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Carol Govari Nunes@carolgnunes

Hoje completa um ano da morte de Amy Winehouse, a brilhante cantora e compositora que viveu de excessos e partiu cedo demais. Amy foi uma dessas pessoas que muita gente virou fã mesmo não apoiando o estilo de vida que a britânica levava fora do palco. Eu, por exemplo, logo após sua morte, escrevi algumas linhas sobre a versão musical dos fatos que me fez ser afoitamente apaixonada por Amy, em contraponto aos escândalos sobre suas internações, brigas com fãs e policiais que certamente não me atraíram nem um pouco e que, aliás, nunca me interessaram. A privacidade de Amy Winehouse nunca foi da minha conta, mas como era impossível não saber o que ela aprontava só me restava lamentar e torcer pra que aquele cérebro de composições singulares tomasse algum jeito e continuasse funcionando por mais tempo.

Pois bem, minhas preces não adiantaram (nem as de ninguém) e aos 27 anos seu corpo não aguentou mais.

É inegável que Amy Winehouse foi um dos melhores acontecimentos musicais dos últimos anos e isso não vai ser apagado, pois os discos que ela deixou serão lembrados por muito tempo. Afinal, não é todo dia que uma garota charmosa, com repertório classudo, influências mais classudas ainda, personalidade única e vergonha alguma de expor seus sentimentos em canções aparece por aí.

Ninguém vai substituir a voz de Amy Winehouse, assim como ninguém substituiu Elis Regina e Janis Joplin, apenas citando alguns exemplos. A propósito, que tola mania essa de falar em “substituição” ou algo do gênero. Lembro de falaram que Adele surgiu para continuar o legado de Amy Winehouse. Ora, se isso tem cabimento. Cada cantora em/com seu canto e sem comparações, por favor.

O que me irrita (e vai me irritar mais ainda no dia de hoje) é essa codependência que o público tem com a vida particular dos artistas – por grande culpa da imprensa que alimenta isso, logicamente. Poucos especiais que virão a passar essa semana focarão somente na carreira musical de Amy, muitos vão incluir seus vexames e a decadência de sua saúde.  Eu sei, faz parte, mas aí eu pergunto: o que isso contribui pra arte? O que isso tem a ver com a gente? Se meu vizinho de baixo tomar litros de vodka com tranquilizantes para cavalos durante o almoço o problema é dele. Pode parecer individualismo da minha parte, mas eu aprendi que cada um tem seu livre arbítrio pra fazer o que quiser da própria vida. O máximo que podemos fazer é dar alguns pitacos – e olhe lá! – na vida de alguém próximo da gente, mas não na vida de artistas ingleses que nunca souberam da nossa existência.

Então deixa pra lá como foi o “fim de Amy”, hoje é um dia para homenagear uma das maiores cantoras da nossa época.

Carol Govari Nunes@carolgnunes

É lógico que isso aconteceria e eu não sei como ainda me espanto: a vida turbulenta de Amy Winehouse continua fazendo mais sucesso do que a sua carreira como cantora, mesmo depois de sua morte. Ou seria principalmente depois de sua morte? Poucos comentam sobre os Grammys, sobre os geniais CD/DVD “Back To Black” e “I told you I was a trouble”.

Um artista fica mais famoso pela sua arte ou pela sua vida pessoal?

Amy Winehouse é sem dúvida alguma a maior artista de sua geração (Foto: divulgação)

Notícias sobre escândalos e drogas vendem muito mais que a arte em si. As retrospectivas que aparecem na televisão sobre a vida da cantora mostram toda a lista de drogas que ela usou e quando ela esqueceu letras e caiu no palco. Nada de composições nem sobre as performances impecáveis que ela fez. A imprensa pega pesado. Eu sei que Amy deu o que falar, mas acho que está na hora de deixarem a guria descansar em paz.

Aí eu lembrei de uma crônica que a Martha Medeiros escreveu sobre o John Lennon que falava alguma coisa sobre isso, e o que ela escreveu vem a calhar também sobre a Amy Winehouse, alguém cuja versão musical dos fatos é muito mais interessante:

“O que me trouxe para este assunto e que ficou claro para mim que a arte é sempre superior ao artista, e que a angústia deste e igualar-se a imagem que projeta, um desafio desumano e inalcançável. A arte é soberana, o artista e um reles mortal. A arte emociona, o artista resmunga. A arte e única, e o artista tem os mesmos defeitos que a gente.

Uma atuação no palco sempre será mais digna do que uma briga de bar, uma letra de música sempre comoverá mais do que uma conversa por telefone, um bom quadro vale mais do que uma polaroide. A arte transcende, e o artista que tenta levar esta transcendência para seu dia a dia torna-se patético, vira personagem de si mesmo. Artistas comem omelete, vão ao banheiro, espirram, tem medo de assalto. E só são felizes quando não colocam em atrito sua genialidade com sua desoladora humanidade.

(…) A arte é o que conta, é o que fica, é o que não morre, e o artista nunca e páreo pra ela. (…) Na dúvida, fico com a versão musical dos fatos.”

E isso é só uma questão a ser refletida. Há quem diga que “ela colheu o que plantou” e coisas desse tipo, mas sei lá. Eu não estou aqui para julgar ninguém, e acho que você também não deveria estar.