Carol Govari Nunes – @carolgnunes
Os tempos estão mudando, a repressão ainda ta pegando, a galera ta se pronunciando, mas a nossa liberdade não é total, a gente sabe. Não digo só a liberdade do país, que ta querendo nos atar cada vez mais com projetos de leis inacreditáveis, mas a liberdade individual de cada um. Muita coisa nos prende internamente, mas já são tantas as prisões externas que acredito que não devemos cultivar as internas.
Não vou me deter no assunto dos protestos, das leis, da copa, mas tudo isso me levou a pensar em liberdade. Fico pensando por quanto tempo a gente se acorrenta a definições, a escolhas, a identidades. Hall (2006) disse que não existe uma identidade unificada, que “se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu””. Woodward (2000) também falou que a diferença pode ser concebida como princípio da diversidade, heterogeneidade e hibridismo, o que vem a enriquecer as identidades. É lógico que em algum momento isso apareceria no meu texto – estou finalizando um TCC e não leio outra coisa senão estudos sobre identidade, diferença e o enriquecimento cultural que essa mistura pode causar. Mas também não vou me aprofundar (tanto) nesse assunto.
Sendo assim, preciso contar que hoje eu me apaixonei novamente.
Não por uma nova pessoa, mas por uma nova música. A música não é uma mistura, apesar de a intérprete vir de outras raízes. Falando em raízes, lembrei que raízes também podem nos acorrentar. Raízes ou certezas, tanto faz. Eu tenho as minhas, tu provavelmente também tenha as tuas. Eu sou isso, sou contra aquilo, sou a favor disso, só canto esse estilo de música, detesto aquele outro estilo. Isso dá segurança para a gente e para os outros, é muito mais cômodo não trocar de hábitos, não adquirir outros gostos, não infringir as identidades que os outros já construíram sobre nós, mas eu gosto de pensar, repensar, voltar atrás, ir para o lado, mudar de objetos de estudo e de direção. Também gosto de pessoas assim: pessoas que dão a cara à tapa, pessoas que se atrevem a trabalhar longe da sua zona de conforto, pessoas que não pisam em ovos, pessoas diretas, pessoas confortáveis, sim, mas com situações diferentes. E Pitty me pareceu extremamente confortável cantando “Roda Ciranda” (Martinho da Vila) – tão confortável que fez com que eu me apaixonasse novamente por sua voz. Sua personalidade firme atrelada à malemolência e doçura do samba de Martinho da Vila resultou numa mistura encantadora.
Perceba que eu me perco entre suave, firme, confortável, doce. Bom, tire suas próprias conclusões. Conhecer músicas (e coisas) novas, pensar, ouvir, observar, se atrever – tudo isso já é um ensaio de liberdade. E olha que daqui a pouco vão começar a nos cobrar por esse ensaio de liberdade (tomara que não, entretanto, não ando muito confiante no mundo). Do jeito que a coisa ta, um samba vai bem para alegrar =)
Essa música faz parte do Sambabook, projeto em comemoração aos 75 anos de idade e 45 anos de carreira do Martinho da Vila. Vale conferir, tem uma galera massa.