* Thiago Pimentel
Ouça o novo single do grupo, a música “Limbo”
Formada em 2009, a Mad Sneaks têm suas bases sob um rock sujo, visceral. Apesar da influência no stoner e punk rock, a música da banda mineira reverbera um estilo em particular, o grunge. E, em consonância as suas aproximações com Seattle, o power trio – formado por Agno Dissan (guitarra/vocal), Elton Reis (baixo) e Amaury Dias (bateria) – chegara a Jack Endino: o renomado produtor norte-americano (associado a bandas como Nirvana, Soundgarden e Mudhoney) produziu a estreia da Mad Sneaks, o disco Incógnita (2013).
Como mais um fruto da parceria com Endino, o grupo libera em Incógnita, cinco anos após o debut, seu primeiro single, a faixa ‘Limbo’. Além de consolidar o estilo dos mineiros, a composição traz um novo elemento: o uso do inglês. Divulgando seu nome fora do Brasil, a banda faz um passo significativo para expandir seu trabalho.
Confira, logo abaixo, as novidades da Mad Sneaks e, também, alguns dos planos dos músicos para o futuro – além de, claro, conhecer melhor o grupo que chamou atenção de nomes como Charles Cross (crítico musical) e do próprio Jack Endino.
The Backstage: O lançamento de “Limbo” anuncia algumas mudanças para a Mad Sneaks – mais notadamente o uso do inglês, no aspecto lírico. Cinco anos se passaram desde o debute: o que podemos esperar do próximo álbum? E quais as razões para compor, agora, em inglês?
Agno Dissan: Na verdade, nunca tivemos uma intenção concreta sobre como escreveríamos nossas músicas. Para nossa música, a única regra que seguimos é “não manter regras”, sempre mantivemos a liberdade de deixar a arte falar por si só. As músicas com letras em inglês foram apenas consequências desta liberdade. Mas isso também não significa que nos prenderemos com letras somente em inglês, trabalharemos conforme a arte nos conduzir. Um fato curioso, foi que nosso primeiro álbum (Incógnita) teve uma repercussão muito boa fora do nosso país, principalmente em países onde a língua inglesa predominava. As pessoas nos escreviam dizendo que adoravam as músicas, mesmo não entendendo as letras em português e com o lançamento de Limbo em inglês, também já estamos sendo surpreendidos com as pessoas do Brasil nos dando feedbacks positivos. Esta é a magia da arte!
The Backstage: No passado, Jack Endino fez algumas declarações negativas sobre brasileiros cantando em inglês. Em virtude do seu envolvimento com a banda, de que forma ele vê o trabalho da Mad Sneaks? Aproveitando: como vocês realizaram o contato com Endino?
Dissan: Acreditamos que este ocorrido possa ter sido algum tipo de “comentário infeliz” da parte dele, ou até problemas de interpretação. Ele já produziu bandas brasileiras que cantam em inglês após este ocorrido, através de projetos de incentivo de marcas de tênis. Já vimos algumas entrevistas antigas dele, inclusive que ele afirmava que os americanos tinham muito a aprender com as músicas brasileiras para que não ficassem presos somente na mesmice do tempo de 4×4. Enfim, nós particularmente sempre tivemos um bom relacionamento com ele e não temos nada a se queixar dele tanto como pessoal, quanto profissional. Até mesmo porque, se ele dissesse que não gostou do nosso material em inglês, isso jamais nos impediria de lançarmos mesmo assim. De qualquer forma, nós apresentamos uma das músicas a ele, que será a segunda música a ser lançada como single e ele achou ótima. Ele é um produtor independente e deixa claro que somente trabalha com artistas que ele gosta. Mostramos nossas músicas já mixadas para ele, ele gostou do material e nos escreveu perguntando se queríamos trabalhar com ele.

Mad Sneaks (Divulgação)
The Backstage: Há, claramente, um grande apelo ligado ao grunge e a Mad Sneaks. De que forma o movimento de Seattle motiva a banda? É notável, também, elementos do stoner no grupo – pessoalmente, esses toques me remeteram as bandas (grunge) que enveredavam para esse lado (Screaming Trees e Soundgarden, por exemplo). Além de Seattle, quais as outras influências da Mad Sneaks?
Amaury Dias: A base de influências de cada membro da banda é bastante vasta, vai desde o punk rock ao heavy metal e cada detalhe pessoal dá uma característica e uma forma específica para cada canção. Com certeza temos uma paixão pelas bandas rotuladas como Grunge, mesmo as de fora de Seattle, mas nunca nos prendemos ao rótulo. Gostamos do estilo de músicas com altos e baixos, partes lentas e rápidas, com vocais suaves e gritados. Acreditamos que seríamos assim, mesmo se Seattle não tivesse revelado este movimento cultural, é claro que influências sempre existiram e sempre existirão, mas tocamos como sabemos e cantamos como conseguimos. Estamos sempre à procura de bandas “novas”, mesmo que sejam novas somente para nós. Sempre ficamos felizes quando conhecemos bandas que gostamos do trabalho. Ouvimos bandas como Social Distortion, Rancid, Ramones, QOTSA, Violent Soho, Airbourne, The Virginmarys, Helmet, Drowning Pool, Downface, Iron Maiden e etc. Dentro do Brasil, temos muitas bandas e artistas que gostamos como Engenheiros do Hawaii, Humberto Gessinger, Garotos Podres, Vivendo do Ócio, CPM22, Raimundos e artistas do underground de qualidade superior a muitos do mainstream e que somos fãs como Dvrill (precisam ouvir este projeto, é surpreendente!), Rádio Attack (rock brasileiro de dar orgulho!).
The Backstage: A banda também prega um discurso de “rock vivo”. Até que ponto o “rock está morto”? De que maneira vocês acreditam que pode contribuir com este cenário?
Dias: O rock nunca morreu, isso é uma grande besteira! Ele só está com esse papo de morto, porque não está presente no mainstream. Talvez isso seja bom, tudo se renova, este processo não é nada mais do que uma outra renovação. O público de rock sempre foi um dos mais fiéis ao estilo e sem dúvidas, quem gosta de rock jamais deixou de gostar só porque passam uma mensagem de que o rock morreu. Se olharmos para trás…o Rock sempre tomou o mundo de assalto em momentos como esse, quando ninguém mais achava que as coisas poderiam piorar, o Rock aparece com força total e vira todo o jogo. Enquanto não acontece esta revolução, mesmo com público reduzido, por falta de suportes, incentivos e estruturas, o rock segue se purificando e isto significa que cada vez mais o estilo está voltando em sua pureza natural. Se alguém duvida disso, basta frequentar shows de bandas fora do mainstream e comprovar, o rock está ficando cada vez mais sincero e puro, como sempre deveria ter sido. E o que é sincero e real, nada pode segurar! O que sempre fazemos questão em colaborar com a cena é manter nossos trabalhos com a melhor qualidade possível e SEMPRE de forma sincera, sempre buscando apoiar outros artistas que vemos que também trabalham de forma sincera com sua arte, o resto é consequência. Já falamos várias vezes, as coisas estão acontecendo, os olhos mais atentos já conseguem enxergar. Quem viver verá! E feliz será aquele que acreditou e participou desta revolução! A história é escrita de acordo com as atitudes tomadas. Sem atitude, não há história.
The Backstage: Críticos como Charles Cross já teceram elogios à banda. Como vem sendo a repercussão ao novo single? E ao primeiro álbum do grupo?
Elton Reis: Cross é outro cara que temos uma consideração ímpar, ele sempre foi muito solícito conosco, já nos conhecemos há muitos anos. Somos fãs dos trabalhos dele desde sempre. Um fato curioso é que ele conta que o filho dele tem e usa uma de nossas camisetas até hoje, vai pra todos os lugares com ela. Ele foi um dos primeiros a conhecer nosso trabalho fora do país, antes mesmo de lançarmos o Incógnita. Estamos trabalhando duro na divulgação do novo single e fazendo um bom número de shows para divulgá-lo, temos roteiros prontos para clipes que não tardarão a serem produzidos. Acreditamos nossas vidas em nosso trabalho e vamos seguir em frente, não importa quantos muros tenhamos de derrubar. Rock para nós não é somente entretenimento, é estilo de vida!
The Backstage: Desde Incógnita (2013), muita coisa se mudou no “mundo digitalizado”. De que forma a Mad Sneaks se porta diante desses novos paradigmas? Como veem os serviços de streaming, por exemplo?
Reis: São modernidades que vieram pra ficar, não adianta virar a cara para elas, estão em todos os lugares e em questões de comodidade, são excelentes meios de conhecer novos artistas de qualquer lugar do mundo. Como tudo nessa vida tem seus prós e contras, infelizmente o contra disto é que tudo fica mais banal e descartável com mais rapidez. Enquanto um CD durava até anos sendo tocado por inteiro e ininterruptamente, até mesmo pela dificuldade de acesso a outros materiais, hoje um “hit” via streaming pode durar apenas semanas ou até dias. São os dois lados da mesma moeda. Tentamos acompanhar estas tecnologias, estamos em todas as plataformas digitais e lutamos todos os dias para fazer nossas musica ser ouvida. A forma como seremos ouvidos não importa, o que é realmente prazeroso é chegar nas pessoas e provocar boas reações, bons sentimentos, a música ainda é mágica, independente de como ela será recebida, ela ainda tem poderes de tocar os sentimentos das pessoas.
The Backstage: Por fim, o que podemos esperar da Mad Sneaks a longo prazo? Quais novidades podem ser adiantadas ao público?
Dissan: Sobre os lançamentos futuros, o próximo passo é lançar o segundo single e ele será realmente incrível, lançaremos também Videoclipes legais. A concepção original é de lançar singles isoladamente e ir montando o álbum aos poucos e no final juntar os singles lançados com algumas outras surpresas e fecharmos o disco. As novidades serão divulgadas em nosso instagram (@madsneaksrock), Facebook e Youtube. Segue a gente! Estamos na estrada e com uma agenda realmente boa, venham aos nossos shows! Uma coisa podemos garantir, vamos fazer com que sua noite seja insana! Esperem sempre dos Mad Sneaks a maior dedicação em tudo, seja em redes sociais, seja nos shows ao vivo. É tudo sincero, é tudo feito com a alma, é a nossa entrega! Seja lá como for… a história só é escrita com atitudes! Nos vemos na estrada…
* Thiago Pimentel é jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Atualmente é mestrando em Comunicação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde faz parte do L.A.M.A (Laboratório de Análise de Música e Audiovisual). E-mail: thiagopimentelbl@gmail.com