas.

Agora, o Fire Department Club está de volta ao Brasil e tem show marcado para o sábado, 28 de novembro, no Opinião. É a 7ª edição do Fellas Music Fest, que ainda contará com as bandas Second Hand e DR. HANK.

Então todo mundo já sabe: Fellas Music Fest, dia 28/11, às 23, no bar Opinião. Ingressos antecipados nas lojas Youcom (lote promocional: R$ 20; antecipados R$ 25 e na hora R$ 35).

 

Acho que o Emicida foi o primeiro rapper nacional por quem eu realmente me interessei. Lembro de ter achado ele massa na premiação do VMB, em 2011, mas o que realmente me pegou foi O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui. Fiquei comovida a cada rima, a cada estrofe, a cada batida; daí pra frente, foi garimpar as mixtapes anteriores na internet e minha forma de ver a vida mudou.

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Emicida lotou o Opinião em show de lançamento do novo disco (Foto: Carol G. Nunes)

Em 2015, outro disco sensacional (pra mim, um do melhores do ano): Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa. Que pedrada. Que coisa sensacional essa junção dos tambores africanos com as batidas do rap. E foi esse disco que trouxe Emicida a Porto Alegre na última quinta-feira, dia 12, para um show emocionante e de renovar as energias. Um Opinião lotado aguardava o rapper, que foi ovacionado assim apareceu no palco.

Em momento algum Emicida me parece um artista solo: sua banda (que banda!) é extremamente participativa, dançando (inclusive no centro do palco, ao som do DJ Nyack), sorrindo e interagindo uns com os outros e com o público. É lindo. O show foi catártico, principalmente em músicas como 8, Boa Esperança, Bang!, Levanta e Anda, Hoje Cedo e Mandume. Teve também Cartola, trechos de poesia (que eu adoraria lembrar de quem era), Marinheiro Só na palma da mão, muita rima e muita conversa.

Emicida falou da necessidade de dialogar mais – sair das redes sociais, olhar no olho das pessoas. Antes de Mãe, aquela música que é quase impossível não chorar, falou que se tu não respeita a tua mãe, tu não respeita nem a ti mesmo. Comentou sobre o show ser no dia mundial do hip hop, lembrou dos que morreram pra eles estarem ali fazendo som, e também lembrou da galera que fala que o rap se vendeu, que o rap agora aparece na TV, mas que ninguém foi na favela, há 20 anos, perguntar como eles estavam (além disso, os que criticam e não querem dinheiro “é porque nunca viu a barriga roncar mais alto do que ‘eu te amo’”, não é mesmo?).

Ainda hoje, ao comentar que eu gosto do Emicida, algumas pessoas falam: “como tu se identifica tanto se não faz ideia do que ele está cantando?”. De fato, eu não faço ideia. Não faço ideia do que é ver um vidro subir ou alguém correr quando me vê, não faço ideia do que é passar fome, não faço ideia de como é crescer onde nem erva daninha vinga. Sou branca, classe-média, estudei em escola particular e entrei numa universidade pública porque fiz cursinho (o cursinho é a minha cota). Emicida elucida inúmeras questões sobre preconceito racial, inclusive na faculdade (em que não pode por os pés). É preciso que isso seja falado. É preciso que a gente pare de mascarar o racismo. É preciso que a gente assuma que, sim, brancos têm mais oportunidades. E tudo isso que ele canta faz com o meu peito seja preenchido por um calor absurdo, meus pelos se arrepiem e eu sinta vontade de chorar a cada história contada em suas músicas. Música desperta, música emociona, música aproxima; música é a minha – a nossa – religião.

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Durante todo o show, entre as músicas, Emicida conversou com o público (Foto: Carol G. Nunes)

Acho que a música proporciona um exercício de alteridade extraordinário e necessário – de tu se colocar no lugar do outro, de aprender com a diferença e respeitar essas diferenças – afinal, eu só existo através do contato com o outro. Além disso, “eu sou porque nós somos”, a tal filosofia africana Ubuntu (que fala da capacidade humana de compreender, aceitar e tratar bem o outro, ser generoso, solidário, ter compaixão), que eu fui pesquisar por causa de algum tweet do Emicida.

Rappin Hodd, Racionais Mcs, Sabotage, Sistema Negro, Xis, Criolo, Emicida (só para citar alguns); todos falam de coisas que não faço ideia, todos despertam em mim um desejo sincero de harmonia e igualdade entre os seres humanos.

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Isso era pra ser uma resenha do show do Emicida, mas acabou desviando do rumo inicial e indo pra longe. Falando nisso, pra quem já mordeu um cachorro por comida, acredito que o Emicida ainda vai chegar muito, muito mais longe.

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Aqui também tem o vídeo de Passarinhos, gravado especialmente pro meu sobrinho Bernardo, de 11 meses, que é viciado nessa música. Tentei todas as canções de ninar, inclusive os rockabye baby, mas o guri prefere rap nacional, vou fazer o quê?

Carol G. Nunes – @carolgnunes

TransmutAção, o disco mais recente de BNegão & Seletores de Frequência, foi lançado – e muito bem lançado! – em Porto Alegre na quinta-feira passada, dia 5.

Às 23h30min, a banda subiu ao palco do Opinião e iniciou o show com nada menos que todo o disco novo na íntegra. Muito mais instrumental e com letras cheias de reflexão, o TransmutAção foi muito bem recebido pelo público. O público, inclusive, participou de todo o show – até mesmo das músicas novas. Depois do TransmutAção, foi a vez dos sucessos dos discos anteriores: “Sintoniza Lá”, “Prioridades”, “Reação”, “Dorobô”, “Enxugando gelo”, “Funk até o caroço”, “Bass do tambô”, “Essa é pra tocar no baile”, “Subconsciente”, “Qual é o seu nome?” e “Dança do patinho”: sen-sa-ci-o-nal.

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BNegão & Seletores de Frequência durante o lançamento do novo disco (Foto: Carol G. Nunes)

O show foi marcado pela ótima execução das músicas e entrosamento entre BNegão e os seletores no palco. Disseminador da música negra universal, BNegão não deixou faltar groove e peso na noite. As músicas dos 3 discos trazem inúmeros elementos de dub, funk, HC, reggae, suingue, samba e outras mil referências que funcionam perfeitamente nos discos – e melhor ainda ao vivo. Foram quase duas horas de um show com uma performance brutal e com o melhor som que eu já ouvi no Opinião. Dificilmente eu fico na parte de baixo da pista porque o som estoura, mas dessa vez deu, inclusive, para dar umas voltas bem na frente do palco e não havia um ruído sequer nas caixas de som. Não sei se exigência da casa, ou dos vizinhos, ou de quem quer que seja (ou quem sabe culpa de um ótimo técnico de PA, também), mas o som estava mais baixo e muito melhor. Impecável.

Outro lance que chamou muito a minha atenção foi a iluminação em total sincronia com o beat das músicas. BNegão comentou que o iluminador deles já trabalhou com o Cordel de Fogo Encantado, então ele tem um lance forte de espetáculo (meio cênico, até), além de ser bem experimental e ficar bolando novos esquemas de luz.

Após o show, BNegão e eu comentávamos da importância que é tocar as músicas novas, não ficar só nos hits. E que é preciso coragem pra fazer isso (afinal, tocar o disco novo na íntegra e na ordem não é algo muito comum e também depende do local e do público), mas que na divulgação do TransmutAção eles estão tentando fazer isso sempre que possível. “Tem uma galera que toca duas músicas do disco novo e depois só as conhecidas, mas a nossa ideia não é fazer isso”, comentou o músico.

O TransmutAção teve patrocínio do Natura Musical, projeto de incentivo à música brasileira, que tem apoiado vários projetos massa. Sobre o lançamento pelo Natura Musical, BNegão comentou que o empresário da banda, Mauro Fernandes, foi o responsável por inscrever o projeto e o único que acreditou nesse lance (ele e Lu Ferraz, sua assistente), enquanto a banda nunca colocou fé de que realmente rolaria alguma coisa. Mas rolou, o projeto foi aprovado no edital, o TransmutAção tá aí (inclusive pra download gratuito – baixe clicando aqui) e a banda segue fazendo a divulgação do disco.

A agenda completa (e outras informações) você encontra no site oficial da banda.

Carol G. Nunes@carolgnunes

“Cowboy”, “Ah! Eu to sem erva”, “Fazê a cabeça”, “Detetive”, “Merda de bar”, “Arrastão do amor”, “Não aguento mais”, “Melô do analfabeto”, “Ejaculação precoce” e muito mais: são inúmeros os hits nos 20 anos de carreira da Comunidade Nin-Jitsu.

No último sábado, 3 de outubro, a Comunidade resolveu fazer um baile no palco do Opinião para comemorar estes 20 anos e lançar seu novo disco, intitulado King Kong Diamond. Com produção de Edu K (que foi homenageado durante a canção “Popozuda Rock’n’Roll”), o King Kong Diamond traz algumas lembranças do Broncas Legais (primeiro disco da banda, também produzido por Edu K), como o groovezão do baixo e guitarras pesadas.

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A banda montou um repertório para celebrar os 20 anos de carreira (Foto: Carol G. Nunes)

Foram 27 músicas em duas horas de show. Mano Changes, inclusive, comentou que eles sempre estavam pela chalaça pós-show, fazendo uma apresentação de mais ou menos 1h15min, mas dessa vez era diferente; eles queriam presentear os fãs com um show maior e mais emocionante. As canções do novo disco foram aparecendo no meio dos hits (Aqui você assiste ao vídeo de “Maremoto”). Além de “Popozuda Rock’N’Roll”, a banda também tocou “Tudo o que ela gosta de escutar” e fez uma homenagem ao Chorão, que participou do DVD deles, em 2011.

Mano Changes, em vários momentos do show, agradeceu a todos que acompanham a banda nestes 20 anos. Disse que nada seria possível sem os fãs, e que passava um filme em sua cabeça ao ver rostos na plateia. Além do quarteto Mano Changes/Fredi/Nando/Cristiano, Erick Endres, filho de Fredi, tocou guitarra durante quase todo o show. Cheio de virtuosismo, solos e danças nervosas, Erick dá um gás absurdo no palco – afinal, sangue novo, energia nova. Quem também deu o ar da graça foi Índio, o detetive do clipe de “Detetive”, que dançou com os músicos e depois tirou fotos com a plateia. Um king kong (diamond) também apareceu em determinado momento do show (perceba na foto acima), mas logo Erick Endres o derrubou no chão, roubou sua guitarra e continuou o show.

Perto do final do show, Fredi chamou a galera pra subir no palco, e lá foram inúmeras gurias. Aí, sim, virou um baile funk, com saudação à massa funkeira e muito rebolado.

Abaixo, o vídeo da última música do show, “Ah! Eu to sem erva!”, que mostra mais ou menos a vibe da galera nesta grande comemoração: