Interatividade virtual e o mistério que não existe mais

Posted: 12/12/2013 in Biografias, Famosos
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Carol Govari Nunes@carolgnunes

Sinto nostalgia de uma época em que nem vivi. Época onde Elvis Presley e Marilyn Monroe, por exemplo, seduziam através do mistério que os envolvia, onde o que importava era o que eles de melhor tinham a oferecer: sua arte. Digo isso porque, como vocês sabem (ou não), tive uma crise de tendinopatia que me deixou quase três meses sem poder digitar/escrever. O supra-sumo do tédio-beirando-a-insanidade para uma jornalista verborrágica em caracteres como eu. Mesmo sem poder digitar, meu laptop não conseguiu habeas corpus da nossa relação – passei a um tipo de voyeurismo virtual – e comecei refletir até onde a interatividade atinge as relações virtuais.

Se antes biografias saciavam a curiosidade do público, hoje os sites relatam cada passo dessas celebridades. Temos acesso à intimidade de  qualquer artista que coloque o pé na rua. Até os que não colocam, comentários são inventados. Não sei, mas tanta interatividade condicionou a relação artista-plateia a algo que eu ainda não consegui definir. Sei que estamos em uma época em que não há mais público pacífico – todos comentam, todos querem dar a resposta (e não me excluo, pois faço parte dessa geração), mas acho que esse negócio ta virando uma promiscuidade virtual. “Fulano veste casaco e chinelo em evento”, “Por que não mostra foto da banda?”, “Não some! Queremos saber como anda sua vida!”, “Odiei isso, corta o cabelo assim, e não assado”. Se antes músicos eram admirados pela música que faziam, hoje precisam dar satisfação de cada segundo do seu dia a dia.  Cadê o mistério? Cadê a vida particular? Cadê “vamos esperar a obra”? Eu sei menos da vida do meu vizinho de cima do que da vida de muitos artistas por aí, e pior, sem querem saber. Acho que a função da interatividade virtual não é bem essa.

E sobre meu voyeurismo virtual, sabem que eu até me adaptei?! Falar menos, não se expor tanto, comentar muito pouco. Dizem azamiga que o meu “falar menos” ainda parece “uma lauda de 15 páginas”. Mesmo assim, pra mim, já é um avanço virtual. Se eu vou continuar assim pra sempre, eu não sei, mas, por enquanto, o meu punho agradece.

Comentários
  1. […] todo o lançamento da música nova e do clipe, me identifico horrores com isso e inclusive já escrevi algumas linhas sobre o assunto (não necessariamente sobre ela, mas sobre artistas e mistério em geral). A curiosidade agora é […]

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