Quando eu cheguei na Olelê Music para conversar com o Leandro “Lelê” Bortholacci sobre ‘qualquer coisa que ele quisesse me contar sobre a cena musical de Porto Alegre’, já que eu estava procurando algo que me interessasse para pesquisar, jamais imaginei que chegaríamos ao Costa do Marfim. Comentei, sem pretensão alguma, que eu era integrante de um projeto de pesquisa que fazia um mapeamento das cenas musicais de Porto Alegre e Manchester, e então ele me mostrou algumas músicas do novo disco da Cachorro Grande (uns quatro meses antes do lançamento), o qual tinha “uma pegada Manchester”, como ele mesmo disse ao dar play nas músicas.
Este parágrafo acima inicia o artigo Costa do Marfim: a repaginação da banda Cachorro Grande, publicado nos anais do II Congresso Internacional de Estudos do Rock, em 2015. Foi nesse escritório na Lopo Gonçalves, em Porto Alegre, que eu conheci o Lelê. E que também encontrei o meu objeto de dissertação de mestrado. Muito tempo se passou, defendi minha dissertação – que óbvio, foi sobre a Cachorro Grande –, a transformei em um livro, fiz um doutorado e segui meu caminho na área acadêmica. (Nunca pensei em fazer nada fora da academia – tenho este blog por pura necessidade de escrever sobre shows, porque é escrevendo sobre os shows que eu os entendo. Sei lá por que eu preciso entender um show. Se eu não escrevo, parece que o show fica entalado dentro de mim. Inclusive, sem shows, esse blog ficou entregue às moscas, com um textinho ou outro.)
Ainda durante o doutorado, recebi um convite do Lelê para colocar um projeto na rua. O nome? EU QUERO SER SEU AMIGO DE NOVO. Ele explicou a ideia, eu fiquei tri empolgada. O projeto foi tomando diferentes formas, ficou um tempo na gaveta, até que, um dia, durante a primeira temporada da pandemia, recebi uma ligação dele perguntando se eu topava fazer um podcast sobre a história da Olelê, mais ou menos na mesma pegada do que já estávamos conversando. Imediatamente respondi “CLARO!” – afinal, escrevo sobre todas as bandas que a Olelê produziu durante suas quase duas décadas de atuação no mercado. Na hora, não pensei num detalhe: eu escrevo sobre as bandas, eu não falo sobre as bandas. Minha comunicação é totalmente através da escrita, e por mais que eu tenha facilidade em dar aulas, palestras, e apresentar trabalhos, é totalmente diferente de gravar um podcast. Mas tudo bem, né? Afinal, eu já tinha tido algumas experiências na extinta rádio Unisinos, inclusive apresentando programa (o Divã Pop, que depois virou o podcast do Cultpop), então beleza, tranquilo, vamos lá.
Pois bem: fomos na Cubo Filmes, produtora audiovisual responsável pelas gravações do podcast, e aí eu descobri que o programa seria gravado e veiculado também em vídeo, nesses formatos mesacast. Travei, óbvio. Expliquei para o Lelê sobre o meu desconforto em frente às câmeras (não à toa este blog se chama backstage; holofotes – especialmente se forem três, gigantes, me iluminando – me deixam mais introvertida do que eu já sou) e ele foi muito paciente nesse processo. Não que tenha melhorado muito, mas aprendi a lidar com aquela luz toda. Depois de algumas gravações eu consegui fingir naturalidade e até olhar para a câmera. Um avanço e tanto. Mesmo que eu tope fazer tudo e qualquer coisa que envolva música, me peguei pensando se eu era a pessoa indicada pra apresentar o programa com o Lelê. Acho que o Lelê confia no meu trabalho porque sacou um negócio que eu demorei umas oito gravações para sacar: eu sou fã, jornalista e pesquisadora de todas essas bandas – ou seja, vou do afetivo ao profissional, vi milhares de shows, sei todos os discos de trás pra frente, tenho muita proximidade com os músicos, mas também consigo ter um distanciamento na hora de escrever (ops); todas essas instâncias (afetiva, jornalística e científica) são meio misturadas, mas funcionam muito bem.
Além disso, somos de gerações diferentes, temos experiências diferentes, e consequentemente temos visões diferentes sobre essas décadas de história. E é sobre isso que o Eu Quero Ser Seu Amigo de Novo vai falar: histórias. Causos, tretas, separações, reconciliações, tudo sendo contado por quem vivenciou esses acontecimentos. Eu ali, ouvindo, cavocando nos arquivos do Lelê – porque, sim, peguei todo o arquivo físico dele para digitalizar, e, para quem pesquisa memória, isso é um parque de diversões! –, relembrando coisas antigas e descobrindo muuuuitas coisas novas, também.
O programa vai estrear em março, na Cubo Play, plataforma da Cubo Filmes, e também nas principais plataformas de streaming.
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Que massa!
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