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Carol Govari Nunes@carolgnunes

É lógico que isso aconteceria e eu não sei como ainda me espanto: a vida turbulenta de Amy Winehouse continua fazendo mais sucesso do que a sua carreira como cantora, mesmo depois de sua morte. Ou seria principalmente depois de sua morte? Poucos comentam sobre os Grammys, sobre os geniais CD/DVD “Back To Black” e “I told you I was a trouble”.

Um artista fica mais famoso pela sua arte ou pela sua vida pessoal?

Amy Winehouse é sem dúvida alguma a maior artista de sua geração (Foto: divulgação)

Notícias sobre escândalos e drogas vendem muito mais que a arte em si. As retrospectivas que aparecem na televisão sobre a vida da cantora mostram toda a lista de drogas que ela usou e quando ela esqueceu letras e caiu no palco. Nada de composições nem sobre as performances impecáveis que ela fez. A imprensa pega pesado. Eu sei que Amy deu o que falar, mas acho que está na hora de deixarem a guria descansar em paz.

Aí eu lembrei de uma crônica que a Martha Medeiros escreveu sobre o John Lennon que falava alguma coisa sobre isso, e o que ela escreveu vem a calhar também sobre a Amy Winehouse, alguém cuja versão musical dos fatos é muito mais interessante:

“O que me trouxe para este assunto e que ficou claro para mim que a arte é sempre superior ao artista, e que a angústia deste e igualar-se a imagem que projeta, um desafio desumano e inalcançável. A arte é soberana, o artista e um reles mortal. A arte emociona, o artista resmunga. A arte e única, e o artista tem os mesmos defeitos que a gente.

Uma atuação no palco sempre será mais digna do que uma briga de bar, uma letra de música sempre comoverá mais do que uma conversa por telefone, um bom quadro vale mais do que uma polaroide. A arte transcende, e o artista que tenta levar esta transcendência para seu dia a dia torna-se patético, vira personagem de si mesmo. Artistas comem omelete, vão ao banheiro, espirram, tem medo de assalto. E só são felizes quando não colocam em atrito sua genialidade com sua desoladora humanidade.

(…) A arte é o que conta, é o que fica, é o que não morre, e o artista nunca e páreo pra ela. (…) Na dúvida, fico com a versão musical dos fatos.”

E isso é só uma questão a ser refletida. Há quem diga que “ela colheu o que plantou” e coisas desse tipo, mas sei lá. Eu não estou aqui para julgar ninguém, e acho que você também não deveria estar.