Carol Govari Nunes – @carolgnunes
Se o rock não está lá muito fácil pra mendicância, pelo menos os Acústicos e Valvulados incluíram certa fineza e elegância na chinelagem: ao completar 1500 shows na bagagem, a banda lançou o disco “Meio doido e vagabundo – o fino do rock mendigo” na noite de 21 de setembro, no Opinião. Com uma plateia que cantou absolutamente todos os hits da banda como, por exemplo, “Até a hora de parar”, “O dia D é hoje”, “Milésima canção de amor” e “Remédio”, entre outras tantos clássicos, “Efeito”, “Chalaça total” e “Tia Rita”, do novo disco, também foram entoadas pelo público.
O disco está disponível para audição em diversos sites, inclusive no youtube.
Abaixo, a resenha oficial do “Meio doido e vagabundo – o fino do rock mendigo”:
Era 1991, e o mundo entrava de cabeça nos sons de Seattle, a MTV dava os primeiros passos no Brasil, e um bando de moleques loucos pra formar uma banda andava fissurado por um estilo pouco comum: o Rockabilly. Depois de verem um show dos Stray Cats em São Paulo, começaram a explorar um universo de sons obscuros tirados de LPs e K7s que poucos conheciam ou tinham interesse em conhecer. Eram pérolas da Sun Records, bolachões importados dos mestres Chuck Berry, Buddy Holly, Eddie Cochran, Jerry Lee Lewis, entre outros tantos. Nunca foi uma escolha óbvia, nem a coisa mais normal do mundo, mas era de verdade. Assim nasceram os Acústicos & Valvulados.

Show de lançamento do disco, 21/09/14. Participação de Brisa Daitx em “Milésima canção de amor” (Foto: Carol Govari Nunes)
Se a vertente musical que alimentava o espírito da banda não estava exatamente na moda, digamos que, passados alguns anos, mostrou-se uma sólida base em cima da qual o grupo evoluiu, criou corpo, desenvolveu habilidades e definiu uma sonoridade. Hoje, são considerados um dos maiores nomes do Rock Gaúcho, depois de 23 anos de muita, mas muita estrada e quase 1.500 shows na bagagem. E não é nenhum exagero dizer que os Acústicos & Valvulados fazem parte de um seleto grupo de resistência do Rock Brasileiro, defendendo essa bandeira “nem que seja mendigando”, conforme brincam os integrantes do grupo.
A visceralidade da música sempre foi o combustível. Mais instinto do que reflexão, ainda que nessa equação tenha havido espaço pra algumas derivações ao longo da discografia. Experimentos, questões estéticas, relevâncias e irrelevâncias da “Linha Evolutiva da Música Pópular Brasileira” (conforme o mestre Raulzito) nunca foram mais importantes do que o sublime momento de contar 1, 2, 3, 4 e fazer o Rock’n’Roll rolar pelos bares, festas, feiras e festivais. Não tem plano. O que vale é o desafio e a dedicação, é a coisa acontecendo, é a banda tocando do melhor jeito que sabe pra entreter o público a cada fim de semana, numa “Never Ending Tour” aos moldes de Bob Dylan.
Meio Doido e Vagabundo – O Fino do Rock Mendigo, sétimo trabalho de estúdio, de alguma forma sintetiza essa história toda. Produzido de forma independente e distribuido em formato digital pela Thurbo Music a partir do dia 22 de julho, reúne 11 faixas inéditas e o single “Efeito”, já lançado no primeiro semestre, e que acabou entrando no disco devido à ótima aceitação do público. O CD físico chega em setembro, junto com um novo clipe, e mais adiante está prevista ainda uma edição especial em Vinil.
Enquanto o elogiado Grande Presença! (2010) soava garageiro, Lo-Fi, Meio Doido e Vagabundo soa maior, mais impactante nos timbres e arranjos. Produzido pela banda e gravado, mixado e masterizado pelo uruguaio Sebastian Carsin no Estúdio Hurricane, em Porto Alegre, preservou a dinâmica de usar bases “ao vivo”, e incrementou a poção valvulada com peso e força. Experimente dar volume, nem que seja nos fones de ouvido, pra sentir na pele o resultado.
Abrindo os trabalhos, a faixa-título invoca um Rock’n’Roll Clássico, com riff forte e direto, coisa rara de se ver nos dias de hoje, especialmente no Brasil. É um elogio à curtição, aos que vivem fora dos trilhos do trem, uma tiração de sarro com o politicamente correto. Rolling Stones e AC/DC inegavelmente dão o tom da bolacha. E não por acaso, já que são eles os mestres que seguem na ativa, movendo velhas e novas gerações do mundo roqueiro, apesar de muitos anunciarem a morte do estilo quase toda semana.
Mas não é só. Fizeram também um rockão à lá Tutti Frutti pra homenagear a “tia” Rita Lee, usando como inspiração o episódio da polêmica prisão da cantora durante seu show de despedida, em 2012. Fizeram uma marchinha-bebum mezzo Oktoberfest, mezzo Rockabilly, temperada por um tom Tarantinesco, batizada “Chalaça Total” (gíria usada pela turma). Fizeram um ode à “Sarjeta”, num tirambaço de menos de 2 minutos de guitarras e pianos à lá Chuck Berry e seus asseclas. Fizeram até mesmo uma canção grudenta, chamada “Corações Partidos” – ácida, romântica e realista, sem firulas ou exageros açucarados.

Paulo James, responsável por 7 composições do disco. Show em São Leopoldo, 30/05/14 (Foto: Carol Govari Nunes)
O baterista Paulo James assina sete músicas (uma em parceria com Luciano Albo), o guitarrista Alexandre Móica outras quatro (das quais canta duas), e ainda restou espaço para uma estreia: a primeira composição assinada pela banda toda, “Vai se Danar”, que surgiu durante as sessões do disco anterior.
No fim das contas, o ideal pra ouvir Meio Doido e Vagabundo bem ouvido é imaginar a estrada, o boteco, a festa acontecendo. E se depois dos 40 e poucos minutos de curtição ainda restar alguma necessidade de buscar uma mensagem, que seja aquela da visceralidade, artigo raro, quase extinto pelos marqueteiros de plantão. Ou então a auto-ironia do “Rock Mendigo”, que ri do seu próprio destino enquanto sacaneia um cenário musical fake e descartável.
Você pode comprar o disco novo aqui.
Outras fotos do show em São Leopoldo você vê na Fanpage do The Backstage no Facebook.