Carol Govari – @carolgovari
Assim como em outras várias ocasiões, a morte do Chorão causou comoção nacional e arrecadou centenas de novos fãs após o óbito do vocalista do Charlie Brown Jr. Agora todos se tornaram admiradores, todos adoravam as músicas, todos se identificavam com as letras e etc. Não questiono a tristeza dos fãs – muito pelo contrário, entendo essa dor – questiono quem da noite para o dia morreu de paixão pelo Chorão sem conhecer a história do cara e saber apenas as músicas mais tocadas na rádio. Lógico que a perda de um artista causa dor no país inteiro, mas quem antes criticava muito, agora muda de atitude. Pode até ser implicância minha, mas parece que depois que uma pessoa morre, por mais complicada que seja, vira santa. Fuçando no Facebook, já achei dezenas de novas fanpages em homenagem ao cantor – e é natural que isso ocorra, é coisa de homenagem póstuma, eu sei, mas será que esses fãs resolveram fazer isso só agora? Será que essas pessoas que estão postando em vários lugares “curte aqui a página que fiz pro Chorão” eram fãs antes de ontem?
Charlie Brown Jr nunca esteve no Top 5 das minhas bandas favoritas, apesar de eu ter na ponta da língua todas as letras dos 4 primeiros discos. Fui em 2 shows, um em 2002 e outro em 2008 e, por mais que não tenha ido no Atlântida Festival para vê-los, não posso negar que o cara era um baita frontman, animava o público de um jeito que muitas bandas jamais conseguirão.
Não vou entrar na discussão de como o vocalista vivia, do seu legado musical, da sua depressão, do estado em que o apartamento foi encontrado e demais tópicos que circularam na internet ontem e hoje. O que trago aqui são pensamentos e uma curiosidade particular a respeito dessa “necrofilia da arte”. Agora muita gente ama o Chorão, assim como em 1996 muita gente começou a amar os Mamonas Assassinas; em 1997 todos começaram a achar o Chico Science genial; em 2001 milhares começaram a amar a Cássia Eller e em 2011, quem antes criticava, começou a idolatrar Amy Winehouse e sua vida desregrada. Exemplos temos aos montes, mas cito as mortes que me vem à cabeça, agora. Gente sem entender o que eles cantavam, sem compreender seus dilemas, sem se interessar pela vida dos artistas enquanto eram vivos. É ou não um fato curioso e recorrente?
Vai saber, quem sabe um dia eu também seja adepta da necrofilia da arte. Enquanto isso não acontece, fica a letra da música do Pato Fu, a qual induziu esse post.
“A necrofilia da arte
Tem adeptos em toda parte
A necrofilia da arte
Traz barato artigos de morte
Se o Lennon morreu, eu amo ele
Se o Marley se foi, eu me flagelo
Elvis não morreu, mas não vivo sem ele
Kurt Cobain se foi, e eu o venero
A necrofilia da arte
Dá meu endereço a quem não gosto
A necrofilia da arte
Faz compreender quem não conheço
Zunfus Trunchus que eu nem conhecia
Virou meu star no outro dia”
Bem isso Carol, boa!
GostarGostar
[…] 2. A morte de Chorão e a necrofilia da arte […]
GostarGostar