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Natalia Nissen@_natiiiii

Para início de conversa, o termo “universitário” é usado porque os cantores desse movimento começaram suas carreiras, na maioria, cantando em bares frequentados por estudantes de ensino superior, e não falam da vida no sertão como as músicas do sertanejo de raiz. Com o passar do tempo o estilo atingiu todas as camadas da sociedade e hoje não apenas os estudantes admiram, mas também crianças e adultos.

The Backstage foi criado para expressar as opiniões das autoras e dos leitores sobre música nacional e internacional e, principalmente, o rock’n’roll e suas vertentes. No entanto, não podemos fechar os olhos diante da febre que tem sido o sertanejo universitário – e digo febre porque foi algo que surgiu repentinamente e contagiou milhares de pessoas Brasil afora.

O fenômeno da música sertaneja, Luan Santana (Foto: divulgação)

Exemplos de artistas solo e duplas de sertanejo universitário não faltam. Por mais adepto do rock’n’roll que o indivíduo possa ser, já deve ter ouvido, com certeza, o refrão de alguma canção romântico-sertaneja: “chora, me liga, implora meu beijo de novo, me pede socorro, quem sabe eu vou te salvar”. Luan Santana, João Bosco e Vinícius, Victor e Leo, e a representante feminina, Paula Fernandes, são ícones de uma geração que idolatra uma série de artistas que muitas vezes são severamente criticados por pessoas que preferem outros estilos musicais. Durante muito tempo o sertanejo foi um estilo predominante em regiões do interior do país, mas a difusão da cultura por meio da internet, rádio e televisão, contribuiu para a disseminação por todo o Brasil.

Luiza Kerber, 20 anos, faz faculdade em Rio Grande e comenta sobre a escassez de festas com estilos mais variados. O pagode e o sertanejo predominam, “o sertanejo universitário tem letras com as quais os jovens se identificam, além de ter um ritmo contagiante. Não é um estilo para escutar sempre, mas o ideal é saber aproveitar a parte boa de cada música”.

“Quem escuta sertanejo universitário tem uma cicatriz no cerebelo, você nunca mais vai se livrar dessa mazela”

No dia dois de março, Lobão, um dos mais importantes artistas do rock nacional, deu uma entrevista a uma rádio e fez declarações pejorativas a respeito dos novos ídolos jovens Fiuk, Restart, e do cantor Luan Santana. Para Lobão, quem escuta sertanejo universitário “tem uma cicatriz no cerebelo, você nunca mais vai se livrar dessa mazela”. Apelando ou não, muita gente compartilha da opinião do cantor, afinal, o tópico #falalobao foi o mais comentado do Twitter depois da divulgação da entrevista. Lobão falou aquilo que muita gente tem vontade, mas não tem oportunidade. Admiradores do bom e velho rock’n’roll tem uma certa dificuldade em entender como e por que a febre do sertanejo tem se espalhado tão rápido e contagiado as pessoas como um golpe certeiro.

Na semana passada o ECAD – órgão brasileiro responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais de músicas aos seus autores – divulgou a lista dos autores que mais receberam pelos direitos autorais no Brasil. O compositor Victor Chaves (da dupla Victor e Leo) ficou em primeiro lugar, e depois dele aparecem Sorocaba, Nando Reis, Roberto Carlos, Dorgival Dantas, Euler Coelho, Paul McCartney, Lulu Santos, Erasmo Carlos e Djavan ocupando as outras nove posições, respectivamente. Na região Sul a música sertaneja também é a que mais rende em direitos autorais: o representante do tradicionalismo, Teixeirinha, fica em 11º lugar. Renato Russo, o líder da banda Legião Urbana ocupa o último lugar da lista, 50º.

A estudante Jaqueline Vanessa da S. Domingues tem 14 anos e não gosta muito de rock, mas adora o sertanejo universitário, identifica-se com o gênero. Além da música, ela gosta dos cantores e diz: “o sertanejo universitário veio com tudo, mais romântico, agradando os jovens. Sertanejo romântico da forma como os jovens veem. Transmite palavras que preciso ouvir”.

O roqueiro Lobão alfinetou os ídolos da nova geração (Foto:divulgação)

Existem tantas bandas que passam longos anos tentando um lugar ao sol e, de repente, nos deparamos com a ascensão “meteórica” de jovens com seus violões cantando músicas que falam de amores não correspondidos e traições. Talvez mais carisma que as caras amarradas de alguns rockstars, mas, ainda, menos talento que a poesia da MPB. Mais recursos para investir em divulgação também pode contribuir para o sucesso de um artista, assim como uma marca que contrata a modelo mais bonita para estrelar as fotos da campanha. Para uma música tornar-se “a mais pedida” na rádio influente pode haver muito mais por trás da história que um público fanático e talento propriamente dito.

Mateus Zanolla Chaves é estudante de Música na UPF e, como bom entendedor do assunto, diz que a música sertaneja é simples, por isso as pessoas gostam tanto. É um som para dançar, aproveitar e não para “ouvir” e pensar a respeito, além de ser composto de versos simples e melodias clichês. “Não é ruim, só é simples. Beatles também tem seus discos simples e é a maior banda do mundo. Música não é complexidade”, finaliza Mateus.

Em Frederico Westphalen a situação não é diferente. Mesmo estando longe dos pólos da música sertaneja, os habitantes do município já demonstram afinidade com o estilo e essa característica está refletida nos eventos que as pessoas frequentam. Algumas festas e estabelecimentos têm como atração apenas, ou na maioria das vezes, o sertanejo universitário.

Site do ECAD.

Entrevista com o Lobão.