Carol Govari Nunes – @carolgnunes
Conceituada lá fora, chegou ao Brasil uma revista que fala sobre arte, cultura pop, moda e principalmente sobre tatuagens: a revista Inked. E nada menos que a cantora Pitty para estampar a capa da edição de lançamento da revista.
Adoro tatuagens, embora ainda não tenha nenhuma no meu corpo. Acho que dá um toque de personalidade em quem as tem. Gosto bastante das que não ficam muito a mostra, mas isso é outro assunto.
Não é para falar de tatuagens, este texto. É para falar do mistério provocado por fotos não tão objetivas assim. Não me chamam a atenção pessoas sem mistério, gosto daqueles que falam de menos, eles tem um quê meio perigoso e atraente. Gosto de fotos com essas mesmas características, também.
Pitty, nas páginas da Inked, revelou suas generosas curvas (e tatuagens, para não fugir do tema da revista) em fotos que, em dias que a nudez é tratada com total banalização, elevam o conceito de erotismo. Sabe aquela foto “vou perturbar sua imaginação?” Pois é. Olhando cuidadosamente cada detalhe, há fotos que revelam algo que passa batido aos desprovidos de atenção.
Certa vez, li no artigo “A escrita em si na correspondência de Clarice Lispector” uma frase que Clarice escreveu para Fernando Sabino: “Falta demônio nessa cidade”. Boa definição. Se faltava demônio em Berna, onde Clarice morava na época em que escreveu tais cartas, posso dizer que há demônio na Inked e que falta demônio na Boa Forma.
Há demônio nas fotos em que você tenta desvendar o que quase não aparece, falta demônio nas fotos da Playboy. Tem mais demônio no olhar da Pitty do que na bunda da Cléo Pires. Sou do time dos que preferem aquilo que tem estoque, aos que expõem tudo na vitrine. E estoque, mais uma vez, a Pitty mostrou que tem.
E eu, assim como Clarice, “termino mesmo dando um grito e comendo o primeiro boi de alma doente que eu encontrar; falta demônio na cidade”.

